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    Variante sul-africana em SP provavelmente veio da Europa e pode duelar com P.1

    Segundo Butantan, variante veio da Europa no fim de 2020 e infectou uma mulher em Sorocaba

    Por Pedro Fonseca, da Reuters

    O primeiro caso da variante sul-africana do coronavírus detectado no Brasil provavelmente teve origem em alguém na Europa no fim do ano passado e passou por uma cadeia de pessoas até infectar uma mulher em Sorocaba (SP), afirmaram pesquisadores do Instituto Butantan, que anteciparam um possível “duelo” entre a linhagem da África do Sul e a variante brasileira P.1 no país.

    Considerada uma variante de preocupação do coronavírus, assim como a P.1, por ser mais transmissível do que a versão original do vírus, a linhagem sul-africana foi identificada na semana passada em uma mulher, na casa dos 30 anos, na cidade do sudeste paulista. De família simples, ela não viajou para fora do país e não teve contato com alguém que tenha vindo do exterior recentemente, o que significa que contraiu o vírus localmente, segundo os pesquisadores.

    Inicialmente, o Instituto Butantan havia anunciado a descoberta de uma variante “assemelhada à da África do Sul”, afirmando que poderia ser, inclusive, uma mutação da P.1. Análises subsequentes da Rede de Alerta das Variantes de Covid-19 do Instituto Butantan, no entanto, confirmaram se tratar da própria linhagem originada no país africano.

    “É a variante da África do Sul”, disse Maria Carolina Sabbaga, cientista e uma das coordenadoras da Rede. “A gente passou um pente-fino e chegamos à conclusão de que era mesmo a variante da África do Sul. É o primeiro caso no Brasil”, afirmou.

    A pesquisa do Butantan, que faz parte de um esforço do Brasil de ampliar o monitoramento genético do coronavírus em meio ao avanço de diferentes variantes durante o pior momento da pandemia no país, mostrou que a linhagem ancestral do vírus que contaminou a mulher de Sorocaba teve origem provavelmente na Europa entre meados de outubro e final de dezembro do ano passado.

    Como a brasileira portadora da variante só registrou sintomas de Covid em março, a linhagem do vírus que chegou a Sorocaba provavelmente passou por diversas pessoas, podendo ter circulado por diferentes países, e contaminou ao menos mais uma pessoa no Brasil, segundo a pesquisa.

    “Até agora, ainda não conseguimos identificar a cadeia de ligação de pessoa a pessoa até chegar a essa mulher de Sorocaba. O que podemos dizer é que o ancestral comum dessa linhagem surgiu em algum momento de meio de outubro até o final de dezembro, e que dos genomas depositados em bancos de dados online, a origem dessa linha de transmissão seria provavelmente de uma pessoa da Europa”, disse José Patané, bioinformata e pesquisador associado ao Butantan.

    Patané explicou que a linhagem sul-africana já foi identificada no total em 68 países, e que a análise de parentesco dos genomas apontou que os mais próximos ao caso de Sorocaba disponíveis são de casos europeus.

    A Rede do Butantan confirmou a tendência já revelada por estudos anteriores de genoma no país sobre a predominância da P.1, também conhecida como variante de Manaus, que teve origem na capital do Amazonas no fim do ano passado. A primeira divulgação do grupo apontou para 67% de casos da P.1 no Estado de São Paulo.

    A circulação da variante P.1 tem sido apontada como um dos fatores responsáveis pelo agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, país que se tornou o mais letal atualmente, sendo responsável por uma de cada quatro mortes pela doença no planeta.

    Segundo Sabbaga, a chegada da variante sul-africana ao Brasil pode levar a uma disputa entre as duas cepas pela predominância no Brasil.

    “A gente não sabe o que vai acontecer no Brasil, pode ser um grande duelo. Mas acho que a P.1 já tomou conta, não sei se a sul-africana vai se sobrepor à P.1, vamos ver”, afirmou.

    A pesquisadora lembrou ainda os riscos de surgimento de novas variantes mediante a elevada transmissão da doença no Brasil, como já aconteceu com a P.1 e com a P.2, uma variante originada no Rio de Janeiro, mas que tem perdido força.

    “As mutações são naturais do vírus, cada vez que duplica dentro da gente ele faz erros, e esses erros são as causas dos aparecimentos das variantes”, disse.

    “Vão aparecer variantes que não vão dar conta de ficar entre nós e vão morrer, e podem aparecer variantes mais perigosas, e podem aparecer variantes mais adaptáveis, no sentido de contaminar mas não matar, porque para o vírus também não é negócio matar”.

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