Variações do sistema imunológico podem prever casos graves de Covid-19
Estudo acompanhou evolução de 113 pacientes internados por causa do novo coronavírus
Diferentes respostas do sistema imunológico de pacientes com Covid-19 podem ajudar a prever quem sofrerá consequências mais severas da doença, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores nos Estados Unidos.
Os resultados podem ajudar na identificação de indivíduos com alto risco de doença grave no início de sua hospitalização. A pesquisa conta com a participação de dois cientistas brasileiros: Carolina Lucas, do departamento de Imunobiologia da Universidade de Yale, e Tiago Castro, do Laboratório de Imunobiologia da Rockfeller University.
Os pesquisadores observaram o quadro de 113 pacientes internados no Hospital Yale New Haven, analisando as diferentes respostas imunológicas exibidas durante a internação, desde a admissão até a alta ou a morte. Eles descobriram que, no início do curso da doença, os pacientes compartilhavam uma “assinatura” comum da Covid-19 na atividade do sistema imunológico.
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Entretanto, aqueles que apresentaram apenas sintomas moderados exibiram respostas decrescentes do sistema imunológico, com queda da carga viral ao longo do tempo. Os pacientes que desenvolveram casos graves da doença não mostraram diminuição da carga viral ou reação do sistema imunológico. Dessa maneira, os pesquisadores encontraram indicadores que previam, mesmo no início do tratamento, quais pacientes corriam maior risco de desenvolver formas graves da doença.
“Conseguimos retirar assinaturas de risco de doença”, disse Akiko Iwasaki, professor de Imunobiologia e Biologia Molecular, Celular e de Desenvolvimento e pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, Waldemar Von Zedtwitz. Os pesquisadores sabiam que o sistema imunológico desencadeou uma “tempestade de citocinas”, maciça e prejudicial em casos graves de Covid-19.
A pesquisa encontrou condições correlatas para quadros ruins. Um fator de risco foi a presença de “interferon alfa”, uma citocina mobilizada para combater patógenos virais, como o vírus da gripe. Curiosamente, os pacientes com altos níveis de “interferon alfa” apresentaram pior recuperação. “Esse vírus parece não se importar com o interferon alfa”, disse Iwasaki. “A citocina parece estar prejudicando, não ajudando.”
Outro prognóstico precoce de casos graves é a ativação do inflamassoma, um complexo de proteínas que detecta patógenos e desencadeia uma resposta inflamatória à infecção. A ativação do inflamassoma foi associada a complicações e mortes em diversos pacientes, segundo o estudo. Além disso, o estudo concluiu que pessoas com altos níveis de fatores de crescimento — um tipo de citocina que repara os danos nos tecidos dos revestimentos dos vasos sanguíneos e pulmões, respondem melhor à infecção.