Como o uso excessivo de celular impacta na alternância de humor das crianças
Coordenadora do Grupo de Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Evelyn Eisenstein, afirma que não existe uma idade ideal para introduzir o uso desses aparelhos na vida de crianças, sendo recomendado o estabelecimento de limites por pais e cuidadores
A ampla utilização das redes sociais e a multiplicação do acesso aos vários aplicativos e jogos online direcionados às crianças e adolescentes prolongam o tempo de utilização de equipamentos como celulares e tablets.
Um levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que os moradores das capitais brasileiras e do Distrito Federal aumentaram o tempo gasto no lazer em celular, computador ou tablet de 1,7 para 2 horas por dia, entre 2016 e 2021.
A coordenadora do Grupo de Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Evelyn Eisenstein, afirma que não existe uma idade ideal para introduzir o uso desses aparelhos na vida de crianças, sendo recomendado o estabelecimento de limites por pais e cuidadores.
“O problema é: o que essa criança está deixando de fazer para ficar sob a tela? Sempre que possível, a criança tem de brincar, porque é por meio da brincadeira que ela desenvolve suas habilidades psicomotoras. Quando a criança deixa de fazer, por exemplo, o que chamamos de rotina de casa, como tomar banho, pula refeições e quer ficar o tempo todo no celular, ela vai criando uma patologia, doença mesmo, que é a dependência do mundo digital”, diz Evelyn em comunicado.
Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, feita com crianças e adolescentes sobre o acesso e uso da rede, revela que houve um crescimento significativo na proporção de usuários da rede na faixa de 9 e 10 anos (92% em 2021, frente a 79% em 2019).
“De um lado, a gente fala que é bom, claro. Mas, como pediatra, tenho que falar dos riscos. Existe o outro lado das telas, o dos riscos à saúde”, afirma.
A médica afirma que a dependência digital é um processo que torna a criança mais “acelerada”, porque provoca uma alternância de humor, em que a criança fica mais irritada ou mais chorosa. “Isso está relacionado à liberação de dopamina, um neurotransmissor cerebral que deixa a criança reagindo assim”, detalha.
Além disso, o comportamento dos pais tem influência direta no consumo digital dos filhos, explica a pediatra. “Estamos falando cada vez mais de os pais desconectarem e caminharem com seus filhos. Aproveitar, por exemplo, o fim de semana com um passeio ao ar livre. Os pais que estão conectados o tempo todo servem como modelo referencial para a criança e nem percebem o risco. Dessa maneira, vai se criando uma codependência”, diz Evelyn.
Recomendações
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elenca algumas recomendações sobre o uso de telas por crianças e adolescentes.
O tempo de uso diário de tecnologia digital deve ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento das crianças e adolescentes. Além disso, pais e cuidadores devem desencorajar, evitar e até proibir a exposição passiva em frente às telas digitais, com exposição aos conteúdos inapropriados de filmes e vídeos, para crianças com menos de 2 anos, principalmente, durante as horas das refeições ou 1 a 2 horas antes de dormir.
A manutenção da saúde do sono em horário adequado para cada faixa etária, bem como o número de horas, contribui para o descanso e para a produção de hormônios, de maneira fisiológica.
A SBP recomenda ainda a priorização de uma alimentação regular e com horários para café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar, bem como atenção para qualidade não só nutricional, mas sem excesso calórico. Além de tempo para que crianças e adolescentes façam alguma atividade física regular, exercícios ou brincadeiras com movimentos ativos.
De acordo com a SBP, a dependência digital e o excesso da exposição aos recursos tecnológicos podem levar a problemas como:
- Danos à saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão;
- transtornos do déficit de atenção e hiperatividade;
- distúrbios do sono;
- transtornos de alimentação, como sobrepeso ou obesidade e anorexia ou bulimia
- sedentarismo e falta da prática de exercícios;
- bullying e cyberbullying;
- problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador;
- problemas auditivos, como perda auditiva induzida pelo ruído,
- e transtornos posturais.