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    Um ano de pandemia: é hora de fazermos um balanço de nossa saúde mental

    É preciso avaliar as lições aprendidas ao longo da pandemia e implementá-las, na medida do possível, nossa nova vida normal

    Por John Duffy, CNN

    Eu passei a semana do dia 9 de março de 2020, no meu consultório, sentado em frente aos meus pacientes, um após o outro.

    Conversamos sobre problemas de relacionamento, depressão, ansiedade, e outros fatores estressantes da vida cotidiana. Sem distanciamento, sem máscaras.

    Havia uma vaga ideia de uma pandemia iminente. Mas sentíamos que, se algo acontecesse dessa ameaça, provavelmente seria um transtorno para nossas vidas por uma ou duas semanas, e então viraria história e logo seria esquecida. Na verdade, a novela do coronavírus mal apareceu nas minhas sessões daquela semana.

    Essa foi a época em que chamo de “Tempos Antigos”. As semanas seguintes foram desorientadoras e assustadoras, ao contrário do que a maioria de nós experimentou em toda a vida. Em uma sessão do Zoom na semana seguinte – a primeira semana em que ouvi falar do Zoom, baixando-o para o meu trabalho – comparei a quarentena ao 11 de setembro, ao falar com uma de minhas clientes adolescentes. Ela rapidamente apontou uma diferença muito importante.

    Em 2001, estávamos reagindo. Ao final daquele dia assustador, o estrago estava feito. Em março de 2020, como ela disse: “Essa é a primeira cena do filme mais assustador. Sabemos que há um monstro debaixo da cama que vai matar pessoas e causar destruição. Só não sabemos o quão ruim isso vai ficar”.

    Durante os primeiros meses da crise, estivemos em alerta máximo coletivo. As sessões de terapia instantaneamente se tornaram discussões sobre como controlar o medo e a ansiedade da vida pandêmica, para meus clientes e suas famílias – e para mim também. Com todas as mudanças repentinas, incluindo salas de aula remotas, o estabelecimento de protocolos para trabalhar de casa e a criação de novas normas sociais, estávamos todos fora de nosso contexto usual e fora de ordem.

    Perdemos tanto neste ano de devastação, tantos dos marcadores normais da vida que considerávamos como garantidos. Perdemos formaturas, feriados, temporadas dos esportes, peças de teatro, casamentos, funerais, abraços, espontaneidade e apenas nos relacionamos cara a cara com amigos e família. Muitos de nós perdemos pessoas que amamos.

    Enquanto isso, a negatividade e o julgamento estão em alta, com quase todas as questões sendo politizadas, até o uso de máscaras. Como resultado, as pessoas se sentem desconectadas e isoladas. Mais e mais clientes relatam ter experimentado um maior senso de dúvida do que nunca. Muitos de nós sentimos um grau de desesperança e desespero que não poderíamos ter imaginado um ano atrás.

    Nesta semana de aniversário da pandemia, muitos de nós sentimos que nos restou muito pouco dos bons elementos de nossas vidas. Que diferença enorme um ano faz. O que vem a seguir?

    Com as vacinas sendo amplamente distribuídas e um novo normal aparentemente se aproximando, aos trancos e barrancos, ao longo do próximo ano, o que podemos fazer para nos controlar melhor emocionalmente e até mesmo prosperar?

    Podemos fazer uma reinicialização forçada

    Livros lançados há anos fazem sucesso entre leitoras na atualidade
    É importante refletir acerca das mudanças proporcionadas pela pandemia e o que aprendemos diante disso
    Foto: Gettyimages

    Muitos de nós experimentamos algumas revelações sobre nossas vidas enquanto a pandemia seguia seu curso.

    Talvez tenhamos percebido que passamos horas demais no escritório, desnecessariamente. Para aqueles que estão fazendo o distanciamento social em casa, talvez tenhamos aprendido que realmente nos beneficiamos de muito mais tempo juntos em família, e que as contas bancárias emocionais que compartilhamos estão desfrutando de saldos maiores do que, quem sabe, já tiveram antes.

    Por meio da união forçada, talvez tenhamos descoberto involuntariamente que precisamos de mais tempo sozinhos, lendo, ouvindo música, meditando ou apenas sentados em silêncio.

    Recomendo enfaticamente que você avalie as lições que aprendeu ao longo da pandemia e as implemente, na medida do possível, em sua nova vida normal.

    Indo da inércia ao movimento

    Todos nós sabemos que o movimento é um componente crítico para nosso bem-estar físico, mas também fortalece nossa saúde emocional.

    À medida em que a pandemia se aproxima do “Ano 2”, muitos de nós nos tornamos cada vez mais inertes, permitindo que nossa energia ansiosa permaneça em nossos corpos. É crucial nos movimentar, quer você caminhe, corra, se alongue ou pedale na bicicleta ergométrica que está acumulando poeira no porão.

    Você não precisa ser um esportista olímpico, mas se beneficiará com o movimento todos os dias. Dê uma volta no quarteirão. Depois, duas. Faça uma promessa a si mesmo.

    Encontre um significado e aja

    Muitos de meus clientes me dizem que atingiram não apenas uma parede pandêmica de fadiga e ansiedade, mas uma crise existencial relacionada ao significado de suas vidas. A oportunidade aqui é aprender com o que você foi atraído ao longo do ano passado e com o que você perdeu. Faça um inventário dessas diretrizes para ajudar a conduzir sua tomada de decisão no próximo ano. E depois de se olhar para dentro, faça um plano e entre em ação.

    Tenho uma cliente que está mudando de carreira, de bancária para consultora, decidindo que gostaria que o trabalho de sua vida envolvesse ajudar os outros. Outra cliente percebeu que sempre lamentou não ter aprendido a tocar um instrumento musical. Ela está fazendo aulas de violino, virtualmente por enquanto, e realmente aproveitando e encontrando um significado no processo. E, finalmente, estou trabalhando com um casal que estava à beira do divórcio há um ano. Eles decidiram reinvestir em seu relacionamento e estão tentando diligentemente fazer com que funcione.

    Busque ajuda

    Saúde mental
    Reflita acerca das prioridades dessa nova forma de vida criada pela pandemia e dê novos significados aos antigos hábitos
    Foto: Nik Shuliahin via UnSplash

    Assistimos a um movimento para remover o estigma das doenças mentais nos últimos anos.

    Celebridades declararam que sofrem de depressão, ansiedade, transtorno alimentar ou alguma outra doença emocional. De fato, os grupos de apoio têm crescido em todas as plataformas de mídia social. A pandemia amplificou essas vozes. E quase todos os terapeutas que conheço relataram que estavam trabalhando durante todo o ano passado, uma indicação de que mais pessoas, de todas as idades, estão abertas à terapia durante um período difícil.

    Se você está lutando ou tem uma sensação incômoda de que há algo que gostaria de abordar, eu o encorajaria a procurar terapia, para você e, possivelmente para seus filhos, regularmente.  

    Trate a saúde mental como a saúde física e trabalhe não apenas para tratar doenças emocionais, mas para manter o bem-estar emocional. Espero que daqui a um ano, descubramos que essa tendência de começar a tratar a saúde mental é uma mudança que persiste.

    Nota do editor: John Duffy é psicólogo de Chicago, autor de “Cuidando do Novo Adolescente na Era da Ansiedade”. Ele se especializou no trabalho com adolescentes, pais, casais e famílias. Esse texto é uma tradução. Para ler a versão original, clique aqui.

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