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    Transplante inédito de traqueia é feito em mulher de 56 anos em Nova York

    Cirurgia pode oferecer esperanças para pessoas com graves danos de intubação após a infecção por Covid-19

    Sonia Sein (centro) recebeu transplante de traqueia no hospital Mount Sinai, em Nova York
    Sonia Sein (centro) recebeu transplante de traqueia no hospital Mount Sinai, em Nova York Foto: Marshall Ritzel/AP

    David Williams, da CNN

    Depois de anos lutando para respirar e temendo que pudesse sufocar durante o sono, Sonia Sein se sente bem o suficiente para dançar com seus netos depois de passar pelo primeiro transplante de traqueia humana no hospital Mount Sinai, em Nova York.

    “Para mim, parecia que logo depois, eu era capaz de respirar. Quando respirei pela primeira vez, foi o paraíso”, disse Sein, que passou pela cirurgia que mudou sua vida em janeiro.

    A traqueia da ex-assistente social de 56 anos foi danificada em 2014, quando ela teve que usar um respirador por causa de um forte ataque de asma.

    Sein passou por várias cirurgias na esperança de corrigir o problema, mas isso causou ainda mais danos às suas vias respiratórias. Ela respirava por um orifício criado cirurgicamente em seu pescoço, chamado traqueostomia, e tinha um longo tubo que descia até os pulmões.

    A traqueia é o tubo que conecta a laringe aos pulmões e é essencial para a fala, a respiração e a função pulmonar normal, de acordo com comunicado do Mount Sinai.

    Eric Genden, cirurgião que liderou a equipe de transplante do Mount Sinai, informou que é muito mais complexo do que parece e, por décadas, os especialistas médicos pensaram que os transplantes seriam impossíveis.

    O médico pesquisa transplantes traqueais de segmento longo há 30 anos – uma busca que começou quando ele estava na faculdade de medicina.

    “Mesmo como estudante, era estranho para mim podermos transplantar rins para reconstruir e transplantar fígados e até mesmo corações, mas não havia como transplantar a traqueia”, disse Genden à CNN.

    O maior obstáculo foi descobrir como levar o sangue à traqueia do doador por causa da estrutura complexa do órgão de pequenos vasos sanguíneos.

    A pesquisa de Genden descobriu que vasos sanguíneos maiores – do tamanho de um fio de espaguete – no esôfago e na glândula tireoide podem fornecer fluxo sanguíneo para a traqueia do doador.

    A cirurgia durou cerca de 18 horas e contou com mais de 50 especialistas, incluindo cirurgiões, enfermeiras, anestesiologistas e residentes médicos.

    Genden disse que estão monitorando Sein de perto e ela não mostrou sinais de rejeitar a nova traqueia.

    “Ela realmente se saiu incrivelmente bem, francamente, melhor do que jamais pensávamos que ela faria”, enfatizou Genden. “É realmente interessante que as células dela estão crescendo na traqueia do doador. Portanto, a traqueia do doador está lentamente se tornando sua”.

    Isso significa que eles poderiam eventualmente ser capazes de reduzir a quantidade de tratamento necessária para suprimir seu sistema imunológico e prevenir a rejeição.

    Após o transplante, Sein pode comer e respirar normalmente. Ela ainda tem um acesso na garganta, então os médicos podem inserir uma sonda para examinar o transplante, mas Genden disse que eles conseguem fechar o orifício em algumas semanas.

    Sein tentou se manter ativa antes do transplante, mas foi difícil porque ela teria que limpar e aspirar o tubo de respiração para evitar que entupisse. Usava respirador à noite quando dormia, mas sempre temeu que pudesse estar entupida e não acordasse.

    Ela começou a pesquisar transplantes de traqueia depois que médicos anteriores declararam que não havia mais nada que pudessem fazer.

    “Eu estava com raiva, então comecei a pesquisar, porque pensei que eles deveriam fazer um transplante de traqueia se eles têm transplantes para todo o resto”, disse. “E foi assim que encontrei o doutor Genden”.

    Em 2015, ela considerou entrar em uma casa de repouso se o transplante não fosse viabilizado e até mesmo redigiu a papelada.

    “Eles não viram um bom resultado e eu não queria que minha família sofresse por estar doente o tempo todo”, afirmou Sein.

    Segundo Genden, o transplante pode fornecer uma nova esperança aos pacientes que tiveram danos na traqueia causados por queimaduras, defeitos congênitos e permanência prolongada na UTI – incluindo pessoas com graves danos de intubação após a infecção por Covid-19.

    “Não é um tratamento de qualidade de vida”, explicou Genden sobre o transplante. “Isso realmente foi feito para salvar as vidas dos mais gravemente enfermos”.

    David Klassen, diretor médico da United Network for Organ Sharing (Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos), chamou o transplante de “um desenvolvimento realmente empolgante”, mas que ainda é um procedimento experimental de pesquisa e que há muito a ser aprendido sobre os resultados em longo prazo.

    “É um começo emocionante, mas gostaria de enfatizar que é apenas um começo”, disse Klassen.

    As autoridades não divulgaram detalhes sobre o doador, exceto um grupo de aquisição de órgãos que informou que o indivíduo “escolheu dar o presente da vida”.

    Sein diz que está indo à fisioterapia para ficar forte e pode subir e descer escadas muito melhor do que antes.

    Ela está ansiosa pelo aquecimento do tempo, para que possa ir ao parque e brincar no balanço com as sobrinhas. “Eu sou capaz de respirar bem e posso brincar, correr com meus netos e coisas assim, que eu não podia fazer antes”, finaliza.

    (Texto traduzido, leia o original em inglês)