Tipo de adoçante comum aumenta risco de doenças cardiovasculares, diz estudo
Segundo a pesquisa, o eritritol foi associado a um maior risco de coagulação sanguínea, aumentando as chances de AVC e ataque cardíaco entre quem consome o ingrediente em grande quantidade
O eritritol, adoçante natural frequentemente usado como substituto do açúcar para adoçar bebidas e alimentos e conhecido por ser baixo em calorias, pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como ataque cardíaco e derrame. Isso porque ele foi associado a um maior risco de coagulação do sangue, em estudo realizado pela Cleveland Clinic, nos Estados Unidos.
A pesquisa foi publicada no periódico Arteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology, na quinta-feira (8), e faz parte de uma série de análises sobre os efeitos fisiológicos de substitutos comuns do açúcar. No estudo, eles mostraram que o eritritol pode não ser tão seguro quanto considerado pelas agências reguladoras e argumentam que ele deve ser reavaliado como um ingrediente.
O eritritol é um adoçante encontrado naturalmente em alguns tipos de plantas e frutas, como uva, pera e melão, mas também pode ser produzido quimicamente ou biotecnologicamente. Nesse último caso, é feita a hidrólise (quebra de uma molécula em partículas menores) do amido de milho, obtendo-se a glicose que, posteriormente, é fermentada por meio de leveduras, purificada e filtrada.
Esse adoçante é comumente usado adoçar bebidas e alimentos industrializados, além de ser encontrado no mercado como um substituto do açúcar. Ele, normalmente, é indicado para pessoas com restrição ao açúcar na dieta, como pessoas com diabetes, e para quem busca o emagrecimento.
Pela Food and Drug Adminstration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, o eritritol é considerado um ingrediente GRAS (Geralmente Reconhecido como Seguro), o que permite o seu uso sem restrições em produtos alimentícios.
“Muitas sociedades profissionais e clínicos recomendam rotineiramente que pessoas com alto risco cardiovascular – aquelas com obesidade, diabetes ou síndrome metabólica – consumam alimentos que contenham substitutos do açúcar em vez de açúcar”, comenta o autor sênior do estudo e correspondente Stanley Hazen, presidente de Ciências Cardiovasculares e Metabólicas no Lerner Research Institute da Cleveland Clinic e chefe de co-seção de Cardiologia Preventiva, em comunicado à imprensa.
No entanto, ele afirma que as descobertas do estudo “ressaltam a importância de mais estudos clínicos de longo prazo para avaliar a segurança cardiovascular do eritritol e outros substitutos do açúcar”.
Como o estudo foi feito e quais são as principais descobertas?
A atual pesquisa foi feita com base em um estudo anterior feito pela mesma equipe de pesquisadores, publicado no ano passado na Nature Medicine. Naquela época, os cientistas descobriram que pacientes cardíacos com alto consumo de eritritol tinham duas vezes mais chances de sofrer um evento cardíaco grave nos três anos seguintes, em comparação com aqueles pacientes que consumiam menos adoçante.
O estudo anterior também descobriu que adicionar eritritol ao sangue ou às plaquetas dos pacientes aumentava a formação de coágulos, o que pode interromper a passagem de sangue e aumentar o risco de eventos cardiovasculares, como um acidente vascular cerebral (AVC). Esses achados foram confirmados por estudos pré-clínicos.
O novo estudo observou mais diretamente os efeitos nas plaquetas do sangue após a ingestão de eritritol em uma dose tipicamente encontrada em um refrigerante zero açúcar. Em 20 voluntários saudáveis, os pesquisadores descobriram que o nível médio da substância no sangue após a alimentação aumentou mais de mil vezes no grupo que consumiu eritritol em comparação aos seus níveis iniciais.
Além disso, o trabalho revelou que os participantes tiveram um aumento significativo na formação de coágulos sanguíneos após o consumo de eritritol, mas nenhuma mudança foi observada após o consumo de glicose.
“Esta pesquisa levanta algumas preocupações de que uma porção padrão de um alimento ou bebida adoçada com eritritol pode estimular agudamente um efeito direto de formação de coágulos”, afirma o coautor do estudo W. H. Wilson Tang, diretor de pesquisa para Insuficiência Cardíaca e Medicina de Transplante Cardíaco na Cleveland Clinic.
“O eritritol e outros álcoois de açúcar que são comumente usados como substitutos do açúcar devem ser avaliados quanto aos potenciais efeitos de longo prazo na saúde, especialmente quando tais efeitos não são observados com a glicose em si”, completa.
Descoberta reforça outros estudos relacionados aos riscos de adoçantes
Os achados do atual estudo vão ao encontro de outros estudos que já mostraram os potenciais riscos de adoçantes substitutos do açúcar. É o caso de um trabalho recente que associou o alto consumo de xilitol ao maior risco de coagulação sanguínea.
Assim como o eritritol, os trabalhos feitos com a adoção artificial também incluíram estudos de observação em larga escala e demonstraram que altos níveis de xilitol estão associados ao aumento do risco de ataque cardíaco, derrame ou morte nos três anos seguintes.
No entanto, os pesquisadores ressaltam que mais estudos clínicos são necessários para avaliar a segurança do eritritol para a saúde cardiovascular a longo prazo.
“Sinto que escolher guloseimas adoçadas com açúcar ocasionalmente e em pequenas quantidades seria preferível a consumir bebidas e alimentos adoçados com esses álcoois de açúcar, especialmente para pessoas com risco elevado de trombose, como aquelas com doença cardíaca, diabetes ou síndrome metabólica”, observa Hazen.
“A doença cardiovascular se acumula ao longo do tempo, e a doença cardíaca é a principal causa de morte globalmente. Precisamos ter certeza de que os alimentos que comemos não são contribuintes ocultos”, acrescenta.