Teste rápido feito em farmácias tem resultado positivo em 15% dos casos
Especialistas divergem sobre o nível de confiança dos exames feitos em todo o país
Quase 15% dos testes sorológicos rápidos realizados nas farmácias, desde fim de abril até hoje, tiveram resultados positivos para a Covid-19, segundo levantamento da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
Amapá e Ceará, com 38% e 32,9%, respectivamente, foram os Estados com mais infectados. No extremo oposto estão Mato Grosso do Sul (3 3%) e Santa Catarina (3,4%), com a menor incidência da doença.
São Paulo, com 13,8% de resultados positivos, foi o Estado que em que foram aplicados mais testes (29.517), seguido por Minas Gerais (25.623). E, de todas as Unidades da Federação, só em dois Estados as farmácias não oferecem o serviço: no Rio Grande do Norte e em Roraima.
“Estamos avançando bem rápido nesses testes”, afirma o presidente da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto. Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou os exames rápidos, de 28 de abril até 21 de junho, foram realizados 97.486 nas farmácia em todo o País. Destes, 14,87% tiveram resultado positivo e 85,13%, negativos.
Mena Barreto explica que nem todas as farmácias estão aptas a fazer o teste rápido, cujo resultado é conhecido em cerca de 15 a 20 minutos. A aplicação do teste requer profissional treinado e um ambiente de coleta exclusivo.
Das 8.900 farmácias associadas à Abrafarma, 3 mil têm salas para prestação de serviço e, dessas, 569 estão aplicando os testes. “Tem uma parcela delas que não conseguiu a licença, há um descompasso entre o que a gente quer e a burocracia permite.”
Os resultados obtidos nos testes rápidos aplicados pelas farmácias confirmam, na opinião do presidente da Abrafarma, o que está acontecendo nas diferentes regiões do Brasil, com grande incidência da doença em Estados do Norte e Nordeste, por exemplo. Ele pondera, no entanto, que a mostra tem viés, porque quem busca o teste já está desconfiado que teve contato com o vírus.
Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), diz que os resultados agregados desses testes são importantes, pois revelam a dimensão do problema.
Já o médico infectologista Alexandre Barbosa, membro titular da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), não vê serventia nesses exames. Ele diz que o índice de resultado de falso negativo e de falso positivo é muito alto, em torno de 50% a 60%. “A maioria dos testes sorológicos, mesmos os feitos em laboratórios, é muito ruim, serve para jogar dinheiro fora.”
O infectologista explica que os testes sorológicos disponíveis são de primeira geração. Isso quer dizer que os anticorpos detectados ainda são anticorpos descobertos agora, no começo da pandemia, e não são tão específicos ou sensíveis para detectar realmente a presença do Sars-COV2.
A única utilidade desses testes sorológicos, na opinião do médico, seria fazer um inquérito epidemiológico. Isto é, saber a incidência da doença em determinada localidade. Nesse caso, explica, seria necessário fazer uma modelagem matemática que corrigisse os resultados de falso negativo e de falso positivo.
“Lamento e discordo dessa posição”, diz Gouvêa, da CBDL. A entidade que ele preside e outras sociedades médicas e laboratórios, com o apoio da Abrafarma, estão “testando os testes” rápidos disponíveis no mercado brasileiro.
Segundo ele, os resultados obtidos mostram que os testes rápidos têm surpreendido positivamente. “Talvez aqueles que foram produzidos logo de cara não fossem tão bons, mas o que estamos vendo agora talvez não sejam de primeira geração e sejam produtos melhorados.”
Também de acordo com o presidente da CBDL, 80% dos testes têm performance adequada e esses testes cumprem o papel, desde que aplicados pelo profissional adequado e na fase certa da doença.