“Terceira onda vai depender da velocidade da nossa vacinação”, diz João Gabbardo
Coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19 acredita que novo pico da doença só será evitado com a combinação de ações, como testagem de turista
O coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19 no estado de São Paulo, João Gabbardo, concedeu entrevista à CNN nesta segunda-feira (10) e avaliou que uma possível terceira onda do coronavírus só pode ser evitada com a combinação de medidas restritivas — que geraram queda nos indicadores de casos e mortalidade em diversos estados — e avanço da vacinação.
“Esse é um momento crucial, em que os estados estão melhorando os seus indicadores, com redução no número de internações e óbitos. Nós precisamos aproveitar esse período para evitar o risco de uma terceira onda. Uma próxima onda vai depender muito da velocidade da nossa vacinação”, afirmou.
Para Gabbardo, a aceleração do cronograma de vacinação estabelecido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) é um fator determinante para a volta progressiva na normalidade no próximo semestre e a evitabilidade de um novo pico de propagação da doença.
O membro do Centro de Contingência frisou que o país deve conter a possibilidade de ressurgimento de colapsos nos sistemas de saúde a partir do recebimento de grandes lotes com doses de imunizantes no segundo semestre.
Apesar de ter controlado a crise que se instalou em seu sistema de saúde pública, o estado, que tem hoje 78% de taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ainda é o mais afetado em números absolutos pela pandemia no país. São Paulo ultrapassou a marca de 100 mil óbitos no último final de semana e já acumula mais de 3 milhões de casos da doença.
Gabbardo atribui os problemas enfrentados pela população paulista às características geográficas do estado, como o alto adensamento urbano:
“São Paulo tem uma característica muito complexa por ter uma densidade populacional muito significativa. As pessoas têm proximidade física muito maior. Antes da pandemia, a Grande São Paulo tinha um volume no transporte coletivo de 11 milhões de pessoas. Isso mostra qual é a possibilidade de as pessoas terem contato físico. Com os resultados das pesquisas, aprendemos muito sobre como funciona a transmissão dessa doença”
“CPI aumentou o interesse do governo na vacinação”
Para o coordenador do Centro de Contigência da Covid-19 em São Paulo, a troca de comando no Ministério da Saúde e a chegada da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia despertou no governo federal a necessidade de agir. “O país hoje trabalha com muito mais preocupação e interesse na vacina”, disse.
Segundo Gabbardo, a União só teria passado a demonstrar preocupação com a aquisição e distribuição de vacinas no país recentemente. Ele acredita que a chegada do cardiologista Marcelo Queiroga à Esplanada dos Ministérios colaborou para uma guinada em busca da imunização, pois seu antecessor, o general Eduardo Pazuello, não teria demonstrado estar tão preocupado com o tema.
“Brasil deveria obrigar quarentena de turistas”
Gabbardo defendeu a implementação de quarentena impositiva aos turistas estrangeiros que chegam ao Brasil, sobretudo aos visitantes oriundos de países em que há maior transmissibilidade do vírus. Além disso, ele avalia ser necessária a implementação de testagem ampla no embarque e desembarque de turistas para evitar que novas cepas se instalem ao país.
O coordenador disse que a testagem e as restrições aos turistas fazem parte do pacote de medidas que devem ser adotadas para evitar o surgimento de uma terceira onda do coronavírus no Brasil.