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    Superbactéria Klebsiella pneumoniae: o que é, quais são os riscos e o tratamento

    Bactéria multirresistente pode causar diferentes tipos de infecções associadas à assistência à saúde, incluindo pneumonia, infecções da corrente sanguínea e meningite

    Klebsiella pneumoniae faz parte de um grupo de bactérias chamadas enterobactérias
    Klebsiella pneumoniae faz parte de um grupo de bactérias chamadas enterobactérias Rodolfo Parulan Jr./Getty Images

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    Bactérias resistentes a medicamentos antimicrobianos, como os antibióticos, são conhecidas popularmente como superbactérias. O aumento no número desses microrganismos coloca em risco a saúde de humanos e de animais, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

    A resistência aos antimicrobianos ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas não respondem mais aos medicamentos disponíveis. Como resultado da resistência aos medicamentos, os antibióticos e outros agentes antimicrobianos tornam-se ineficazes e infecções comuns tornam-se difíceis ou impossíveis de tratar, aumentando o risco de disseminação de doenças, casos graves e mortes.

    Cinco bebês morreram no Hospital Estadual Santa Casa, de Cuiabá, no Mato Grosso, devido à infecção por uma bactéria multirresistente, chamada Klebsiella pneumoniae.

    O que é a bactéria Klebsiella pneumoniae

    A Klebsiella pneumonie faz parte de um grupo de bactérias chamadas enterobactérias, que inclui a mais conhecida Escherichia coli (E. coli). A bactéria Klebsiella é normalmente encontrada no intestino humano, onde não causa doenças, e também pode estar presente em fezes humanas.

    Em unidades de saúde, as infecções por Klebsiella geralmente ocorrem entre pacientes que estão recebem tratamento para outras condições. O risco é aumentado entre aqueles internados que precisam de dispositivos como respiradores ou cateteres nas veias e quem requer longo tratamento antibiótico. O microrganismo pode causar diferentes tipos de infecções associadas à assistência à saúde, incluindo pneumonia, infecções da corrente sanguínea e meningite.

    Cada vez mais, bactérias Klebsiella desenvolvem alta resistência antimicrobiana. Mais recentemente, elas se tornaram capazes de resistir a uma classe de antibióticos conhecidos como carbapenêmicos.

    Quando bactérias como Klebsiella pneumoniae produzem uma enzima conhecida como carbapenemase (conhecida como organismos produtores de KPC), a classe de antibióticos chamados carbapenêmicos não funciona para matar as bactérias e tratar a infecção, colocando em risco a vida dos pacientes.

    Espécies de Klebsiella são exemplos de enterobactérias, uma parte normal das bactérias intestinais humanas, que podem se tornar resistentes aos carbapenêmicos. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, os antibióticos carbapenêmicos geralmente são a última linha de defesa contra infecções por bactérias do tipo gram-negativas, como a K. pneumoniae, resistentes a outros antibióticos.

    Como a bactéria Klebsiella se espalha

    A infecção por Klebsiella pneumoniae acontece a partir da exposição à bactéria, que pode acontecer pelo trato respiratório ou pela corrente sanguínea.

    Em ambientes de saúde, ela pode ser transmitida através do contato pessoa a pessoa, como de um paciente a outro através de mãos contaminadas de profissionais de saúde ou de outros indivíduos. De maneira menos comum, há a contaminação pelo ambiente. Diferentemente de vírus, as bactérias não se espalham pelo ar.

    Em geral, os pacientes hospitalizados podem ser expostos à Klebsiella quando estão em uso de respiradores, de cateteres intravenosos ou por meio do contato com feridas.

    Para evitar a propagação de infecções por Klebsiella entre pacientes, os profissionais de saúde devem seguir precauções específicas de controle de infecção, que incluem a adesão estrita à higiene das mãos e o uso de aventais e luvas ao entrarem nos quartos onde estão os pacientes com doenças relacionadas à Klebsiella. As instalações de saúde também devem seguir procedimentos de limpeza rigorosos para evitar a propagação da bactéria.

    Outras medidas incluem a higienização das mãos dos pacientes antes de se alimentar, antes de tocar nos olhos, nariz ou boca e ao trocar curativos ou bandagens. A lavagem das mãos com água e sabão e o uso do álcool gel também é recomendada depois de usar o banheiro, de assoar o nariz, tossir ou espirrar e após tocar em superfícies hospitalares, como grades de cama, mesas de cabeceira, maçanetas, controles remotos ou telefone.

    As infecções por Klebsiella que não são resistentes a medicamentos podem ser tratadas com antibióticos. Já as infecções causadas por bactérias produtoras de KPC podem ser difíceis de tratar porque menos antibióticos são eficazes contra elas.

    Nesses casos, um laboratório de microbiologia deve realizar testes para determinar quais antibióticos tratarão a infecção, de acordo com o CDC.

    Aumento da resistência bacteriana

    A resistência bacteriana está associada diretamente ao uso excessivo e incorreto de antimicrobianos disponíveis para o tratamento de infecções em humanos e em animais, alerta a OMS.

    São as bactérias que se tornam resistentes e não os seres humanos, como explica a pesquisadora Ana Paula Assef, do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

    “Com o uso inadequado de antibiótico, pode ocorrer um processo de ‘seleção’: enquanto as bactérias ‘sensíveis’ são eliminadas a partir do tratamento, as ‘resistentes’ permanecem e se multiplicam”, diz Ana Paula.

    Conforme os antibióticos vão se tornando ineficazes, o número de infecções que se tornam mais difíceis de tratar também tende a aumentar. “Com o esgotamento das ações terapêuticas, infecções que hoje são conhecidas por ter um tratamento simples, poderão, no futuro, causar danos maiores ao organismo, na medida em que teremos menos recursos para combatê-las”, afirma a pesquisadora da Fiocruz.

    O desenvolvimento de um novo antibiótico pode levar de 10 a 15 anos e custar mais de US$ 1 bilhão, de acordo com a OMS. Por mais que sejam formulados novos medicamentos, as bactérias continuam criando mecanismos de resistência, o que faz com que o desenvolvimento dos antibióticos seja visto como um mercado pouco lucrativo.