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    Roberto Kalil fala sobre a importância de conversar em Sinais Vitais

    Sob o comando do cardiologista Dr. Roberto Kalil, o programa aborda como a depressão e o suicídio são problemas de saúde pública que devem ser enfrentados por melhorias nos serviços de saúde mental no Brasil

    Divulgação

    Da CNN

    “Tive um descontrole, quebrei o vidro do banheiro da minha casa e me cortei”, conta o escritor, editor e fundador da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz. “Na época, não era suicídio era uma forma de chamar atenção trágica em uma situação de descontrole muito grande. Fiquei internado por algumas horas em uma clínica, mas voltei logo para casa. Tive acompanhamento de um enfermeiro por alguns dias e aí começou minha longa vivência com a depressão muito forte”.

    Schwarcz é autor do livro “O ar que me falta: história de uma curta infância e de uma longa depressão” e um dos maiores nomes da história do mercado editorial brasileiro. Em uma entrevista emocionante ele revela como a depressão e os traumas vividos na família, como o silêncio de seu pai, que não falava de si próprio e nem sobre seu passado, e a pressão em ser filho único com a missão de promover a harmonia na casa, lhe afetaram ao longo de décadas.

    “Dentre as inúmeras doenças mentais aquela que é mais frequentemente associada ao suicídio é justamente a depressão”, explica o psiquiatra e ex-coordenador do Programa de Controle de Transtornos Mentais e Doenças Neurológicas da Organização Mundial da Saúde, José Manoel Bertolote.

    Esse é o tema do “CNN Sinais Vitais” no episódio “Conversar Pode Salvar”. Sob o comando do cardiologista Dr. Roberto Kalil, o programa aborda como a depressão e o suicídio são problemas de saúde pública que devem ser enfrentados por melhorias nos serviços de saúde mental no Brasil, com políticas públicas consistentes na área. O programa também mostra caminhos para o tratamento e a prevenção, e ressalta a importância de as pessoas buscarem ajuda especializada e terem os amigos e a família como uma rede de proteção, ouvindo com atenção e sem julgamentos.

    A Organização Mundial da Saúde divulgou em junho de 2021 uma orientação para reduzir a taxa de suicídio em um terço até 2030 ao redor do mundo. Ainda segundo a OMS, são 320 milhões de pessoas deprimidas no mundo. No Brasil, de 2011 a 2017, foram registradas 80.352 mortes por suicídio na população a partir de 10 anos de idade, dos quais 27% ocorreram na faixa etária dos 15 a 29 anos, sendo 79% do sexo masculino. São 13.392 mortes do tipo por ano no país, segundo dados do Ministério da Saúde.

    “A depressão é uma doença como outra qualquer que deve ser tratada”, diz o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo. “As pessoas falam assim: reaja, faça bastante força. Não existe isso. É como tirar os óculos e falar assim: enxerga, consiga ler isso aqui… moço, eu tenho 10 graus de miopia, eu não vou enxergar. A depressão também é assim, se não tratar, não adianta ninguém falar: ‘reaja, tenta’”.

    “A cura da depressão não vem de uma coisa só: vem do apoio familiar, da medicação, e do exercício físico”, aponta Luiz Schwarcz, que foi diagnosticado com transtorno bipolar. “O transtorno bipolar é caracterizado por flutuação do humor entre os dois polos: o depressivo, quando a pessoa fica muito triste, desanimada, sem vontade, pode estar associado à insônia e outros sintomas no corpo, com alterações de apetite”, explica o psiquiatra Alan Campos, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “E alguns outros momentos o pólo oposto, ou seja: excesso de energia, falta de necessidade de dormir, fica bem mesmo sem dormir, se expõe a muitos riscos, faz muitas atividades, começa a ter dificuldade de concentração”.

    A estudante de filosofia Marina Maximo adorava tocar violão e estudar línguas. Fluente em inglês, estava aprendendo francês e catalão. A depressão grave a levou, aos 19 anos, ao suicídio. “Na adolescência com uns 14 a 16 anos por aí, ela ficou mais agitada e mal-humorada. O humor dela mudou, o barulho incomodava, tinha dia que ela queria ficar o dia inteiro no quarto, só saía para estudar”, diz a mãe Terezinha Máximo. “Ela passou a se cortar, a não dormir mais a chorar muito”. A família procurou um médico e veio o diagnóstico de depressão, fobia social e ansiedade. “É a geração do quarto. Onde tá fulano? No quarto. Tá no celular, tá no iPad, no computador, às vezes ele tá na telinha, porque ele não consegue suportar o mundo fora e são as pessoas que mais passam o tempo nas redes sociais, são os adolescentes deprimidos”, alerta a psiquiatra Alexandrina Malheiros.

    “O que eu fiz de errado? Eu não dei o amor suficiente, todas essas questões que vêm principalmente para mãe, que sempre é apontada como a responsável. São perguntas que a gente nunca vai ter resposta. E isso ficava martelando na minha cabeça. Fora a perda, fora a dor de tudo que um luto traz”, diz Terezinha.

    Um estudo da Universidade do Kentucky, nos Estados Unidos, mostrou que aproximadamente 135 pessoas são impactadas com um único suicídio. Além disso, estima-se que 25 pessoas próximas da vítima podem tentar se matar ou ter ideias suicidas. “Por isso precisamos atuar com a posvenção, que é toda intervenção feita após um suicídio, ou seja, é todo um trabalho e as atividades que nós fazemos com os enlutados que comumente podem ter sentimento de culpa: ‘eu poderia ter feito alguma coisa’, ‘eu não prestei atenção’, diz a psicóloga Karen Scavacini.

    Após a perda da filha, a Terezinha Maximo passou a escrever para enfrentar o que sentia. Começou a pesquisar sobre o tema, frequentou grupos de apoio e, em novembro de 2017, oito meses após a morte da Marina, colocou no ar o site No m’oblidis (https://nomoblidis.com.br), juntamente com o marido, Joseval. O nome é em referência a uma mensagem que Terezinha achou no status do What’sApp da filha, o significado é “por favor, não me esqueça”, traduzindo do catalão.

    “O suicídio é um fenômeno complexo e não tem uma causa simples, geralmente é uma combinação de fatores que levam a um desenlace fatal, como a presença de um transtorno mental, comenta o psiquiatra Neury Botega. “A depressão, a esquizofrenia, o transtorno bipolar, ocorre mais frequentemente dentro de uma família, isso também pode ser condicionado geneticamente, eu posso herdar essa característica”.

    Para ajudar uma pessoa com sinais de depressão ouça ela, diz a psiquiatra Alexandrina Malheiros. “Ao escutar a pessoa com empatia, não é só escutar o que ela está falando, não é o fato, mas a emoção, a dor, o sentimento, é isso que eu tenho que empatizar, que aí eu consigo me colocar um pouquinho no lugar do outro”.

    O “CNN Sinais Vitais”, com Dr. Roberto Kalil, vai ao ar no sábado, 30 de setembro, às 18h30, na CNN Brasil.

    (Publicado por João Guimarães)