RJ: Especialistas atribuem maior presença da variante Delta à falta de análises
Pesquisadores acreditam que não há concentração da variante em determinados estados, mas déficit no sequenciamento genético em determinadas regiões do país
Pesquisadores e infectologistas ouvidos pela CNN, nesta quarta-feira (04), acreditam que a variante Delta do novo coronavírus está disseminada de forma pulverizada em todos os estados brasileiros, e não de forma pontual como indicam números divulgados diariamente por órgãos sanitários. Eles explicam que a defasagem nos dados é consequência do déficit no sequenciamento genético em determinadas regiões do país, devido à falta de instituições que realizem as análises.
Para efeito de comparação, o estado do Rio de Janeiro registra a variante Delta em 25% de todas as amostras coletadas por pacientes de Covid-19, são 99 casos ao todo em pelo menos 38 municípios. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul confirmou até o momento apenas 11 casos positivos e 34 suspeitas da mutação originária da Índia.
Um levantamento feito pela CNN mostra que apenas 0,09% do total das amostras de pessoas contaminadas no país passa por sequenciamento genético. Um índice 112 vezes menor que o recomendado pela Comissão Europeia e pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, de 10%. Entre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro lidera o ranking, com 0,32% de análises concluídas. São Paulo, que aparece logo em seguida, com 0,20%. Juntos, os dois estados representam quase 60% de todos os sequenciamentos no Brasil.
O pesquisador e epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Diego Xavier, ressaltou que o sequenciamento inadequado traz uma sensação equivocada de que somente alguns estados brasileiros apresentam uma piora no cenário epidemiológico.
“Nós fazemos pouco sequenciamento genético no Brasil. O estado do Rio de Janeiro, por ter algumas instituições como a Fiocruz, acaba fazendo mais sequenciamento genômico e, por conta disso, apresenta um maior número de casos positivos. Não tenho dúvida que essa nova mutação já está espalhada pelo país toda de forma praticamente igual”, destacou.
No mesmo sentido, o infectologista e professor da UFRJ, Celso Ferreira, disse que a maior predominância da variante no território fluminense certamente ocorre por uma maior quantidade de sequenciamento genético em relação aos demais estados.
“Outra possibilidade seria uma transmissão maior no Rio do que em outros locais, mas isso não parece acontecer”, explica.
Já o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, acredita que a concentração de casos tem dois motivos aparentes. “Acho que o número maior de casos registrados da variante Delta no estado se dá pelo Rio ser uma porta de entrada de estrangeiros associado ao fato de uma vigilância genômica maior”, diz.
Questionado pela CNN se a maior incidência da variante no Rio pode estar atrelada ao maior número de amostras sequenciadas, o Ministério da Saúde não se manifestou até o momento.