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    Rede de Pesquisa aponta fragilização no combate à Covid-19 nas escolas

    Cientistas defendem uso de máscaras, vacinação e monitoramento da qualidade do ar

    Pauline Almeidada CNN , no Rio de Janeiro

    Uma nota técnica divulgada pela Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade, formada por cientistas de diversas universidades e entidades, como USP e Fiocruz, avalia que as medidas contra Covid-19 nas escolas brasileiras estão se tornando mais frágeis.

    Diante da chegada do inverno e do recente aumento nos casos da doença, a entidade sugere a intensificação do controle, com ações como o uso de máscara, testagem, ventilação, monitoramento da qualidade do ar e exigência da vacinação.

    A Rede de Pesquisa Solidária criou o Índice de Segurança do Retorno às Aulas Presenciais para avaliar as medidas adotadas por estados, municípios e governo federal.

    O estudo leva em conta oito critérios: transporte, distanciamento, higiene, ensino remoto, máscara, ventilação, imunização e testagem.

    Em uma nota de 0 a 100, os protocolos sanitários determinados pelo governo federal receberam uma nota de 40,6. Os estados ganharam 46,5 pontos, enquanto municípios, 42,9.

    No caso das redes estaduais, a testagem foi identificada nas políticas contra a Covid-19 em 7% das unidades federativas.

    Já a recomendação de isolamento de quem teve contato com contaminados caiu de 48%, em 2021, para 33% em fevereiro de 2022. No caso das máscaras, houve um leve aumento, de 18% para 22% no mesmo período.

    Em relação às capitais, a testagem teve uma redução de 15,7%, em 2021, para 7,7% neste ano. No mesmo período, o isolamento caiu de 38% para 33%. A indicação de máscaras PFF2 se manteve estável, identificada em 15% dos colégios.

    Tanto as capitais quanto os estados não têm monitoramento do ar, segundo a pesquisa da Rede de Pesquisa Solidária. No caso do comprovante de vacinação, 33% dos estados exigiram neste ano e 27% das redes municipais.

    Coordenadora científica da Rede de Pesquisa Solidária e professora do departamento de Ciência Política da USP, Lorena Barberia explica que o levantamento levou em conta os protocolos sanitários divulgados pelo governo federal, estados e municípios.

    Segundo o grupo, há uma fragmentação nas políticas adotadas, o que dificulta o combate à doença nas escolas.

    “É preciso uma maior coordenação, temos que ter clareza, existem justificativas para fortalecer os protocolos. Isso de cancelar o uso de máscaras no contexto atual, que estamos vendo um aumento dos casos, não é justificável. Tem que ser uma via de duas mãos. Quando está melhor [o cenário epidemiológico], pode flexibilizar. Quando está pior, tem que fortalecer”, opina.

    Lorena Barberia também argumenta que é preciso transparência na notificação de surtos de Covid-19 no ambiente educacional.

    “Muitas vezes, quando a gente discute protocolos e a fragilidade, a resposta dos governos é que não se vê um problema grande nas escolas. O que nós estamos mostrando, com poucos dados, é que temos surtos nas escolas”, aponta.

    A rede teve dificuldades em encontrar dados sobre o assunto, mas cita dois exemplos. No Rio de Janeiro, entre 2021 e 6 de junho, foram 541 surtos, quase 70% deles nas escolas públicas, segundo dados repassados ao estudo pela Secretaria Municipal de Saúde. Além disso, eles representaram 58,9% dos surtos registrados em locais fechados, como empresas, instituições de saúde e asilos.

    O cenário se repetiu em Florianópolis, com 56 surtos em escolas entre 18 de fevereiro e 24 de junho, 40% dos investigados na cidade.

    A CNN buscou um posicionamento do Ministério da Educação e das prefeituras do Rio e Florianópolis sobre os apontamentos da nota técnica e aguarda um retorno.

    / Cleiton Borges/Secom/PMU

    Ensino a distância

    A Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade também fez uma análise sobre como foi o ensino remoto nesses três anos de pandemia.

    O Índice de Educação a Distância considerou os meios de transmissão, a forma de acesso dos alunos, a supervisão das atividades e a cobertura.

    A nota técnica aponta, inicialmente, a demora na implantação do ensino remoto.

    “Alguns estados, como Tocantins, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, ficaram mais de 100 dias sem o oferecimento de alternativas de educação para a rede pública. Ainda mais grave, o estado da Bahia não formulou nenhum programa para acompanhamento dos estudantes durante todo o ano de 2020. Já nas capitais, Aracaju e João Pessoa são exemplos de cidades que ficaram ainda mais tempo sem ensino remoto. Em média, as capitais demoraram cerca de 43 dias para proposição dos programas, enquanto os estados demoraram 34 dias”, diz o documento.

    Para os pesquisadores, o ensino virtual também foi prejudicado pela falta de investimentos no acompanhamento dos alunos nas atividades remotas.

    Neste ano de 2022, com o retorno presencial, as políticas foram deixadas de lado, segundo a nota técnica, com o abandono das evoluções conquistadas nos anos anteriores.

    “Em 2020, a gente abriu mão da educação, insistindo em saúde. Em 2021 e 2022, estamos afirmando a educação. E o que a gente precisa fazer é guardar a saúde e educação”, argumenta Lorena Barberia, coordenadora científica da Rede de Pesquisa Solidária.

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