Proteção de vacinas contra a variante Delta cai depois de três meses, diz estudo
Pessoas completamente vacinadas têm menor probabilidade de infectar outras, mas efeito protetor diminui após 12 semanas
Pesquisadores britânicos descobriram que pessoas infectadas com a variante Delta têm menos probabilidade de transmitir o vírus se já tiverem sido completamente imunizadas com a vacina contra Covid-19. Mas esse efeito protetor é relativamente pequeno e diminui de forma alarmante três meses após o recebimento da segunda dose.
O estudo publicado na plataforma MedRix ainda não foi revisado por pares, mas um artigo sobre estas descobertas foi publicado na revista Nature nesta terça-feira (5).
Em pessoas infectadas duas semanas após receberem a segunda dose da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca, ambas no Reino Unido, a chance de contrair Covid-19 após o contato próximo com um não vacinado era de 57%. Mas três meses depois, essa chance subiu para 67%.
“Este último valor está no mesmo nível da probabilidade de uma pessoa não vacinada espalhar o vírus”, aponta o estudo.
Também foi observada essa redução entre imunizados com as vacinas da norte-americana Pfizer e da alemã BioNTech. O risco de espalhar a infecção pela Delta logo após a vacinação com este imunizante era de 42%, mas aumentou para 58% com o tempo, apontam os pesquisadores.
“Os resultados possivelmente explicam por que temos visto tanta transmissão progressiva de Delta, apesar da vacinação generalizada”, diz o coautor David Eyre, epidemiologista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, à Nature.
Estudos anteriores descobriram que as pessoas infectadas pela Delta têm aproximadamente os mesmos níveis de material genético viral em seus narizes, independentemente de terem sido vacinadas anteriormente, sugerindo que pessoas vacinadas e não vacinadas poderiam ser igualmente transmissoras.
Delta atenua proteção da vacina
Mas este estudo britânico mais recente também sugere que as pessoas vacinadas têm menos probabilidade de espalhar o vírus se subsequentemente contraírem Delta: seus níveis de vírus nasais caem mais rápido do que os de pessoas infectadas não vacinadas e seus swabs nasais contêm quantidades menores de vírus infecciosos, descreve a pesquisa.
Os cientistas analisaram dados de exames de 139.164 contatos próximos de 95.716 pessoas infectadas com SARS-CoV-2 entre janeiro e agosto de 2021 no Reino Unido, quando as variantes Alfa e Delta estavam competindo entre si para serem dominantes.
Os autores descobriram que, embora as vacinas oferecessem alguma proteção contra a infecção e a transmissão progressiva, a Delta atenuou esse efeito.
Uma pessoa que foi totalmente vacinada e, em seguida, teve uma infecção pela Delta tinha quase duas vezes mais probabilidade de transmitir o vírus do que alguém que foi infectado pela Alfa. E isso se somava ao risco mais alto de uma infecção invasiva causada pela Delta do que pela Alfa, aponta o estudo.
Mas os resultados também oferecem a possibilidade de que uma campanha de reforço de vacinação “também pode ter o efeito de reduzir a transmissão”, diz Eyre.
As campanhas de reforço, no entanto, ainda deixam incerto “se a mesma diminuição da proteção contra a infecciosidade ocorrerá após a terceira dose”, analisa Stephen Riley, pesquisador de doenças infecciosas do Imperial College London à Nature.