Presidente do Einstein diz que solução para a saúde não pode ser generalizada
Telemedicina é uma sugestão de Cláudio Lottenberg para amenizar a má distribuição de profissionais da saúde nas regiões brasileiras
O presidente do Instituto Coalizão Saúde e também presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein, Cláudio Lottenberg, trouxe um panorama da saúde no Brasil em entrevista à CNN.
O médico chamou a atenção para a abrangência do SUS, maior sistema universalizante do mundo. “160 milhões de pessoas são atendidas. Outras 50 milhões são atendidas pelo sistema suplementar. São regiões bastante diferentes, cada parte do país com um tipo de necessidade e um perfil demográfico. A dificuldade está sendo em encontrar uma solução para sairmos do processo de isolamento, para isso teremos que encontrar processos adequados e sermos bastantes firmes para não desperdiçar o que foi feito de positivo no lockdown”.
A diferença de realidade entre as regiões brasileiras é perceptível, também, pelo número de médicos que existem em cada lugar. O correto, segundo Cláudio, era podermos ter 2,5 médicos para cada mil habitantes. Em São Paulo, há quase 4 médicos para cada mil pessoas, no Distrito Federal, esse número chega a 5,5.
No entanto, algumas regiões mais longínquas não têm, sequer, 1 médico para uma população de mil pessoas. Sobre esta disparidade, Cláudio sugere a implementação da telemedicina. “Durante muito tempo ficamos atrasados no capítulo da telemedicina e temos que tirar esse atraso rapidamente implementando, aprimorando e criando uma comunicabilidade entre os profissionais de saúde e a população”.
Flexibilização da quarentena
Na próxima semana, o governo estuda a possibilidade de começar uma flexibilização, e com isso, recomeçaria a abertura das empresas e do comércio. Para Cláudio, o pico da doença, observando outros lugares do mundo, acontece entre 40 e 60 dias desde a manifestação da doença. “A partir daí temos que monitorar os novos casos e se a infraestrutura é suficiente para o atendimento dos pacientes graves. 5% de quem tem coronavírus precisa de terapia intensiva, e destes, metade precisarão de intubação e de respiradores. Avaliando isso de forma regionalizada, dentro da consideração da população economicamente mais vulnerável e do grupo de risco, a gente já teria condição neste momento de avaliar a possibilidade de saída [do isolamento] na dependência da região e do próprio município.”
População vulnerável
Um desafio não só do Brasil, mas de todo o mundo, é lidar com a desigualdade social que leva muitas famílias a viverem cotidianamente em moradias com pouquíssima estrutura. Desse modo, como tornar possível o distanciamento em uma casa de um ou dois cômodos que abriga uma família inteira de quatro ou cinco pessoas? Sobre isso, Cláudio chama a atenção para a importância do uso de máscaras. “Quando usamos máscara, a gente diminui o grau de transmissibilidade, de 3,5 para praticamente 1. Ou seja, quase estamos imunizando ao usar o equipamento”.
Outro ponto que contribuiria para conter as transmissões, ressalta o médico, seria a testagem nesta população, a fim de entender quem já está contaminado e é portador e também aqueles que tiveram a doença sem sintomas e hoje são imunocompetentes: não transmitem e dificilmente pegariam pela segunda vez.
“Não podemos negligenciar ou trabalhar de forma generalizada imaginando que a solução é única para o país como um todo”, conclui.