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    Preço baixo dos cigarros no Brasil contribui para número alto de fumantes, diz pesquisa

    Cerca de 14% dos cigarros fabricados no país não pagam impostos, tanto aqueles comercializados por produtores registrados quanto por não registrados

    Cigarro aumenta risco de doenças cardiorrespiratórias
    Cigarro aumenta risco de doenças cardiorrespiratórias Seksan Mongkhonkhamsao/Getty Images

    Victor AguiarDayres Vitoriada CNN*

    No Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado nesta terça-feira (29), o pesquisador André Szklo afirmou em entrevista à CNN que os baixos preços dos cigarros no Brasil contribuem para o aumento no número de fumantes.

    A conclusão está em uma pesquisa feita em julho pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), que analisou o mercado de cigarros no Brasil e sua ligação com a dependência em tabaco.

    A pesquisa, feita em parceria com a Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, identificou que, nas Américas, o Brasil possui o segundo menor valor cobrado pelo cigarro, o que, segundo os autores, influencia no aumento do número de dependentes. O material foi publicado na Tobacco Control, uma das principais revistas sobre controle do tabaco no mundo.

    Vídeo: Como o cigarro afeta o coração?

    À CNN, Szklo, que é um dos autores da pesquisa, afirmou que, na opinião dele, a política de preços e impostos é a medida mais efetiva para desestimular a iniciação do consumo entre jovens. Ou seja, quanto maior o preço do cigarro, mais inacessível o produto se torna para os jovens.

    “É um impacto direto. E a gente está observando que desde 2017 não tem reajuste nas alíquotas, o que torna o cigarro cada vez mais acessível. O nosso maior objetivo, em termos de saúde pública e também de política fiscal, seria voltar a aumentar o preço do cigarro legal e, com isso, conseguir reduzir a proporção de fumantes e reduzir os processos de iniciação”, relata o pesquisador.

    De acordo com o estudo, a falta de reajuste nos impostos sobre o tabaco e o preço mínimo legal (MLP) levou a uma diminuição sustentada dos preços reais dos cigarros fabricados por empresas legalmente registradas no Brasil. Cerca de 14% dos cigarros fabricados no país não pagam impostos, tanto aqueles comercializados por produtores registrados quanto por não registrados.

    Laura Martins, de 22 anos, fuma desde os 16. Para a estudante de jornalismo, o valor acessível do cigarro foi um dos fatores cruciais para começar a fumar. Na visão dela, o vício só começa a ficar caro quando se fuma muito, o que pode levar tempo para um fumante iniciante. Laura explicou os motivos que a levaram a criar interesse pelo cigarro.

    “Eu era responsável, mas tinha muita pressa em crescer e entrar na faculdade. Fumar, justamente por ser proibido para menores de 18 anos, diminuía essa distância entre quem eu era e quem eu queria ser. Mas com certeza eu não queria ser fumante”, conta Laura.

    A estudante diz que sempre foi fácil comprar cigarros. De todas as vezes que tentou comprar o produto quando era menor de idade, somente em duas ocasiões lhe perguntaram sua idade.

    Segundo André Szklo, os jovens geralmente recorrem ao fumo para lidar com pressões e ansiedade que surgem ao longo da vida:

    “Jovens sujeitos a apreensões sociais querem se firmar perante um grupo social em um determinado contexto. A decisão não é totalmente baseada no livre-arbítrio, ela é conduzida através de produtos com aromas e sabores, através do marketing agressivo, um preço baixo e assim por diante.”

    Ainda de acordo com o autor, uma pessoa fumante tem um risco superior ao de uma pessoa que não fuma de desenvolver pelo menos 15 tipos de câncer e ainda doenças cardiovasculares e respiratórias.

    * Sob supervisão de Vital Neto