Por que você não deve usar vitamina D contra o coronavírus
A equipe técnica do Ministério da Saúde alertou, no início da semana, quanto à busca desenfreada e o uso indiscriminado dO medicamento
A equipe técnica do Ministério da Saúde alertou, no início da semana, quanto à busca desenfreada e o uso indiscriminado de medicamentos na tentativa de encontrar algum tipo de proteção contra o coronavírus. Entre eles, antivirais e suplementos alimentares que alguns acreditam ter o poder de previnir e comabater a COVID-19. Uma procura acentuada pela vitamina D preocupa autoridades de saúde.
O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos, Denizar Vianna, afirmou que não há comprovações sobre a eficácia da vitamina D no tratamento do novo coronavírus (COVID-19). E fez alerta: “A própria Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia já se posicionou em relação a isso, de que não há uma recomendação ao uso da vitamina D, e que seu consumo de forma indiscriminada pode gerar danos. Então, essa é uma recomendação importante à população: que tenha cuidado”.
Vianna também recomenda que a população, ainda que respeitando o isolamento social, se exponha ao sol, seja vindo de uma janela ou varanda. O problema identificado por ele está justamente na automedicação.
O secretário aponta que a vitamina D não é ‘isenta de problemas’. Ao contrário de outras, como a C, que é hidrossolúvel (onde o excesso é eliminado pela urina), se um indivíduo fizer uso de uma quantidade excessiva de vitamina D, ela pode ser acumulada no organismo, “pois é lipossolúvel (se dissipa em óleo e gordura)” completa.
Leita também:
Bolsonaro promete zerar impostos de zinco e vitamina D para combater coronavírus
Quantidade ideal
Maria Fernanda Barca – doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Europeia de Endocrinologia (SEE) – corrobora o alerta. Segundo a médica, o uso indiscriminado da vitamina D pode causar diversos efeitos colaterais como náusea, diarreia, calcificação, cálculo renal, entre outros. “Muito já se fala da vitamina D como hormônio, pois ela age no corpo todo, diferente de outras vitaminas que têm ação em um determinado local. Ela age no cérebro, nas mucosas, nos músculos”, explica.
Maria Fernanda também pontua que “pacientes obesos ou em processo de redução de estômago que estiverem carentes de vitamina D devem repor a sustância com ainda mais cuidado, justamente por ela ser lipossolúvel. Ou seja, acaba sendo ‘sequestrada’ pela gordura corporal”.
A endocrinologista condena a automedicação e afirma que, assim como cada paciente tem uma dosagem ideal da vitamina D no organismo, cada laboratório também avalia, com diferentes critérios, qual a quantidade saudável indicada. Ou seja, se você fizer o mesmo exame em diferentes clínicas, será avaliado com diferentes parâmetros.
A quantidade dessa vitamina produzida pelo corpo também pode variar de pessoa para pessoa. “Quanto mais escura a cor da pele, há mais dificuldade em prouzi-la. Os mais brancos vão produzir a vitamina D com menos tempo de exposição ao sol, pois têm a pele mais sensível e precisam de menos tempo sob os raios ultravioletas para produzir a precursora, 25 vitamida D – que primeiro passa por fígado e rins até então tornar-se vitamina D ativa”.
Corona x Vitamina D
Recomendações
“Diferentes países também tem diferentes parâmetros”, explica, pois, em regiões nórdicas, por exemplo, indica-se como saudável um número elevado da vitamina no corpo, justamente porque lá faz menos sol.
Portanto, cada caso é um caso. Não se pode generalizar quantidades ideais. “o que eu recomendo é que todos mantenham uma rotina saudável. Ou seja, é fundamental que as pessoas durmam bem, pratiquem atividade física e cuidem da alimentação para que a imunidade esteja em dia”.
A doutora defende que, mais importante que a quantidade de vitamina D no corpo, é a manutenção da imunidade. “Se um paciente diabético estiver com a saúde em dia, ele pode ser, inclusive, ser descartado do grupo de risco”, comenta em relação a epidemia do novo coronavírus (COVID-19).
“No caso específico da COVID-19 ainda são necessários mais estudos que comprovem que a vitamina D poderia ser uma aliada no combate da doença”, responde a dúvida corriqueira.
“Meia hora de sol não faz mal a ninguém”, defende a doutora quanto à exposição de, pelo menos, um terço do corpo, a raios solares entre às 10h e às 15h. “Esta é a melhor forma de consumirmos a tão comentada vitamina D”.
Ela explica que, assim como todos os outros fatores que regulam a nossa imunidade, a vitamina D também é importante – como na luta contra qualquer vírus ou doença. Mas o equilíbrio do conjunto de todos os outros níveis de saúde, conta mais ainda.