Por que eles se tornaram voluntários para testes da vacina contra o coronavírus?
Neal Browning e Jennifer Haller fazem parte de um grupo de 45 adultos que estão participando de estudos em Washington, que visam frear o avanço da doença
Neal Browning e Jennifer Haller tomaram uma decisão para ajudar pesquisadores a encontrarem uma vacina para combater a pandemia do novo coronavírus. Os dois fazem parte de um grupo de 45 adultos saudáveis que se voluntariaram para participar de estudos realizados no estado norte-americano de Washington. Eles conversaram com a CNN nessa terça-feira (17) sobre os motivos que os levaram a participar dos testes da vacina.
Browning disse que está participando para “fazer com que isso acabe o mais rápido possível no mundo”. “Se estou saudável o suficiente para conseguir contribuir com as pesquisas e espero que se encontre uma vacina logo, por que eu não ajudaria?”, afirmou ele.
Haller contou que foi uma decisão fácil para ela. “Sou muito privilegiada por estar saudável e ter família e amigos por perto”, disse ela. “Trabalho para uma empresa que permite tirar uma folga e trabalhar remotamente sempre que preciso. Tenho um grande privilégio de poder fazer essas coisas”, ressaltou.
“E tantos norte-americanos agora não têm esse privilégio e estão preocupados em pagar o aluguel, se vão perder o emprego, em como vão alimentar a família. Há tantas coisas com as quais as pessoas estão preocupadas agora”, afirmou Haller. Ela também disse que se sente “abençoada” por ter a oportunidade de fazer algo que possa trazer mudanças. “Todos nos sentimos tão abandonados agora. E eu realmente estou fazendo algo aqui”, afirmou.
Os testes para a vacina contra o COVID-19, financiados pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), começaram na segunda-feira (16) e devem durar seis semanas. Eles são realizados no Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente Washington, na cidade de Seattle. Neste momento, não existe uma vacina para o novo coronavírus.
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Nova técnica
A fase 1 dos testes tenta determinar que a vacina é segura e induz a uma resposta desejada do sistema imunológico dos participantes. Provar que a substância é eficaz na prevenção da doença, no entanto, requer estudos subsequentes envolvendo mais voluntários e alguns meses.
Houve um cuidado para garantir que todos os voluntários estavam saudáveis, disse Browning. “Todos foram submetidos a testes físicos e exames de sangue para ter certeza de que estavam bem. Depois disso, recebemos a vacina”, relatou ele.
Não há um vírus real nessa vacina, segundo o que foi informado a Brown. “Eles estão usando uma nova técnica que, basicamente, ensina as células do meu corpo a construirem estruturas de proteína que se assemelham à parte externa do atual coronavírus. Meu corpo deveria reagir a isso, vê-las como um invasor externo, atacá-las e aprender a combatê-las.”
Monitoramento
Haller disse que ela recebeu a primeira dose da vacina na manhã dessa segunda-feira (16) e teve uma conversa por telefone, no dia seguinte, com os responsáveis pelo estudo, que acompanham a situação. Ela fará um novo exame de sangue na semana que vem e outro na semana seguinte. Dentro de um mês, receberá a segunda dose da vacina e passará por todo esse processo de exames novamente.
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Enquanto isso, Browning afirmou que mantém um gráfico diário com informações sobre a temperatura dele, sinais de possíveis efeitos colaterais e outros fatores de preocupação. A cada semana, o voluntário também faz um novo exame de sangue.
“Fazemos os exames de sangue para ver e ter certeza de que nosso corpo está reagindo da forma esperada, produzindo os antígenos (substância que desencadeia a produção de anticorpos) que, com sorte, nos permitirão combater o novo coronavírus, se ficarmos expostos a ele”, explicou Browning. Ele também receberá a segunda dose da vacina um mês após a aplicação da primeira.
Browning afirmou que, até o último minutos, não contou à família que seria voluntário do estudo, mas que a reação foi boa. Os filhos estão achando “muito legal que o papai esteja fazendo isso”.
“Acredito que é importante para eles aprendererem que, como parte da sociedade, você precisa fazer tudo o que puder para ajudar, e há outras 44 pessoas que fazem parte da pesquisa”, disse ele. “Não é só o papai que está lá tentando fazer do mundo um lugar melhor.”
Haller espera que a situação em que os EUA se encontram agora sirva como um alerta. “Essa é uma ótima oportunidade para acordarmos, começarmos a pensar nos outros e nos preocuparmos com eles”, disse ela.