Pílulas para perda de peso podem facilitar tratamento contra obesidade; entenda
Versões orais de medicamentos como semaglutida (Wegovy e Ozempic) e tirzepatida (Zepound e Mounjaro) estão em fase avançada de estudos clínicos; porém, especialistas alertam para risco de mau uso
Jared Holz, 44 anos, pensou em tomar um dos novos medicamentos GLP-1 para perda de peso — a mesma classe de remédios como Wegovy, Saxenda e Zepbound — por meses antes de realmente preencher a receita. Além disso, mesmo quando ele conseguiu o medicamento, esperou um mês antes de usá-lo.
Parte de sua hesitação é devido ao fato de ele não gostar de agulhas, e todos os medicamentos aprovados dessa classe para perda de peso são injetáveis, aplicados pelos próprios usuários uma vez por semana. “Isso tem sido realmente desafiador”, diz Holz, cerca de uma semana após o início do tratamento.
Mas esse cenário pode mudar em breve. Pelo menos uma dúzia de medicamentos experimentais semelhantes para perda de peso, projetados para serem tomados em forma de comprimidos, estão avançando em ensaios clínicos. As pesquisas mais avançadas já estão na terceira e última fase de testes.
Esses remédios, provavelmente, “mudarão o cenário da gestão de peso drasticamente de várias maneiras”, na opinião de Jody Dushay, professora assistente de medicina na Harvard Medical School e médica endocrinologista no Beth Israel Deaconess Medical Center, que prescreve medicamentos para perda de peso.
Esse é um campo que já está passando por uma revolução, com milhões de pessoas nos Estados Unidos agora usando semaglutida e tirzepatida, vendidos como Wegovy e Zepbound para perda de peso (e para diabetes como os mais conhecidos Ozempic e Mounjaro), respectivamente.
Dushay destacou a esperança de que as versões em comprimidos dos medicamentos GLP-1 possam aliviar a escassez, ter um custo menor e aumentar a conveniência. No entanto, ela e outros médicos também alertam sobre o potencial de mau uso, um problema que pode se tornar mais disseminado com comprimidos diários em vez de injeções semanais; eles poderiam facilitar o uso excessivo ou o compartilhamento inadequado do medicamento.
Ainda há “muito a ser aprendido sobre as versões orais”, disse Dushay.
Semaglutida em comprimido
O mais avançado desses comprimidos inclui uma forma de semaglutida, o ingrediente ativo no Ozempic e Wegovy, que está sendo desenvolvida pela Novo Nordisk. A farmacêutica dinamarquesa relatou no ano passado que um estudo de fase avançada em pessoas sem diabetes mostrou que o comprimido diário levou a uma perda de peso média de 15% em 68 semanas, um resultado semelhante ao observado nos testes do Wegovy.
Mas a Novo Nordisk se recusou a dizer se já solicitou a aprovação do medicamento pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, e as vendas de uma forma oral de semaglutida para diabetes tipo 2, aprovada como Rybelsus, foram superadas pelas do injetável Ozempic.
Embora seja um comprimido, o Rybelsus também tem alguns desafios: deve ser tomado diariamente com o estômago vazio, sem comer, beber ou tomar outros medicamentos por pelo menos 30 minutos, e os médicos relatam que pode não ser tão eficaz quanto as injeções, além de ainda apresentar efeitos colaterais.
Além disso, a dose de semaglutida oral para obesidade é muito maior, o que pode aumentar o risco de efeitos colaterais mais pronunciados, segundo Jorge Moreno, especialista em obesidade e professor assistente de medicina na Yale School of Medicine. A dose para perda de peso é de 25 a 50 miligramas por dia, em comparação com 14 miligramas para o Rybelsus e um máximo de 2,4 miligramas por semana para as injeções de Wegovy.
“Eu tenho visto mais efeitos colaterais gastrointestinais significativos com a semaglutida oral do que com a injetável”, diz Moreno, observando que se questiona “quais diferenças nos efeitos colaterais podem ocorrer ao usar doses tão altas de semaglutida em comparação com a dose injetável.”
No ensaio, a Novo Nordisk afirmou que a “grande maioria” dos efeitos colaterais da semaglutida oral foi “leve a moderada e diminuiu ao longo do tempo.” Todos os medicamentos GLP-1 estão associados a efeitos colaterais como náusea, vômito e dor abdominal, embora nem todos os pacientes os experimentem.
Corrida pelo GLP-1 oral
Logo após a semaglutida oral está um grupo de medicamentos liderado pelo orforglipron, da Eli Lilly, um medicamento oral que também tem como alvo o GLP-1, que é um hormônio implicado na regulação da insulina, apetite e digestão.
A Lilly, que também fabrica o Zepbound e Mounjaro, relatou no ano passado que um ensaio de fase intermediária descobriu que pessoas que tomaram o orforglipron por 36 semanas perderam em média 15% de seu peso corporal — aproximadamente a mesma quantidade que a semaglutida oral em menos tempo. Os resultados de um estudo de fase avançada são esperados na primeira metade do próximo ano, de acordo com Evan Seigerman, analista de pesquisa da empresa financeira BMO Capital Markets.
Farmacêuticas como Pfizer e Roche, além de empresas menores como Structure Therapeutics, Terns Pharmaceuticals e Viking Therapeutics, também têm medicamentos orais para perda de peso em fases iniciais de desenvolvimento, segundo pesquisas do BMO.
A Novo Nordisk não está parando com a semaglutida; ela tem vários programas em fases iniciais de desenvolvimento para trazer ao mercado pílulas de perda de peso de próxima geração.
No início deste mês, dados apresentados na conferência da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes mostraram que os participantes do estudo que receberam uma dose mais alta do medicamento experimental amycretin perderam em média 13% de seu peso corporal em 12 semanas. O medicamento tem como alvo tanto o GLP-1 quanto outro hormônio, a amilina.
A Novo Nordisk também concordou em gastar até US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) no ano passado para adquirir a Inversago Pharma, ganhando um medicamento oral experimental chamado monlunabant, projetado para bloquear um receptor de cannabinoides importante na regulação do apetite. Os resultados de um estudo de fase intermediária sobre esse medicamento são esperados este ano, de acordo com a pesquisa da BMO.
“Dose de manutenção”
Nem todos esses medicamentos experimentais necessariamente chegarão ao mercado, mas um dos principais papéis que eles podem desempenhar, se o fizerem, é como “dose de manutenção a longo prazo” para pessoas que perderam uma quantidade significativa de peso com medicamentos injetáveis, na visão de Dushay.
Os medicamentos poderiam fornecer “uma excelente saída das injeções semanais”, afirma Dushay. “Eles podem não ser tão eficazes para a perda de peso máxima como terapia inicial, mas podem ser excelentes para a manutenção da perda de peso, que é um destino diferente e, sem dúvida, muito mais importante para benefícios duradouros à saúde.”
A Eli Lilly testará exatamente isso, de acordo com planos de estudo recentemente postados em um banco de dados federal de ensaios clínicos. A empresa planeja testar o orforglipron para manutenção da perda de peso em pessoas que participaram de outro ensaio da Lilly, comparando seu medicamento Zepbound com o Wegovy da Novo Nordisk. O ensaio de manutenção de peso estava previsto para começar este mês e ser concluído no início de 2026.
Holz, que acompanha de perto a corrida dos medicamentos para perda de peso em seu papel como estrategista de saúde em uma empresa de investimentos, diz que espera mudar para uma opção oral em vez do medicamento injetável que ele está tomando semanalmente agora, se uma estiver disponível, para manter sua perda de peso.
Em três meses, Holz conta que perdeu pouco mais de 10% de seu peso corporal, e está entusiasmado com os medicamentos GLP-1 não apenas para perda de peso, mas também por seus efeitos protetores no coração e outros potenciais benefícios para a saúde.
A injeção semanal da qual ele tinha receio acabou sendo quase indolor, segundo o estrategista — algo que os fabricantes do medicamento trabalharam para alcançar com canetas autoinjetoras — e, ao refletir, ele deseja ter começado antes.