Pfizer faz testes no Brasil para avaliar eficácia de medicamento contra Covid-19
Medicamento, caso aprovado, formará uma proteção dupla para as pessoas vacinadas, junto com a vacina
A Pfizer iniciou um estudo clínico no Brasil para avaliar a eficácia de um potencial tratamento contra a Covid-19. A substância utilizada pela farmacêutica, que é um antiviral, demonstrou eficácia nos testes in vitro em laboratório, e, segundo a Pfizer, “segurança e tolerabilidade em estudos de Fase um, em humanos”.
Agora, serão realizadas as fases dois e três da pesquisa, com mais participantes. Essas fases também serão realizadas no Brasil.
O medicamento utiliza a molécula PF-07321332, um antiviral da classe dos inibidores de protease – que é uma das enzimas do vírus da SARS-CoV-2. O objetivo dessa nova droga em desenvolvimento é agir sobre a enzima do coronavírus, impedir sua multiplicação e, assim, reduzir o tempo de doença.
O novo tratamento deve ser iniciado até três dias a partir do início dos sintomas e a droga administrada juntamente com uma pequena dose de um antirretroviral utilizado em tratamento de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), o Ritonavir.
O médico Valdez Madruga, infectologista, pesquisador do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP e um dos cientistas à frente do estudo da Pfizer, acredita que, após os bons resultados iniciais, o medicamento tem tudo para ser aprovado.
“A expectativa é boa, o medicamento é promissor. Os estudos iniciais já mostraram isso. A dificuldade agora (para conseguir todos os voluntários) é que grande parte da população já se vacinou”, apontou o médico à CNN.
30 dias para os primeiros resultados
Para que os estudos sejam finalizados, são necessários 1.800 voluntários. Quando este número for alcançado, os primeiros resultados sairão após 30 dias.
No Brasil, 29 centros de pesquisa participam, divididos entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Todos eles seguem convocando voluntários.
A pesquisa também é feita em outros países, como os Estados Unidos e alguns da Europa. Posteriormente, todos os resultados serão analisados para ver se há, por exemplo, diferentes respostas ao medicamento.
O estudos já foram aprovados de forma prévia pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), bem como pelos Comitês de Ética dos centros de pesquisa selecionados.
Como vai funcionar o estudo?
Os estudos clínicos de fase dois e três serão realizados de forma randomizada, com o método duplo-cego, ou seja, quando metade dos pacientes toma o remédio e a outra metade um placebo, mas nem médicos nem participantes sabem de forma prévia o que foi ministrado. Somente são aceitas pessoas que têm 18 anos ou mais.
São três cenários previstos, sendo os dois primeiros estudos de tratamento e o último de prevenção. Um deles contará com pessoas vacinadas ou não vacinadas, com suspeita ou diagnóstico de Covid-19 e com baixo risco de desenvolver doença grave; outro em pessoas não vacinadas com suspeita e/ou diagnóstico de Covid-19 e com alto risco de desenvolver doença grave; e um terceiro, este de prevenção, em pessoas não vacinadas e que tiveram contato domiciliar com pessoas que moram na mesma casa de alguém com Covid – estas pessoas não podem ter sido vacinadas.
“Medicamento não substitui a vacina”, destaca pesquisador
O médico Valdez Madruga faz um alerta e diz que, caso o medicamento para tratamento precoce seja aprovado, as vacinas seguirão fundamentais no combate à doença.
“O medicamento não substitui a vacina, mas é algo complementar. A vacina é usada em larga escala para prevenir infecções. As vacinas não são 100% eficazes, mas quem foi vacinado geralmente têm formas leves da doença. O medicamento, caso aprovado, formará uma proteção dupla para as pessoas vacinadas”, aponta.
Segundo o médico, ainda não existem medicamentos comprovadamente eficazes no tratamento da Covid-19. Por isso, ele rechaça a ideia do uso de substâncias como cloroquina e ivermectina, apesar de reconhecer a ânsia das pessoas para que os médicos prescrevam remédios contra os sintomas do vírus.
“Todo paciente que vai ao médico costuma exigir um remédio. Por isso, existem esses abusos como a utilização da cloroquina e ivermectina, por exemplo. Só que os estudos já provaram que eles não funcionam. O próprio corticoide só funciona quando usado numa fase que o paciente já está precisando de reposição do oxigênio”, explica.