Pessoas com transtornos mentais podem envelhecer mais rápido, segundo estudo
Cuidar da saúde física pode ser um bom caminho para combater o envelhecimento precoce segundo os pesquisadores
Até hoje, estudos diziam que pessoas com transtornos mentais correm maior risco de desenvolver doenças relacionadas ao envelhecimento, mas não necessariamente têm maior risco de envelhecer mais rápido.
No entanto, uma nova pesquisa publicada na revista “JAMA Psychiatry” em 17 de fevereiro afirma que sofrer com transtornos de saúde mental no início da vida pode levar a uma pior saúde física e envelhecimento acelerado na vida adulta.
Os participantes do estudo que tiveram uma maior variedade e persistência de sintomas de transtorno de saúde mental na idade adulta – ou altos níveis de psicopatologia geral – envelheceram biologicamente mais rápido por um fator de cerca de 5,3 anos entre as idades de 26 e 45 em comparação com os participantes com os escores mais baixos. Os transtornos que os indivíduos de maior risco experimentaram quando mais jovens incluem principalmente ansiedade, depressão, uso indevido de substâncias e esquizofrenia.
Os indivíduos também apresentaram mais dificuldades com audição, visão, equilíbrio, funcionamento motor e cognição, que são fatores usados para medir o envelhecimento. Os resultados também ficaram aparentes: observadores independentes que viram as fotos deste grupo sem saber nada sobre eles classificaram-nos como parecendo mais velhos.
Como os autores do estudo compararam os dados com outros fatores que poderiam levar ao envelhecimento acelerado, como sexo, índice de massa corporal, tabagismo, saúde infantil e maus-tratos e status socioeconômico, o resultado mostra que “há algo mais indicando algum tipo de processo biológico pré-existente”, disse Elizabeth Walker, professora assistente de pesquisa na Escola de Saúde Pública Rollins da Universidade Emory, em Atlanta, que não estava envolvida no estudo.
As descobertas resultaram do estudo longitudinal Dunedin, que observou e testou a saúde biológica, física e mental de 1.037 neozelandeses desde seu nascimento em 1972 ou 1973 até os 45 anos.
“Normalmente, as doenças crônicas relacionadas à idade aparecem anos mais tarde. Quando pensamos em envelhecimento, pensamos em pessoas mais velhas, que estão na casa dos 50, 60 ou mais”, afirmou a principal autora do estudo, a doutora Jasmin Wertz, da equipe Moffitt & Caspi da Universidade Duke, na Carolina do Norte. “Os resultados do envelhecimento nem chegam a ser medidos antes de as pessoas atingirem essa faixa. No entanto, ao medir esses fatores, notamos que as pessoas que viveram problemas de saúde mental já mostram um envelhecimento mais rápido no que parece uma idade relativamente jovem”.
O estudo “ajuda ainda mais a conectar os pontos entre o que se sabe sobre a associação entre transtornos mentais e problemas de saúde física, incluindo mortalidade precoce”, disse o doutor Benjamin Druss, professor e titular da cadeira Rosalynn Carter em saúde mental da Universidade Emory em Atlanta, que não participou do estudo.
Ligações com envelhecimento
Existem alguns motivos potenciais pelos quais os transtornos mentais podem levar a um envelhecimento mais rápido, sejam eles hábitos prejudiciais à saúde e fatores estressantes relacionados aos transtornos mentais, sejam consequências da própria condição psiquiátrica.
A doutora Wertz dá um exemplo: pessoas com problemas de saúde mental têm maior probabilidade de fazer menos exercícios ou ter uma alimentação ruim, o que está associado a um envelhecimento mais rápido.
Pessoas com problemas de saúde mental e, às vezes, problemas físicos relacionados, muitas vezes têm dificuldade para encontrar cuidados adequados, que é uma “experiência estressante”, disse Wertz. O grupo também tem maior probabilidade de ser exposto à violência e ao estigma da doença. Além disso, só o fato de ter um transtorno mental pode causar danos ao corpo – muitas vezes, independentemente de como as pessoas cuidam de si mesmas.
Segundo o estudo, a estafa aumenta a circulação dos hormônios do estresse e a inflamação, o que pode levar a um envelhecimento mais rápido e doenças subsequentes. “Pensamos na depressão como uma doença que se origina no cérebro com distúrbios químicos. Mas ela provavelmente é uma doença sistêmica que afeta todo o corpo”, opinou o doutor Brent Forester, membro do Conselho de Psiquiatria Geriátrica da Sociedade Americana de Psiquiatria e chefe do Centro de Excelência em Psiquiatria Geriátrica do Hospital McLean em Massachusetts.
Quanto mais tempo trabalho com esse tema, e quanto mais atendo adultos mais velhos em particular, mais penso na doença psiquiátrica não como um distúrbio cerebral, mas como um distúrbio de corpo inteiro
Brent Forester
Uma limitação do estudo é que os autores deixaram de observar os adultos após os 45 anos, de forma que não se sabe se o envelhecimento acelerado continuaria e se manifestaria como doenças crônicas. “Mas eu diria que quanto mais velho você fica, é mais provável que alguns desses problemas médicos apareçam mais cedo do que tarde”, continuou Forester.
Unindo saúde mental e física
Para a autora do estudo, a doutora Wertz, as descobertas sugeriram que, com uma melhor prevenção, identificação precoce e melhor tratamento de problemas de saúde mental, os profissionais de saúde podem ajudar a reduzir e retardar o envelhecimento e consequências físicas. “Há uma janela de oportunidade, especialmente porque esses problemas de saúde mental frequentemente ocorrem relativamente mais cedo no curso da vida do que as doenças físicas”.
“As pessoas que experimentam esses problemas de saúde mental formam um grupo de alta prioridade que deve ser monitorado para sinais de envelhecimento mais rápido”, acrescentou. “Para fazer isso, é preciso ter uma grande integração entre os serviços que tratam a saúde mental e aqueles que cuidam da saúde física, já que, no momento, eles estão separados”.
Os transtornos mentais podem ser debilitantes a ponto de a pessoa não conseguir manter hábitos saudáveis, e esse desafio pode ser agravado pela pandemia. Para quem não vive a doença, parece fácil falar que o melhor é buscar ajuda profissional para diagnóstico, terapia e gerenciamento de medicamentos. Ainda assim, a autora do estudo disse que o conselho deve ser reforçado, pois deixar que o próprio paciente “gerencie sozinho os problemas” pode não os resolver.
Vale lembrar sempre que um “estilo de vida saudável é a chave para prevenir doenças relacionadas ao envelhecimento e evitar que ele chegue precocemente”, acrescentou Wertz. Qualquer quantidade de atividade física, a socialização com segurança com outras pessoas, a redução do tabagismo e uma alimentação saudável podem ajudar a diminuir inflamações no corpo, entre outros benefícios.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).