Pesquisadores identificam nova variante do novo coronavírus no interior de SP
Presença da linhagem agora batizada como P.4 tem aumentado na região de Porto Ferreira
Uma nova linhagem do coronavírus foi descoberta no estado de São Paulo. Batizada como P.4, é uma variação da B.1.1.28, que deu origem a outras, como a P.1, descoberta em Manaus, a P.2, no Rio de Janeiro, e a P.3, em circulação nas Filipinas, na Ásia.
O patógeno tem a mutação L452R na proteína S, encontrada também na variante originária da Índia e, por isso, preocupa os pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), que a descobriram.
Essa mutação está relacionada ao escape de anticorpos neutralizantes, e está presente também em duas variantes da Califórnia. Elas e a indiana são consideradas de preocupação pelo Comitê de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
A primeira amostra que testou positivo para essa variante é de 18 de fevereiro, de um paciente da cidade de Mococa. A P.4 circula na região de Porto Ferreira, bem próximo à divisa de São Paulo com Minas Gerais. Na localidade, a presença dela tem crescido, em número de casos e proporcionalmente. Por isto, a Rede Corona-ômica, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), informou no dia quatro de maio a descoberta de uma “possível nova linhagem”.
Nesta terça-feira, as amostras sequenciadas foram admitidas como uma nova linhagem pelo GISAID, plataforma científica mundial que oferece uma base de dados genômicos de vírus. Segundo o pesquisador João Pessoa Araujo Junior, professor de Virologia da Unesp, os pesquisadores mostram preocupação com o ambiente no qual ela vem crescendo, considerado “competitivo” pelos pesquisadores.
“A região de Porto Ferreira tem a presença das variantes P.1 e do Reino Unido. São duas variantes de preocupação e, mesmo assim, ela está crescendo e, hoje, responde por 16% das amostras sequenciadas. Isso não aconteceria se ela não tivesse uma configuração que fosse benéfica ao vírus. Nossas suspeitas ocorreram por conta do aumento do número de casos na região, o que acreditamos que pode estar associado a essa variante”, afirma Araujo Junior, professor do campus de Botucatu da Unesp.
Segundo o pesquisador, ainda não é possível saber se a nova variante tem maior capacidade de transmissão, capacidade de agravamento da Covid-19 ou de letalidade. Isso será analisado a partir de agora, após a confirmação de que a P.4 corresponde a um novo ramo filogenético do vírus.
“Em descobertas como essas, nós temos mais perguntas que respostas. Vamos agora fazer novos estudos e estamos preparando uma nova publicação. O reconhecimento de uma nova variante depende de dados epidemiológicos, como esses levantados. Sem dúvidas, ela representa uma adaptação importante para o vírus”, conclui Araujo Junior.