Perder parceiro de longa data pode ser prejudicial à saúde, mostram estudos
Especialistas batizaram o problema de “síndrome do coração partido”
O mundo se juntou à rainha Elizabeth II na tristeza pela perda de seu marido de sete décadas. O príncipe Philip, Duque de Edimburgo, morreu na sexta-feira (9), apenas dois meses antes de seu 100º aniversário.
A dupla era um casal amoroso e unido. A rainha disse aos convidados, em um almoço em seu 50º aniversário de casamento, que Philip tinha “simplesmente sido minha força e permanência todos esses anos”.
Com a falta de “amor e ajuda constantes” do marido, as atenções agora se voltam para o bem-estar da rainha. A morte de um ente querido é um golpe em qualquer momento, mas perder o cônjuge depois de muitos anos juntos pode ser especialmente difícil.
Estudos demonstraram que os cônjuges sobreviventes podem sofrer de distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, função imunológica prejudicada e saúde física geral precária.
Para aqueles preocupados com a rainha em seu momento de grande perda pessoal, muitos podem estar se perguntando se há evidências médicas de que o luto está afetando a saúde de alguém.
Síndrome do ‘coração partido’
Conhecida como cardiomiopatia induzida por estresse, a síndrome do “coração partido” é uma condição médica documentada.
A síndrome ocorre quando o coração fica atordoado por um estresse agudo repentino e seu ventrículo esquerdo enfraquece. Em vez de se contrair em sua forma normal de flecha, o ventrículo esquerdo deixa de funcionar, criando uma forma mais arredondada, semelhante a um pote.
Descrito pela primeira vez em 1990, no Japão, um coração partido se parece tanto com uma armadilha de polvo japonesa chamada takotsubo, que os médicos começaram a denominar a doença de cardiomiopatia de Takotsubo.
“O coração realmente muda de forma em resposta a uma perturbação emocional aguda, como após o rompimento de um relacionamento romântico ou a morte de um ente querido”, disse Sandeep Jauhar, cardiologista e escritor de Nova York.
Na maioria dos casos, no entanto, quando o estresse emocional agudo se dissipa, o coração se recupera e volta à sua forma normal.
“Mas eu tive pacientes que desenvolveram insuficiência cardíaca congestiva aguda, arritmias com risco de vida, e até morte por essa condição”, acrescenta Jauhar. “Acho que é o exemplo mais claro de como nossas vidas emocionais afetam diretamente nossos corações”.
A síndrome é mais comumente vivenciada por mulheres (90% dos casos), pessoas com histórico de problemas neurológicos, como convulsões, e pessoas com histórico de problemas de saúde mental.
‘Efeito viuvez’
Há outra realidade médica que pode ocorrer quando um relacionamento longo termina, mostram os estudos.
“O aumento da probabilidade de uma pessoa viúva recentemente morrer – muitas vezes chamada de ‘efeito da viuvez’ – é um dos exemplos mais bem documentados do efeito das relações sociais na saúde”, escreveram, em 2008, os pesquisadores Nicholas Christakis, que dirige o Laboratório da Natureza Humana na Universidade de Yale, e Felix Elwert, professor de sociologia da Universidade de Wisconsin.
O risco de um idoso morrer por qualquer causa aumenta entre 30% e 90% nos primeiros três meses após a morte do cônjuge e cai para cerca de 15% nos meses seguintes. O efeito da viuvez foi documentado em todas as idades e raças ao redor do mundo.
Christakis e Elwert seguiram uma amostra representativa de 373.189 casais mais velhos nos Estados Unidos, de 1993 a 2002, e descobriram que “a viuvez não aumenta o risco de todas as causas de morte de maneira uniforme”.
Quando um parceiro morreu de morte súbita, o risco de morte do cônjuge sobrevivente aumentou. O mesmo acontecia com doenças crônicas como diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão ou cólon, que exigiam tratamento cuidadoso do paciente para tratar ou prevenir.
No entanto, se um cônjuge morreu de doença de Alzheimer ou Parkinson, não houve impacto na saúde do parceiro sobrevivente – possivelmente porque o cônjuge teve tempo adequado para se preparar para a perda do parceiro.
Apesar disso, “a morte de um cônjuge, por qualquer motivo, é uma ameaça significativa à saúde e representa um risco substancial de morte por qualquer causa”, registraram Christakis e Elwert.
O que pode ser feito
Apoio é a chave para o quão bem alguém consegue lidar com a morte de um cônjuge. Muitas pessoas acreditam que o aconselhamento do luto pode ajudar, de acordo com o Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA.
A Associação Americana de Pessoas Aposentadas (AARP, na sigla em inglês) oferece as seguintes sugestões para os sobreviventes:
Não finja que está tudo bem: cerque-se de pessoas para as quais você não precisa fingir que está bem. “O luto é um ato de grande coragem e força; não é para os fracos”, disse a AARP.
Seja gentil consigo mesmo: tente descansar o suficiente. “Quanto mais significativa a perda, mais profunda ela é e mais longo é o processo de recuperação”, afirmou.
Espere uma série de emoções, não apenas tristeza: segundo a associação, “seus sentimentos podem variar de tristeza a loucura, desespero e vislumbres ocasionais de felicidade – e vice-versa”.
Não se esconda das pessoas: “o luto é um processo bastante solitário”, relata a AARP. Faça o seu melhor para se conectar com amigos e familiares e deixe-os ajudar. “Quando os sobreviventes abraçam a ideia de que ver os amigos, isso os torna mais resistentes, eles não sofrem mais a culpa por se divertir”.
(Texto traduzido. Leia o original, em inglês)