Perda muscular compromete a recuperação do paciente após tratamentos
A sarcopenia aumenta o risco de complicações em diversos quadros, desde pacientes em quimioterapia até quem passou por cirurgias
Longe de ser uma questão apenas estética, a musculatura é essencial para quem está em tratamento de qualquer doença. A falta desse tecido aumenta o risco de complicações e está associada a pior prognóstico. Por isso é fundamental construir uma boa reserva ao longo da vida e tratar os casos de sarcopenia – a perda da massa muscular e da força –, alertam os especialistas.
“Os músculos são protetores da saúde e têm relação com a imunidade”, explica o médico nutrólogo Diogo Toledo, do Hospital Israelita Albert Einstein. Eles têm sido identificados como um tecido-chave para o metabolismo porque conversam com todos os órgãos do corpo. Pesquisas mostram que a perda de 10% leva à baixa imunidade e às infecções e, se chegar a 30%, há 50% mais risco de pneumonia e dificuldade de cicatrização. Uma queda de 40% dobra o risco de morte.
Um estudo feito com pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), liderado por Toledo, comprovou que aqueles que perdiam mais musculatura tinham piores desfechos, com mais tempo de uso de ventilador, maior período de internação e maior taxa de mortalidade.
O tratamento do câncer também é afetado pela sarcopenia. “Pacientes que têm mais músculos apresentam menos efeitos colaterais, como diarreia, vômito e fadiga, e melhor adesão ao tratamento”, diz o especialista. Já nos casos cirúrgicos, quem tem pouca musculatura sofre maior risco de complicações pós-operatórias, necessidade de UTI e de home care.
“Recomenda-se que todos os pacientes, inclusive os oncológicos, façam tratamento para recuperar a massa magra com atividade física e suplementação”, diz o médico nutrólogo. Claro, sempre sob a orientação médica. “Isso reforça a importância do tratamento interdisciplinar, incluindo profissionais de educação física, fisioterapia e nutrição, entre outros.”
Sarcopenia em idosos
Mesmo em idosos saudáveis, a falta de tecido muscular está associada à maior mortalidade por todas as causas. A sarcopenia – e a sarcopenia associada à obesidade – aumenta em cerca de 30% o risco de morte em um período de dez anos, mostra um estudo que acaba de ser publicado no JAMA, o periódico da Associação Médica Americana, que acompanhou quase 6 mil pessoas.
Os músculos representam entre 30 e 40% do nosso corpo e estão envolvidos em todos os movimentos, incluindo a mastigação, a deglutição e a respiração, além da postura corporal. Depois de atingir o ápice, por volta dos 25 anos, ocorre uma perda natural, que se acentua após os 40, devido ao envelhecimento. Obesidade, sedentarismo e doenças como o câncer, AVC (Acidente Vascular Cerebral), Alzheimer, diabetes e doença renal crônica, entre outras, também provocam a perda muscular.
“Por isso é essencial fazer uma boa reserva ao longo da vida, principalmente antes dos 40 anos, já que depois é mais difícil”, orienta Toledo. Exames como a composição corporal e a medida da panturrilha, além de questionários específicos, com dados sobre a dificuldade de se locomover ou se levantar de uma cadeira, por exemplo, ajudam a avaliar a quantidade de músculos no organismo e diagnosticar a sarcopenia.
O tratamento é baseado em alimentação adequada, incluindo suplementação proteica, atividade física, com exercícios de força e resistência, além dos aeróbicos, e uma boa higiene do sono, pois os hormônios envolvidos na reparação dos tecidos são liberados enquanto dormimos. No caso dos idosos, a recomendação também inclui exercícios de equilíbrio e funcionais, que simulam atividades da vida diária, como sentar-se e levantar-se.
“Esses são hábitos que devem ser adotados na rotina diária em todas as fases da vida, sem se focar em resultados imediatos e não sustentáveis”, afirma o especialista.