OMS convoca reunião de emergência sobre varíola dos macacos
Encontro deve acontecer nesta sexta-feira (20), segundo fontes próximas à agência das Nações Unidas (ONU)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) deve realizar uma reunião de emergência para discutir os casos em humanos da varíola dos macacos nesta sexta-feira (20), segundo fontes próximas à agência das Nações Unidas (ONU).
O comitê que se reunirá é o Grupo Consultivo Estratégico e Técnico sobre Riscos Infecciosos com Potencial de Pandemia e Epidemia (STAG-IH, na sigla em inglês), que aconselha a OMS sobre riscos de infecção que podem representar uma ameaça à saúde global.
Mais de 100 casos da infecção viral, que se espalha por contato próximo e geralmente apresenta quadros leves, foram relatados recentemente fora dos países da África onde a doença é endêmica.
A Alemanha descreveu este como o maior surto na Europa até o momento. Já foram confirmados casos em pelo menos cinco países – Reino Unido, Espanha, Portugal, Alemanha e Itália – bem como Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Identificada pela primeira vez em macacos, a doença geralmente se espalha por contato próximo e raramente se dissemina para fora da África, o que motivou a preocupação sobre essa série de casos.
No entanto, os cientistas não esperam que o surto evolua para uma pandemia como a Covid-19, já que o vírus não se espalha tão facilmente quanto o SARS-COV-2.
A varíola dos macacos é geralmente uma doença viral leve, caracterizada por sintomas de febre, bem como uma erupção cutânea.
“Com vários casos confirmados no Reino Unido, Espanha e Portugal, este é o maior e mais disseminado surto de varíola já visto na Europa”, disse o serviço médico das Forças Armadas da Alemanha, que detectou seu primeiro caso no país nesta sexta-feira.
Fabian Leendertz, do Instituto Robert Koch, descreveu o surto como uma epidemia.
“No entanto, é muito improvável que esta epidemia dure muito. Os casos podem ser bem isolados através do rastreamento de contatos e também existem medicamentos e vacinas eficazes que podem ser usadas se necessário”, disse ele.
As autoridades britânicas disseram na quinta-feira (19) que ofereceram uma vacina contra a varíola a alguns profissionais de saúde e outros que podem ter sido expostos.
Risco de espalhamento da doença
O chefe da OMS na Europa disse nesta sexta-feira que está preocupado que a disseminação da varíola possa acelerar na região à medida que as pessoas se reúnem para festas e festivais durante os meses de verão, no hemisfério Norte.
“À medida que entramos na temporada de verão na região europeia, com reuniões de massa, festivais e festas, estou preocupado que a transmissão possa acelerar, pois os casos atualmente detectados estão entre aqueles que praticam atividade sexual e os sintomas são desconhecidos para muitos”, afirmou o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, em um comunicado.
Casos incomuns
Desde 1970, casos de varíola dos macacos foram relatados em 11 países africanos. A Nigéria teve um grande surto desde 2017 – até agora este ano, houve 46 casos suspeitos, dos quais 15 foram confirmados, segundo a OMS.
O primeiro caso europeu foi confirmado em 7 de maio em um indivíduo que retornou à Inglaterra da Nigéria.
Desde então, mais de 100 casos foram confirmados fora da África, de acordo com um rastreador de um acadêmico da Universidade de Oxford.
Muitos dos casos não estão ligados a viagens ao continente africano. Como resultado, a causa desse surto não é clara, embora as autoridades de saúde tenham dito que há potencialmente algum grau de disseminação comunitária.
No Reino Unido, onde 20 casos foram confirmados, a Agência de Segurança da Saúde disse que os casos recentes no país foram predominantemente entre homens que se identificaram como gays, bissexuais ou homens que fazem sexo com homens.
Os 14 casos em Portugal que foram todos detectados em clínicas de saúde sexual são também em homens que se autoidentificam como gays, bissexuais ou homens que fazem sexo com homens.
As autoridades de saúde da Espanha disseram que 23 novos casos foram confirmados na sexta-feira, principalmente na região de Madri, onde a maioria das infecções está ligada a um surto em uma sauna para adultos.
É muito cedo para dizer se a doença se transformou em uma infecção sexualmente transmissível, disse Alessio D’Amato, comissário de saúde da região do Lácio, na Itália. Três casos foram registrados até agora no país.
O contato sexual, por definição, é um contato próximo, acrescentou Stuart Neil, professor de virologia do Kings College London.
“A ideia de que há algum tipo de transmissão sexual nisso, eu acho, é um pouco exagerada”, disse ele.
Os cientistas estão sequenciando o vírus de diferentes casos para ver se eles estão ligados, disse a OMS. A expectativa é de que a entidade forneça uma atualização em breve.
Características da doença
A varíola dos macacos (Monkeypox) é uma doença transmitida de animais para humanos (zoonose) silvestre. As infecções humanas incidentais ocorrem esporadicamente em partes florestais da África Central e Ocidental.
A doença é causada pelo vírus da varíola dos macacos, que pertence à família dos ortopoxvírus, e pode ser transmitido por contato e exposição a gotículas exaladas. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
A doença é muitas vezes autolimitada com sintomas geralmente desaparecendo espontaneamente dentro de 14 a 21 dias. Os sintomas podem ser leves ou graves, e as lesões podem ser muito pruriginosas ou dolorosas.
O reservatório animal permanece desconhecido, embora seja provável que esteja entre os roedores. O contato com animais vivos e mortos através da caça e do consumo de caça ou carne de caça são fatores de risco conhecidos.
Existem dois grupos de vírus da varíola dos macacos, o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central). Embora a infecção pelo vírus da varíola dos macacos na África Ocidental às vezes leve a doenças graves em alguns indivíduos, a doença geralmente é autolimitada.
A taxa de mortalidade de casos para o grupo da África Ocidental foi documentada em cerca de 1%, enquanto para o da Bacia do Congo, pode chegar a 10%. As crianças também estão em maior risco, e a varíola durante a gravidez pode levar a complicações, como varíola congênita ou morte da criança.
Casos mais leves de varíola podem passar despercebidos e representar um risco de transmissão de pessoa para pessoa. É provável que haja pouca imunidade à infecção naqueles que viajam e expostos, pois a doença endêmica é geograficamente limitada a partes da África Ocidental e Central.
(Reportagem adicional de Emma Pinedo Gonzalez, Emma Farge, Catriona Demony e Patricia Weiss; Edição de Josephine Mason e Nick Macfie; com informações de Lucas Rocha, da CNN)