O que significam os níveis de transmissão ‘substanciais’ e ‘altos’ do CDC
Termos fazem parte do sistema de quatro níveis dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), que mede o nível de transmissão comunitária
A orientação de saúde emitida nos Estados Unidos, na terça-feira (27), recomenda que as pessoas totalmente vacinadas usem máscaras em ambientes fechados se estiverem em áreas com transmissão “substancial” ou “alta” de Covid-19. Mas o que “substancial” e “alto” realmente significam?
Os dois termos fazem parte do sistema de quatro níveis dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), que mede o nível de transmissão comunitária em cada condado: baixo, moderado, substancial e alto. No site do CDC, é possível fazer uma pesquisa por estado ou condado e clicar no mapa codificado por cores para ver a atividade do vírus, caso você more nos Estados Unidos.
O nível de transmissão de um condado é baseado em apenas duas métricas: novos casos de Covid-19 por 100 mil habitantes e a taxa de positividade, ambas medidas nos últimos sete dias. A ideia básica é que isso mostre a quantidade de vírus que está se espalhando ao nosso redor, disse a analista médica da CNN, Leana Wen.
“O nível de transmissão do coronavírus é um determinante importante de quanto risco você corre, se você está vacinado ou não”, disse ela.
Especificamente, uma transmissão “baixa” é considerada no máximo 10 casos por 100 mil pessoas ou uma taxa de positividade dos testes de menos de 5%. A transmissão “moderada” é de 10 a 50 casos por 100 mil habitantes, ou uma taxa de positividade entre 5% e 8%. A transmissão “substancial” é de 50 a 100 casos por 100 mil, ou uma taxa de positividade entre 8% e 10%, e a transmissão “alta” é de 100 ou mais casos por 100 mil pessoas ou uma taxa de positividade de 10% ou superior.
Se um condado tiver valores em dois níveis de transmissão diferentes, o CDC usará a métrica mais alta.
No mapa do CDC, os condados com níveis baixos estão representados em azul, os condados moderados estão em amarelo, os condados substanciais estão em laranja e os condados altos estão em vermelho. Os condados variam em tamanho, então também é uma boa ideia verificar o site de uma secretaria de saúde de uma cidade, estado ou município.
Na quarta-feira (28), cerca de 50% dos condados permaneciam com alta transmissão e 17% com transmissão substancial, o que cobre amplas faixas do Sul e do Oeste, de acordo com dados do CDC. Cerca de 27% dos condados dos Estados Unidos são considerados como tendo transmissão moderada e apenas cerca de 9% têm transmissão baixa.
Autoridades de saúde dizem que esta nova orientação, uma atualização de maio, reflete os últimos avanços científicos sobre a variante Delta, mais transmissível, e evidências que sugerem que as pessoas vacinadas ainda podem espalhar o vírus. A maior parte da propagação do vírus ainda parece vir de pessoas não vacinadas, que correm um risco muito maior de doença grave que pode ocasionar hospitalizações e a morte.
A orientação sobre o uso de máscara visa lembrar as pessoas que estão totalmente vacinadas que elas ainda podem infectar outras pessoas, disse a diretora do CDC, Rochelle Walensky, na terça-feira.
Os pontos fortes e fracos do sistema do CDC
Vários especialistas em saúde questionaram partes da decisão do CDC de atualizar a orientação da máscara e suas métricas específicas.
Por um lado, o sistema do CDC é exclusivamente baseado em novos casos e taxa de positividade – mas não considera os não vacinados, hospitalizações, mortes ou qualquer um dos outros índices relevantes que os especialistas analisam desde o início da pandemia.
“Se você me perguntasse como eu defino uma comunidade com alta transmissão, eu diria: ‘Não olho para nenhum número'”, disse Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina de Baylor. “Eu não olho para a taxa de positividade, a taxa por 100 mil, eu não olho para hospitalizações ou mortes. Eu vejo tudo em conjunto para realmente ter uma noção do que está acontecendo em um nível realmente alto”.
Hotez também questionou o entendimento do CDC de 100 casos por 100 mil pessoas como um nível “alto” de transmissão, que ele afirma ser um padrão baixo. Como os casos continuam a aumentar nas próximas semanas, o mapa do CDC provavelmente se tornará menos útil, disse ele.
“Tudo vai ficar vermelho em breve, e isso também não é bom porque não dá muito crédito para as vacinas“, disse.
A analista médica da CNN Leana Wen observou que as métricas do CDC não levam em consideração a taxa de vacinação de uma área.
“Eu gostaria que o CDC tivesse relacionado o uso de máscara em ambientes internos com as taxas de vacinação em uma comunidade. Isso é algo que as pessoas podem trabalhar, e é algo que é menos arbitrário”, disse ela. “É também mais motivador como incentivo”, acrescentou.
Além disso, as taxas de casos e de positividade são baseadas na quantidade de testes em uma comunidade, e não está claro se os Estados Unidos estão fazendo isso em um nível suficiente.
“Não acho que estamos fazendo um bom trabalho de medição de quanta disseminação está realmente em andamento neste país”, disse Scott Gottlieb, ex-comissário da Food and Drug Administration dos Estados Unidos – órgão semelhante à Anvisa no Brasil, no programa “Morning Edition” da NPR na quarta-feira. “Acho que temos muito mais propagação do que estamos captando”.
Os Estados Unidos não estão fazendo muitos testes, disse ele, e muitos dos testes realizados são em casa e não são relatados às autoridades locais. E muitas pessoas que estão se infectando agora ou apresentando sintomas leves não procuram fazer exames.
“De modo geral, as pessoas que se apresentam para o teste são pessoas que estão ficando muito doentes ou pessoas que estão desenvolvendo sintomas reveladores de Covid-19, como perda de paladar ou olfato”, disse ele. “Portanto, provavelmente estamos pegando uma fração muito pequena das infecções gerais”.
Wen se mostrou igualmente cética quanto ao nível de testes em algumas partes dos Estados Unidos, dizendo que acreditava que o país poderia ter subnotificações.
“Não tenho certeza se o número total de casos retrata o quadro mais preciso, mas é pelo menos um dado razoável”, disse ela.
Ainda assim, o principal problema da especialista com a orientação do CDC foi a perda do ponto básico desta fase da pandemia – vacinar as pessoas. “O principal problema não são os vacinados, são os não vacinados. Não vamos retroceder aqui”, disse.
Naomi Thomas, Jacqueline Howard, Deidre McPhillips e Maggie Fox, da CNN, contribuíram para esta reportagem
Texto traduzido, leia o original em inglês.