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    O que já se sabe sobre a origem da Covid-19

    Relatório da OMS diz que todas as evidências disponíveis sugerem origem animal natural, não um vírus manipulado ou construído

    Anna Satie, da CNN, em São Paulo

    Mais de um ano após a declaração da pandemia do novo coronavírus, a origem da doença ainda não foi completamente esclarecida. Até esta segunda-feira (24), a Covid-19 fez mais de 3,4 milhões de vítimas em todo o globo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. 

    Em março deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) publicou um relatório sobre os possíveis começos da transmissão. Uma delegação de especialistas viajou a Wuhan no mês anterior para uma investigação na cidade onde foram relatados os primeiros casos. 

    De acordo com o documento, “todas as evidências disponíveis sugerem que o Sars-CoV-2 [nome do vírus causador da Covid-19] tem origem animal natural e não é um vírus manipulado ou construído”.

    Não foi possível apontar com precisão quando foi o primeiro caso e como os humanos foram infectados inicialmente, embora a OMS planeje outras análises. 

    Porém, pouco depois da publicação, a China foi acusada pelo governo de 14 países de restringir o acesso dos cientistas a dados originais e amostras. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que os pesquisadores tiveram problemas durante a missão.

    No último domingo (23), o jornal “Wall Street Journal” noticiou que três pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan (WIV, na sigla em inglês) procuraram cuidados hospitalares em novembro de 2019 — um mês antes dos primeiros casos de Covid-19 relatados. 

    A informação seria de um relatório feito pelo serviço de inteligência dos Estados Unidos e que não foi divulgado. A descoberta alimenta os teóricos de que o vírus poderia ter sido vazado acidentalmente do laboratório, uma hipótese negada pelo governo chinês e considerada “de risco extremamente baixo” pela OMS. 

    Entender a origem de um novo vírus é fundamental para identificar a fonte e prevenir contatos semelhantes, além de poder ajudar na descoberta de curas e tratamentos. 

    Quais são as principais conclusões do relatório da OMS?

    O estudo completo da OMS foi publicado em 30 de março, após uma equipe composta por cientistas de várias nacionalidades passar quatro semanas em Wuhan entre janeiro e fevereiro deste ano. 

    Nas 120 páginas, o documento relata que o vírus está relacionado geneticamente a coronavírus encontrados em morcegos do gênero Rhinolophus, encontrado na Ásia, África, Oriente Médio e Europa.

    O primeiro Sars-CoV, que causou a epidemia de Sars em 2003, provavelmente teve origem em um morcego, que infectou uma civeta, espécie de mamífero mantido em criadouros, que, então, transmitiu o vírus a um humano. Sars é sigla em inglês que significa “Severe Acute Respiratory Syndrome” ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em português. Os especialistas acreditam que o mesmo aconteceu com o Sars-CoV-2, através de um animal intermediário que ainda não foi identificado. 

    O sequenciamento genético das primeiras amostras sugerem que essa contaminação entre espécies aconteceu nos últimos quatro meses de 2020.

    Apesar de várias infecções estarem ligadas a um mercado de espécimes selvagens de Wuhan, o relatório diz que investigações aprofundadas mostraram pacientes que começaram a ter sintomas no começo de dezembro, e que não tinham nenhuma ligação com o local. O documento sugere que eles foram infectados em novembro por contato com outros casos que não foram identificados, uma vez que o vírus tem um período de incubação que pode durar até 14 dias. 

    “Estudos adicionais estão sendo realizados para verificar se infecções não-reconhecidas em humanos podem ter acontecido até o meio de novembro de 2019”, diz o texto. 

    Mercado de vida selvagem em Wuhan, China
    Mercado de vida selvagem em Wuhan, China
    Foto: CNN

    O relatório também conclui que o risco de o vírus ter sido transmitido por acidente humano era “extremamente baixo”.

    O ecologista de doenças Peter Daszak, que trabalhou na equipe da OMS, disse à CNN que”ainda não há evidências de que a doença tenha vindo de um laboratório”. Ele observou que os pesquisadores foram testados e não foram encontradas evidências de anticorpos para Covid-19 e que o laboratório era “muito bem administrado”.

    “Não é um descarte completo dessa hipótese”, disse Daszak. “É uma conclusão extremamente improvável e existem hipóteses muito mais prováveis por aí.”

    A OMS reiterou que “todas as hipóteses continuam abertas”. “Todas as hipóteses continuam na mesa, esse relatório é um início muito importante, mas não é o fim. Ainda não encontramos a origem do vírus e devemos continuar a seguir a ciência, e não deixar nenhuma aresta sem aparar ao fazermos isso”, disse o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom.

    “Encontrar a origem de um vírus leva tempo e devemos ao mundo encontrar a fonte para coletivamente reduzirmos o risco de isso acontecer novamente. Uma única viagem de pesquisa não poderia prover todas as respostas”. 

    O relatório completo e uma versão abreviada estão disponíveis em inglês no site da OMS. 

    Controvérsias da missão à China

    Um dia depois da publicação do relatório da OMS, 14 países publicaram uma declaração conjunta em que expressam preocupação com o acesso limitado do estudo a “dados e amostras originais completas”. 

    Entre os signatários estão os Estados Unidos, Austrália, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Israel, Japão, Letônia, Lituânia, Noruega, Coreia do Sul, Eslovênia e o Reino Unido. 

    “Juntos, apoiamos uma análise e avaliação transparente e independente, livre de interferência e influências indevidas, sobre as origens da pandemia da Covid-19”, diz o texto. “É importante que vocalizemos nossas preocupações compartilhadas que o estudo internacional sobre a fonte do vírus Sars-CoV-2 foi significativamente atrasada e não teve acesso às amostras e aos dados originais completos”.

    A União Europeia também publicou uma nota semelhante. 

    Em um pronunciamento, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, confirmou que os especialistas tiveram problemas no acesso a dados em Wuhan. 

    “Nas minhas discussões com a equipe, eles expressaram as dificuldades que encontraram no acesso aos dados crus. Eu espero que os próximos estudos colaborativos incluam um compartilhamento de dados mais pontual e amplo”, disse. 

    Dominic Dwyer, especialista australiano em doenças infecciosas e um dos membros da delegação da OMS, disse à agência Reuters que a equipe solicitou dados dos pacientes nos primeiros 174 casos em Wuhan em dezembro de 2019, mas que o pedido foi negado e que eles receberam apenas um resumo. 

    O país também teria atrasado a entrega de informações importantes sobre a doença nos primeiros dias da pandemia, de acordo com documentos internos da OMS, por conta dos controles rígidos de segurança no país. Documentos obtidos pela CNN no fim do ano passado também mostraram que o país informou menos casos do que o número público oficial no começo da epidemia. 

    Possíveis casos anteriores

    Neste domingo, o “Wall Street Journal” noticiou que três pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), na China, adoeceram em novembro de 2019 e procuraram atendimento médico, de acordo com um relatório confidencial feito pelo serviço de Inteligência dos Estados Unidos.

    A China relatou à Organização Mundial da Saúde que o primeiro paciente com sintomas semelhantes aos de Covid-19 foi registrado em Wuhan em 8 de dezembro de 2019. O Instituto de Virologia de Wuhan já conduziu pesquisas em morcegos sobre coronavírus. 

    Nos últimos dias do governo Trump, o ex-secretário de Estado Mike Pompeo sugeriu a possibilidade de o vírus ter vazado do WIV. Às acusações, o Partido Comunista da China escreveu um editorial em que desafia Pompeo a apresentar provas

    O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, disse que o relato publicado pelo WSJ é “completamente falso”.

    “Através de visitas a campo e visitas aprofundadas na China, os especialistas concordaram de maneira unânime que a alegação de vazamento laboratorial é extremamente improvável”, disse.

    Instituto de Virologia de Wuhan, na China
    Instituto de Virologia de Wuhan, na China
    Foto: Thomas Peter/Reuters (3.fev.2021)

    Yuan Zhiming, diretor do Laboratório Nacional de Biossegurança em Wuhan, que é parte do Instituto de Virologia de Wuhan, também disse que a internação dos pesquisadores era uma “mentira completa”. 

    “Essas alegações são infundadas”, disse ele ao tabloide nacionalista Global Times. “O laboratório não tem conhecimento dessa situação, e eu nem sei de onde veio essa informação.”

    A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse nesta segunda-feira que o governo não podia confirmar a reportagem e que precisavam de mais informações. 

    (*Com informações da Reuters e da CNN Internacional)

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