O que explica a liberação de desfiles em sambódromo e a proibição de blocos de rua
Especialistas afirmam que a realização de grandes eventos no carnaval deve ser feita com cautela e com protocolos sanitários, como o passaporte da vacina e o uso de máscaras
A realização do Carnaval de forma segura está associada ao acompanhamento do cenário epidemiológico da doença nas cidades e no país como um todo. A afirmação tem sido feita por epidemiologistas rotineiramente, desde 2021, quando questionados sobre os preparativos dos municípios para as festas.
A emergência da linhagem Ômicron, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como variante de preocupação em novembro de 2021, colocou em discussão os riscos para o acontecimento dos eventos. A cepa apresenta uma alta capacidade de transmissão, embora esteja relacionada a quadros clínicos mais leves.
Por razões ainda incertas, a Ômicron também está associada a quadros de reinfecção e da chamada infecção disruptiva, que é o termo técnico utilizado para explicar os casos da doença mesmo em pessoas vacinadas.
Cancelamento do carnaval de rua
Pelo menos dez capitais brasileiras anunciaram que não terão Carnaval de rua neste ano, segundo um levantamento da Agência CNN.
Entre as cidades que não terão blocos nas ruas estão: Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Teresina (PI), Belém (PA), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e São Luís (MA).
Em entrevista à CNN, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que a realização dos blocos de rua cariocas impede o estabelecimento de medidas de controle sanitário. No entanto, a Prefeitura do Rio de Janeiro manteve a realização dos desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí.
Na cidade de São Paulo, a prefeitura autorizou, no dia 31 de dezembro 12, 696 desfiles de blocos de rua, o maior número na história da capital. Em nota, a prefeitura afirmou que a realização depende das autorizações definitivas dos órgãos de Saúde que avaliam o cenário epidemiológico da pandemia de Covid-19.
Passaporte da vacina
Para a pesquisadora Chrystina Barros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a realização de grandes eventos no Carnaval deve ser feita com cautela. “Frente à transmissibilidade, ao quanto que a Ômicron tem se demonstrado capaz de contaminar pessoas inclusive vacinadas, diante deste cenário, nenhum tipo de aglomeração é seguro”, diz.
Segundo a especialista, a diferença entre o desfile das escolas de samba e o Carnaval de rua está na possibilidade de exigência do passaporte vacinal para o ingresso no sambódromo.
“Sabemos que mesmo estando no calor, tudo o que o vírus precisa são de pessoas próximas. Por isso, é impossível qualquer tipo de controle em rua. Em ambientes de controle e acesso restrito, pode-se cobrar o cartão vacinal. Por isso, são ambientes onde o controle sanitário se torna possível”, afirma.
Impactos para a saúde pública
O avanço da vacinação é um ponto positivo para o contexto epidemiológico no Brasil. No entanto, a alta transmissibilidade da variante Ômicron poderá levar ao aumento expressivo no número de casos no país. A avaliação é do pesquisador Hermano Castro, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
“Nós temos uma população vacinada, isso é muito vantajoso. Mas temos uma transmissão mais acelerada dessa nova variante. Nesse momento, do ponto de vista epidemiológico o ideal é que não tivéssemos nada em ambientes fechados e com pouco controle sanitário, principalmente festas e aglomerações”, diz.
A opinião é compartilhada pelo microbiologista Luiz Almeida, pesquisador do Instituto Questão de Ciência. “O carnaval aberto, na rua, era para impedir mesmo, para evitar com que as pessoas se aglomerem. Ainda assim, pensando no sambódromo, as pessoas vão ter que se deslocar para lá, o que vai gerar uma aglomeração. É uma preocupação a se pensar”, aponta.
Para o pesquisador, a realização de grandes eventos de forma descontrolada poderá levar ao aumento no número de casos e, consequentemente, à superlotação dos serviços de saúde com atendimento de pessoas com sintomas gripais e de internações pela doença.
“O risco vai ser acumular muitos casos de uma única vez. O que falávamos no início da pandemia, de achatar a curva e não superlotar os hospitais. Vai chegar a conta das festas do final do ano e pode ser que isso se acumule com o Carnaval, se não tomarmos cuidado”, diz.
“Por mais que muitas pessoas estejam vacinadas – e muito por conta disso a Ômicron parece não ser tão grave, ainda assim o atendimento vai continuar o mesmo, um grande número de pessoas infectadas ao mesmo tempo pode fazer com que as pessoas fiquem sem acesso aos hospitais e serviços de saúde”, completa.
Como se proteger no Carnaval
Para os pesquisadores, a adoção de medidas de proteção individual pode contribuir para reduzir os riscos de transmissão de doenças respiratórias, como a gripe e a Covid-19, durante o Carnaval.
A adesão à vacinação, o uso constante de máscaras ajustadas ao rosto, cobrindo o nariz e a boca, a higienização das mãos com água e sabão e o uso de álcool gel são algumas das estratégias para prevenir os agravos.
“Mesmo no sambódromo, com as pessoas apresentando comprovante de vacinação, também está tecnicamente indicado que elas usem máscaras por que elas estarão muito próximas umas das outras e cantando a plenos pulmões o samba da sua escola. O uso de máscaras continua sendo uma indicação técnica, ainda que ao ar livre, mas sempre que houver proximidade de pessoas. Somente dessa maneira podemos dizer que está reduzido ao máximo o risco”, disse Chrystina.
(Com informações de Giovanna Bronze, Fábio Munhoz, Camille Couto e Leonardo Lopes, da CNN)
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