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    O que explica a alta de Covid-19 na Europa e o que isso representa para o Brasil

    Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta de que a Europa é novamente o epicentro da pandemia

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    A pandemia de Covid-19 volta ao centro das preocupações na Europa. Alemanha, França, Dinamarca, Áustria e países do leste europeu apresentam índices crescentes no número de casos e de mortes pela doença. As infecções também avançam na Rússia, que divide-se entre a Europa e a Ásia.

    No dia 4 de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta de que a Europa é novamente o epicentro da pandemia. De acordo com a OMS, países da Europa e Ásia Central apresentam diferentes níveis de implantação da vacinação. No comunicado, a organização diz que apenas 47% dos cidadãos da Europa e Ásia Central completaram o esquema vacinal. Enquanto oito países já ultrapassaram a cobertura de 70%, em dois países a taxa permanece abaixo de 10%.

    Segundo a OMS, nos locais onde a adesão à vacina é baixa – em países bálticos, da Europa Central e Oriental e nos Balcãs – as taxas de hospitalização são altas.

    “Devemos mudar nossas táticas de reação aos surtos de Covid-19 para evitar que eles aconteçam em primeiro lugar”, disse Hans Henri Kluge, diretor regional da OMS na Europa em uma declaração à imprensa.

    Especialistas consultados pela CNN ajudam a explicar o cenário epidemiológico na Europa e fazem um alerta sobre como a pandemia poderá impactar o Brasil nos próximos meses.

    Aproximação do inverno

    Com a proximidade do inverno, as temperaturas começam a cair na maior parte dos países de clima temperado, como os da Europa. Diferentemente do Brasil, lá a estação mais fria do ano costuma ser caracterizada por frio intenso, com tempo fechado e presença de neve.

    A condição climática favorece mudanças no comportamento, fazendo com que as pessoas passem mais tempo reunidas em ambientes fechados em busca de conforto e aquecimento.

    Nações do Leste europeu como Eslovênia, Croácia, Geórgia, Eslováquia e Lituânia estão entre as com maiores índices de novos casos no continente (veja quadro abaixo). Outros países, como Reino Unido, Alemanha, França e Rússia também apresentam números crescentes da doença.

    Na quinta-feira (11), a Alemanha registrou mais um recorde diário de casos, com mais de 50 mil novas infecções em 24 horas. A média móvel de casos no país está em torno de 31 mil, pouco abaixo do Reino Unido, que está em 33 mil. Já a Rússia tem apresentado uma média de 40 mil novos casos diários na última semana.

    “No período do inverno, as pessoas tendem a se aglomerar em locais fechados, associado a isso, os países flexibilizaram independente da taxa de cobertura vacinal”, diz Júlio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

    Vale destacar que o que muda é o comportamento das pessoas, não do vírus em si. De acordo com os virologistas, o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, apresenta capacidades de transmissão semelhantes em ambientes frios e quentes. Para reforçar a hipótese, os especialistas utilizam como exemplo o grande número de casos registrados no Brasil entre dezembro de 2020 e março de 2021, período do verão no hemisfério Sul.

    Lacunas na vacinação

    Para o infectologista Júlio Croda, o aumento dos casos de hospitalização e de óbitos também reflete lacunas nos programas de vacinação contra a Covid-19.

    “A vacina protege as infecções sintomáticas e previne 50% da transmissão. A vacina tem o seu papel e impacto na redução da transmissão em gerar a imunidade coletiva”, afirma.

    “Se você tem uma taxa de vacinação que é de 50% a 70%, ainda não é uma taxa ideal, não há uma imunidade coletiva, o vírus pode continuar circulando. Se essa taxa de imunização não for elevada, vai ter aumento de hospitalização e de óbitos”, completa.

    O pesquisador da Fiocruz avalia que há dificuldade de adesão à vacina na Europa, que não sofre com a falta de doses, mas enfrenta a resistência do movimento antivacina.

    “Tem o negacionismo, o movimento antivacina muito forte e a falta dos governos em impor medidas restritivas como o passaporte vacinal, e estratégias de convencimento e de comunicação para conscientizar as pessoas de que é importante se vacinar. A vacina não é um ato individual, é um ato coletivo, se todo mundo se vacinar teremos menos circulação do vírus”, destaca.

    Embora o movimento antivacina no Brasil não tenha o mesmo impacto dos países da Europa e dos Estados Unidos, o pesquisador da Fiocruz reforça que o contexto global deve servir de alerta para o país.

    “O Brasil deve se preocupar sim. Ano passado, neste mesmo momento, tínhamos um número reduzido de casos. Flexibilizamos, houve aglomerações associadas às festas de fim de ano e houve um aumento de casos no país com o surgimento da variante Gama”, pontua.

    Alerta para o Brasil

    Para os especialistas, o avanço na vacinação na Europa levou à flexibilização precoce de medidas de restrição, incluindo a retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras.

    “Esses países flexibilizaram o uso de máscaras, algo que o Brasil está querendo fazer sem ter condições ainda, sem ter cobertura vacinal adequada para a segunda dose. Os países que estão, de alguma forma, com os piores indicadores são aqueles que têm menor cobertura vacinal na Europa”, afirma Croda.

    Para o pesquisador, o impacto neste ano tende a ser menor, devido ao avanço da vacinação. No entanto, um aumento de hospitalizações e de óbitos pode acontecer principalmente em estados que apresentam baixos índices de cobertura vacinal completa (duas doses ou dose única da Janssen), como Roraima (28%), Amapá (34%) e Pará (39%).

    Segundo Croda, a retomada de atividades e o convívio social com segurança depende da imunização completa e da manutenção do uso de máscaras.

    “Garantir que está totalmente imunizado reduz a transmissão. O grupo apto para receber a terceira dose deve realizar isso o mais breve possível para garantir mais proteção. Manter o uso de máscaras e evitar aglomerações é fundamental, são medidas que diminuem a transmissão”, conclui.

    O pesquisador José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a necessidade de ampliação na testagem para a Covid-19 no Brasil. “É importante investir fortemente em vigilância como medida de saúde pública. A testagem ainda não é algo fácil e disseminado no Brasil, para entrar nas escolas ou no ambiente de trabalho, por exemplo”, diz.

    O virologista enfatiza que o monitoramento de variantes do novo coronavírus deve ser intensificado, especialmente com o aumento de casos na Europa. Segundo ele, o surgimento de uma nova linhagem, com maior potencial de transmissibilidade, como a variante Delta, pode levar a novas ondas de casos e de hospitalizações.

    “Nesse momento, não há uma variante que justifique esse aumento importante de casos na Europa. Continua sendo a mesma Delta. Não acho que haja uma justificativa para o fechamento de fronteiras, desde que não haja novas variantes lá, mas a vigilância contínua se faz essencial”, conclui.

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