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    Entenda o que é a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ)

    A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou nesta quinta-feira (11) que analisa dois casos suspeitos da doença neurodegenerativa

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou nesta quinta-feira (11), que analisa dois casos suspeitos da Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Em um primeiro momento, a Fiocruz havia informado que se tratavam de suspeitas de Encefalopatia Espongiforme Bovina, conhecida popularmente como doença da vaca louca. No entanto, considerando aspectos clínicos e radiológicos, a fundação explicou, em um segundo comunicado, que as suspeitas se concentram sobre a DCJ.

    Em nota, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) esclareceu que doença ocorre, na maioria dos casos, de forma esporádica e tem causa e fonte infecciosas desconhecidas.  “Desta forma, os casos suspeitos não têm relação com consumo de carne bovina ou subprodutos contaminados com Encefalite Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como doença da ‘Vaca Louca'”, diz a nota do ministério.

    Saiba o que é a Doença de Creutzfeldt-Jakob, quais são os sintomas, as possíveis causas e como acontece o desenvolvimento do agravo.

    O que é a doença de Creutzfeldt-Jakob?

    A doença de Creutzfeldt-Jakob, uma enfermidade neurodegenerativa fatal, que afeta o sistema nervoso central, causada por agentes infecciosos chamados príons. Os pacientes podem apresentar distúrbios no raciocínio, perda de memória, prejuízos na fala, falta de coordenação de movimentos musculares e tremores.

    Os príons são partículas formadas por proteínas encontradas nas células do sistema nervoso dos seres humanos e de outros mamíferos. Em condições normais, a proteína príon celular (PrPc) não causa danos ao organismo. Ela exerce diversas funções fisiológicas, como a proteção dos neurônios contra a morte celular.

    No entanto, por razões que ainda não são totalmente esclarecidas, essas proteínas podem apresentar erros durante a sua formação. Esses erros levam a alterações na estrutura da proteína, que se torna infecciosa e tóxica.

    “Em condições de doença, a proteína passa a formar agregados que são infecciosos. Eles podem então pular de um neurônio para outro, levando-os à morte. Quando o neurônio morre, há uma perda de massa cerebral”, explicou Sérgio Ferreira, professor dos institutos de Bioquímica e Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    Cerca de 85% dos casos são esporádicos, afetam geralmente pessoas entre 55 e 70 anos, com uma incidência de 1 ou 2 casos para cada 1 milhão de habitantes. Entre 10 e 15% acontecem por mutação hereditária no príon. Ocorrências também raras foram registradas em consequência de procedimentos cirúrgicos e por meio do uso de instrumentos contaminados.

    De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2005 e 2014, foram notificados no Brasil 603 casos suspeitos da doença de Creutzfeldt-Jakob, sendo que 55 foram confirmados, 52 descartados, 92 indefinidos e 404 tiveram a classificação final ignorada ou em branco.

    Rápido agravamento é uma das características da doença de Creutzfeldt-Jakob

    A doença neurológica grave apresenta uma rápida evolução e, de forma inevitável, leva o paciente à morte. Os sintomas são variados e podem ser caracterizados por aspectos relacionados à demência progressiva, que pode ser associada a espasmos musculares involuntários, chamados tecnicamente de mioclonias.

    “A partir do início dos sintomas, a doença pode levar à morte em pouco mais de um ano. Infelizmente, não existe tratamento específico, nem cura, por enquanto. O que pode ser feito são apenas cuidados paliativos”, explica o neurocientista da UFRJ.

    Segundo Ferreira, a doença de Creutzfeldt-Jakob é muito rara e não existem evidências de contágio de uma pessoa para outra. “Ainda não temos certeza sobre o que dispara a doença. Sem saber o gatilho, não há como falar em medidas de prevenção”, explicou Sérgio.

    Diversas hipóteses buscam explicar a ocorrência dos erros na formação da proteína que levam ao desenvolvimento da doença. “Mutações podem ocorrer, fazendo com que ela não ‘dobre’ direito, ocasionando defeitos na fabricação.

    A proteína da célula pode ser modificada por radicais livres, estresse oxidativo, interação com metais pesados – são várias hipóteses. Não se sabe de algo que possa favorecer a doença, como alimentação ou estilo de vida”, diz o neurocientista.

    O diagnóstico pode ser realizado a partir de diversos exames, incluindo testes no sangue e a análise do líquor (fluido corporal produzido pelo cérebro, que também está presente na coluna).

    O neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Fernando Gomes, apresentador do quadro Correspondente Médico, do jornal do Novo Dia, da CNN, explica que uma característica específica da doença permite o diagnóstico por imagem: a destruição celular provoca danos no tecido do cérebro que deixam o órgão com aspecto esponjoso.

    “A doença de Creutzfeldt-Jakob tem alguns critérios já bem estabelecidos, como a evolução para uma demência rapidamente progressiva, uma lesão cerebral que acaba evoluindo e diagnosticada de forma bem clara nos exames de ressonância magnética e de encéfalo, além de ter alguns padrões motores”, disse Gomes.

    Relação com a doença da vaca louca

    A doença de Creutzfeldt-Jakob possui uma variante (vDCJ) chamada Encefalopatia Espongiforme Transmissível Humana (EETH). A doença é transmitida principalmente pelo consumo de carne e produtos bovinos contaminados com a Encefalite Espongiforme Bovina (EEB), conhecida popularmente como doença da vaca louca.

    A doença da vaca louca ganhou visibilidade nas décadas de 1980, quando houve um surto no Reino Unido, e 1990, quando foram registrados os primeiros casos da variante de Creutzfeldt-Jakob em humanos. O primeiro caso no mundo de provável transmissão sanguínea da variante foi confirmado pelo Reino Unido e teve como causa a transfusão de sangue por um doador infectado que não apresentava sintomas.

    Segundo o Ministério da Saúde, nenhum caso da variante de Creutzfeldt-Jakob foi confirmado no Brasil até hoje. O agravo já foi registrado em países como Reino Unido, França, Irlanda, Itália, Canadá e Estados Unidos.

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