‘Não podemos dar a impressão que a pandemia está vencida’, diz epidemiologista
À CNN, professora da UFES, Ethel Maciel, explica que aumento da transmissão nos EUA coloca em risco a Covid-19 em todo o mundo: "A pandemia é global"
Cerca de 19,2% da população brasileira está imunizada contra à Covid-19 seja porque recebeu duas doses de vacina ou o imunizante de dose única. Em entrevista à CNN, a epidemiologista e professora doutora da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), Ethel Maciel, disse que o percentual de vacinados é baixo e ainda é incerto como a pandemia vai se suceder o Brasil.
“Nós temos 20% das pessoas vacinadas, não podemos dar a impressão às pessoas ou comunicar que isso está vencido, porque não depende de São Paulo ou do Rio, depende do mundo inteiro. Se surgir uma variante que pode colocar em risco as nossas vacinas, estas 20% de pessoas vacinadas podem, inclusive, ter que se vacinar novamente e a gente ter que começar tudo de novo. É muita coisa que nós não sabemos e acho que comunicar essa ideia de que a pandemia acabou é muito ruim.”
Ethel comentou sobre as flexibilizações do comércio anunciadas em São Paulo e demais reaberturas anunciadas por autoridades em estados brasileiros. “Eu considero irresponsável estes anúncios porque nós estamos em um cenário de incertezas, e é isso que a gente precisa compreender.” Ela critica o controle da pandemia no país por não haver um sistema amplo de testagem, protocolos clínicos unificados para tratamento de pacientes com Covid-19 e, tampouco, uma comunicação clara e homogênea sobre o que estamos vivendo.
“Se a gente se comparar com os EUA, que têm uma população grande também, eles já estão em torno de 50% da população vacinada com as duas doses e estão vendo, agora, um aumento expressivo de número de casos, um aumento de internação principalmente no público não vacinado, e nós temos no Brasil muitas pessoas sem nenhuma dose ainda”, compara.
A respeito do aumento do número de casos de Covid-19 nos Estados Unidos, a epidemiologista comenta sobre a população norte-americana que se recusa a tomar vacina. “Os Estados Unidos representam para o mundo um modelo ruim”, diz em relação a nãoobrigatoriedade da vacina. Ethel considera que, atualmente, eles estão representando “uma ameaça para o mundo.”
“Se estas pessoas não se vacinarem, nós teremos aí a possibilidade de termos novas variantes, porque eles estão com o aumento do número de casos. Há uma previsão do Dr. Anthony Fauci, que está liderando o combate à pandemia nos Estados Unidos, que se eles continuarem com este número grande de pessoas sem vacina, poderão chegar a 4 mil óbitos por dia.”
A epidemiologista também criticou o governo do Rio de Janeiro por anunciar a liberação do uso de máscaras no fim do ano.
“A gente acompanhou os EUA, que têm instituições muito fortes no enfrentamento de epidemias, pandemias, como o CDC [Centro de Controle e Prevenção de Doenças], que errou na retirada das máscaras, e a gente está vendo o governo do Rio falando a mesma coisa. Vamos aprender, pelo menos, com os erros alheios. A gente não precisa cometer os mesmos erros. Muito possivelmente a gente vai continuar com a máscara por mais tempo do que a gente acha ou gostaria”, conclui.
(*sob supervisão de Elis Franco)
