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    Mpox pode causar pandemia? Veja o que dizem especialistas

    Na quarta-feira (14), OMS definiu atual surto de mpox na África como emergência de saúde pública global, o mais alto nível de alerta da entidade

    Gabriela Maraccinida CNN

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou na quarta-feira (14) o atual surto de mpox na África como uma emergência de saúde pública global. O anúncio foi feito em reunião com o comitê de emergência em meio a preocupações de uma cepa mais mortal do vírus, chamada clado 1B, se espalhar para outras regiões do mundo.

    Em julho, a OMS havia incluído o vírus da mpox na lista atualizada de micro-organismos com potencial de causar novas pandemias. O documento foi emitido na Cúpula Global de Preparação para Pandemias 2024, que aconteceu naquele mês no Rio de Janeiro.

    O relatório tem como objetivo criar conhecimento, ferramentas e contramedidas amplamente aplicáveis que possam ser adaptadas de forma rápida às ameaças emergentes de pandemias. Além disso, a estratégia também visa acelerar a vigilância e a pesquisa para entender como os patógenos transmitem doenças e infectam humanos e como o sistema imunológico responde a eles.

    Apesar disso, a declaração do mpox como emergência de saúde pública global não significa que o surto está virando uma pandemia. Porém, o alerta serve para enfatizar o alto risco de uma doença se disseminar para outros países através da propagação internacional, além de alertar para a necessidade de uma resposta internacional coordenada para a contenção dessa doença.

    “O grande temor da OMS é que esse clado 1 saia da República Democrática do Congo e se espalhe no mundo todo, que foi o que aconteceu com o clado 2 em 2022”, explica o médico infectologista Álvaro Costa, que tem a Mpox como tema central de pesquisa de doutorado, em matéria publicada anteriormente na CNN.

    “Naquela época, todos os casos de mpox eram concentrados na África, e os casos em outras regiões eram importados de pessoas que viajavam para lá e, de repente, tivemos um surto. A tensão agora é para prevenir um surto global com essa outra variante”, acrescenta o especialista.

    Clado 1 e clado 2 são diferentes grupos de vírus que, apesar de terem semelhanças genéticas, não são idênticos. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o clado 1 leva a uma doença mais grave e é mais letal em comparação ao clado 2.

    O clado 1 é endêmico na República Democrática do Congo e é responsável pelo surto atual. Em setembro de 2023, também foram registrados casos relacionados à subvariante 1B no país e em regiões adjacentes. Já o clado 2 foi responsável pelo surto global que começou em 2022, de acordo com o CDC. No Brasil, os casos atuais estão relacionados à circulação do clado 2.

    Mpox pode virar pandemia? O que os especialistas acham

    O clado 1B, além de ser mais letal, parece possuir maior transmissibilidade, de acordo com a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Justamente por essa característica, a especialista acredita que é possível que a mpox cause uma nova pandemia.

    “Nós sabemos que, hoje em dia, não tem mais nenhuma doença infecciosa que se concentre em um único local com toda a movimentação das pessoas [de um país para o outro]”, explica a infectologista à CNN. “Então, é possível sim que ela atinja outros países de vários continentes, ainda mais sendo mais transmissível”, afirma.

    Para Giliane Trindade, professora de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também há chances de a nova variante se espalhar para outras regiões do mundo além da África.

    “Nós vivemos em um mundo globalizado, e o que estamos vendo na República Democrática do Congo é que é uma variante bem transmissível. Existe a transmissão comunitária e não está controlada. Isso é sempre um risco quando associado com o fator da globalização”, afirma a professora, em matéria publicada anteriormente na CNN.

    Segundo Hélio Bacha, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, pela variante 1B do vírus mpox ter maior transmissibilidade, a preocupação da OMS em declarar a emergência de saúde pública global é pertinente e real. “A importância de se ter essa declaração é que nós temos contra essa doença medicamentos efetivos e vacinas, mas não em uma quantidade suficiente para fazer frente a uma condição pandêmica”, afirma à CNN.

    O que deve ser feito para conter uma nova pandemia

    Stucchi afirma que, entre as principais medidas para conter surtos e uma nova pandemia causada por mpox, está a vacinação da população, com maior igualdade no acesso ao imunizante. “Infelizmente, parece que não aprendemos — enquanto sociedade, gestores públicos e população — com a pandemia de Covid-19 sobre equidade. Nós já deveríamos ter vacinado a população da África, porque sempre foi uma população mais acometida pela doença [mpox] e é onde há maior mortalidade”, afirma a especialista.

    Também é preciso disponibilizar o tratamento adequado e iniciá-lo precocemente nos pacientes com maior risco de desenvolver quadros graves da infecção por mpox, segundo a infectologista.

    “Nós temos que ter uma política de responsabilidade multilateral, de vários países, para o enfrentamento dessa doença. A possibilidade de se enfrentar individualmente essa doença sem o apoio e o aporte financeiro de uma política global representa um risco muito grande de termos um gravíssimo problema de saúde pública”, acrescenta Bacha.

    Após declarar mpox uma emergência de saúde pública global, a OMS assinou o processo de Lista de Uso de Emergência para ambas as vacinas mpox e desenvolveu um plano de resposta regional que requer 15 milhões de dólares, com 1,45 milhões de dólares já liberados do Fundo de Contingência para Emergências da OMS.

    No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou que, a partir desta quinta-feira (15), irá instalar um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para coordenar as ações de resposta à mpox.

    “Desde a ESPII anterior para Mpox, declarada pela OMS em julho de 2022 e encerrada em maio de 2023, a vigilância para a doença se manteve como prioridade no Ministério da Saúde, que vinha monitorando atentamente a situação mundial e as informações compartilhadas pela OMS e outras instituições. A pasta já iniciou a atualização das recomendações e do plano de contingência para a doença no Brasil”, afirma a pasta em nota à imprensa.

    Casos de mpox no mundo

    De acordo com o CDC, o surto atual de mpox na República Democrática do Congo está mais disseminado do que qualquer outro surto anterior na região e a letalidade é maior. Só neste ano, a República Democrática do Congo registrou 15,6 mil casos de mpox e 537 mortos. O número já é maior do que o surto de 2022, provocado pelo clado 2: apesar de os 85 mil casos registrados, houve apenas 120 mortes. No mundo, a OMS já registrou 99.176 casos confirmados de mpox em 116 países de janeiro de 2022 a junho de 2024.

    No Brasil, até agora, foram registrados 709 casos de mpox. Na quarta-feira (14), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que não há motivos para “alarme”, mas sim para “alerta” em relação ao vírus mpox.

    “No momento, não há registro de uma grande preocupação, mas várias medidas podem ser tomadas, como alerta para viajantes e uma série de ações que devem ser feitas em situações como esta”, afirmou a ministra.

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