Mortes e casos de tuberculose aumentam durante a pandemia de Covid-19, diz OMS
Carga da tuberculose resistente a medicamentos também aumentou 3% entre 2020 e 2021, com 450 mil novos casos de resistência à rifampicina em 2021
Estima-se que 10,6 milhões de pessoas adoeceram de tuberculose em 2021, um aumento de 4,5% em relação a 2020. Cerca de 1,6 milhão de indivíduos morreram da doença, incluindo 187 mil pessoas vivendo com HIV, de acordo com o relatório global sobre o problema de saúde pública divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quinta-feira (27).
A carga da tuberculose resistente a medicamentos também aumentou 3% entre 2020 e 2021, com 450 mil novos casos de resistência à rifampicina em 2021. A OMS afirma que esta é a primeira vez em muitos anos que foi relatado um aumento no número de casos e de resistência e alerta que os serviços de saúde voltados à doença estão entre os muitos interrompidos pela pandemia de Covid-19. No entanto, conflitos em andamento na Europa Oriental, África e Oriente Médio agravaram ainda mais a situação das populações vulneráveis.
“Se a pandemia nos ensinou alguma coisa, é que com solidariedade, determinação, inovação e o uso equitativo de ferramentas, podemos superar graves ameaças à saúde. Vamos aplicar essas lições à tuberculose. É hora de acabar com essa assassina de longa data. Trabalhando juntos, podemos acabar com a tuberculose”, disse Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em comunicado.
De acordo com a OMS, a tuberculose ainda permanece subdiagnosticada devido aos desafios para o fornecimento e acesso aos serviços de saúde. De acordo com o relatório, o número relatado de pessoas recém-diagnosticadas com a doença caiu de 7,1 milhões em 2019 para 5,8 milhões em 2020. Embora tenha havido uma recuperação parcial na detecção oportuna da doença para 6,4 milhões em 2021, os índices ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia.
A OMS avalia que a redução no número de pessoas diagnosticadas representa uma subnotificação dos casos e que mais pessoas com a doença podem ficar sem o tratamento adequado, levando a um aumento no número de mortes e na transmissão comunitária. O relatório aponta uma queda no número de pessoas que receberam tratamento entre 2019 e 2020. O número relatado de indivíduos que iniciaram o tratamento para casos resistentes em 2021 foi de 161.746, apenas cerca de um em três daqueles que precisam.
O relatório aponta ainda que houve um declínio nos gastos globais em serviços essenciais de voltados para o combate à doença de US$ 6 bilhões em 2019 para US$ 5,4 bilhões em 2021, o que representa menos da metade da meta global de US$ 13 bilhões anuais até 2022. O documento indica que assim como nos dez anos anteriores, a maioria do financiamento utilizado em 2021 (79%) foi de origem nacional.
Em outros países de baixa e média renda, o financiamento de doadores internacionais permanece como uma das principais fontes para os programas de enfrentamento da tuberculose.
O que o relatório revela de positivo
A OMS afirma que apesar da estagnação no progresso, foram identificados alguns indicadores positivos. O relatório de 2022 apresenta dados sobre tendências da doenças e a resposta à epidemia de 215 países e áreas, incluindo todos os 194 Estados Membros da OMS.
Cerca de 26,3 milhões de pessoas foram tratadas entre 2018 e 2021, ainda aquém das 40 milhões em metas estabelecidas para 2018–2022 na Reunião de Alto Nível das Nações Unidas (ONU) sobre tuberculose.
O Brasil está entre os os países com os níveis mais altos de cobertura de tratamento em 2021, considerando os 30 países com alta carga da doença. Também figuram a lista Bangladesh, China, Uganda e Zâmbia.
O número de pessoas que receberam tratamento preventivo apresentou recuperação em 2021 para perto dos níveis de 2019. No entanto, o total acumulado de 12,5 milhões entre 2018 e 2021 ainda estava longe da meta de 30 milhões até o final de 2022.
O tratamento preventivo para pessoas vivendo com HIV ultrapassou em muito a meta global de 6 milhões no período 2018-2022, atingindo mais de 10 milhões em apenas 4 anos. Sete países – Índia, Nigéria, África do Sul, Uganda, República Unida da Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue – representaram coletivamente 82% dos que iniciaram o tratamento preventivo em 2021.
De acordo com o relatório, os países também estão aumentando a adoção de novas ferramentas e orientações recomendadas pela OMS, resultando em acesso precoce à prevenção e cuidados e melhores resultados. A proporção de pessoas diagnosticadas que foram inicialmente testadas com diagnóstico rápido aumentou de 33% em 2020 para 38% em 2021.
A OMS reitera um apelo para que os países implementem medidas urgentes para restaurar o acesso a serviços essenciais de tuberculose. Além disso, exige maiores investimentos e ações multissetoriais para abordar os determinantes mais amplos que influenciam as epidemias de tuberculose e seu impacto socioeconômico, bem como a necessidade de novos diagnósticos, medicamentos e vacinas.
Sintomas da tuberculose
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. A forma extrapulmonar, que impacta outros órgãos além do pulmão, ocorre mais frequentemente em pessoas vivendo com HIV, especialmente aquelas com comprometimento imunológico.
“Existe um tipo de manifestação da doença chamada tuberculose miliar, que se espalha para o corpo todo. Você pode ter inclusive a meningite causada pelo bacilo da tuberculose. O quadro pode ser bastante grave, necessitando da intervenção de diversas especialidades para tratar um paciente”, explica o médico neurocirurgião Fernando Gomes, professor livre-docente do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os principais sintomas incluem tosse por três semanas ou mais, febre vespertina, suor noturno e emagrecimento (veja quadro abaixo).
Longo tratamento da doença
O tratamento da tuberculose dura de seis meses a um ano. A terapia é realizada com o uso de antibióticos, incluindo os medicamentos rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol.
Uma das principais dificuldades no combate à doença é a falta de adesão ao tratamento. A longa duração e os resultados rápidos de melhoras fazem com que alguns pacientes interrompam o uso da medicação.
A descontinuidade põe em risco a saúde, devido aos riscos de desenvolvimento de uma forma da doença resistente aos medicamentos, conhecida como tuberculose multirresistente.