Militar não sabe o que é vigilância sanitária, diz médico sobre gestão da saúde
Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, país teve mais mortes por Covid-19 do que deveria por falta de estratégia nacional
Em entrevista à CNN nesta terça-feira (14), o médico sanitarista Gonzalo Vecina falou sobre a presença de militares no Ministério da Saúde e considerou a falta de definição de uma política de saúde como a principal deficiência da pasta hoje.
Para ele, “militares não são muito diferentes de economistas e engenheiros”, e lembrou que a pasta já teve outros profissionais que não os da saúde. No entanto, disse Vecina, nenhum deles “fez a limpa” e “colocou para fora” pessoas com 20, 30 anos de ministério.
“O militar não sabe o que é vigilância sanitária, epidemiológica e assistência à saúde. Ele pode ser muito bom de logística e uma pessoa muito bem-intencionada, mas sem saber o que fazer, ele não vai conseguir encontrar o caminho de casa”, disse.
Além disso, para o sanitarista, o ministério hoje está funcionando para cuidar somente da epidemia, e depois dela será necessário fazer uma assistência médica muito mais complexa. “É aí que vamos ver ele [o ministério] se perder mesmo”, falou.
“O Brasil está fazendo três testes para cada caso identificado que aparece. Os países da Europa que estão fazendo um serviço mais adequado fazem de 10 a 30 testes para cada paciente identificado. Ou seja, não estamos conseguindo enxergar onde estamos. Isso é falta de política, de capacidade de enxergar o que precisa ser feito na saúde”, explicou. Na avaliação do médico, o que falta é gestão por parte da pasta.
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Vecina também disse acreditar que o país teria menos mortes causadas pela Covid-19 se tivesse uma direção nacional.
“São muito ‘Brasis’. É preciso fazer uma gestão dessa crise no Amazonas de um jeito, no Ceará de outro e em São Paulo e no Rio Grande do Sul de forma diferente. Temos que ter estratégias regionais, porém nacionais [também]. O que aconteceu no Amazonas é, em parte, culpa do Ministério da Saúde e do governo federal, pois esta é uma república federativa”, concluiu.
Nesta terça, o governo informou que o país tem 74.133 mortos por Covid-19 e 1.926.824 diagnósticos positivos do novo coronavírus.
(Edição: Bernardo Barbosa)