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    Microbiota intestinal afeta diretamente a anorexia, sugere estudo

    Alterações graves no ecossistema intestinal de bactérias e vírus afetam diretamente o desenvolvimento e a manutenção da anorexia nervosa, afirmam especialistas

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    A anorexia, transtorno associado à restrição alimentar, altera a forma como o cérebro regula o apetite e a imagem corporal. O problema de saúde apresenta grande incidência entre jovens.

    De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros. A condição é causada por um conjunto de fatores, incluindo predisposição genética, pressão social e alterações de neurotransmissores.

    Um novo estudo revela que a anorexia também pode ser resultado de um grave desequilíbrio no ecossistema intestinal, que conta com inúmeras bactérias e vírus. A pesquisa foi conduzida por especialistas da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e os resultados foram publicados no periódico Nature Microbiology.

    Avaliação da microbiota

    Conduzido por uma equipe internacional liderada por cientistas dinamarqueses, o estudo contou com a participação de 77 meninas e mulheres jovens com anorexia nervosa e 70 pessoas saudáveis do mesmo sexo.

    Os especialistas sugerem que mudanças graves nos microrganismos presentes no intestino e moléculas sanguíneas (metabólitos) produzidas pelo microbioma intestinal podem afetar diretamente o desenvolvimento e a manutenção do quadro de anorexia nervosa. Para chegar aos resultados, os cientistas realizaram o transplante de fezes de pessoas com anorexia e saudáveis para camundongos livres de bactérias.

    “Os camundongos que receberam fezes de indivíduos com anorexia nervosa tiveram problemas para ganhar peso, e as análises das atividades dos genes em certas partes do cérebro revelaram mudanças em vários genes que regulam o apetite. Além disso, os camundongos que receberam fezes de indivíduos afetados com anorexia nervosa mostraram aumento da atividade de genes que regulam a combustão de gordura, provavelmente contribuindo para seu menor peso corporal”, explica Oluf Pedersen, professor e pesquisador Oluf Borbye Pedersen, da Universidade de Copenhague, em comunicado.

    A partir de tecnologias de DNA e análises avançadas de bioinformática, os pesquisadores identificaram mudanças distintas e marcantes na composição e função de bactérias e vírus do intestino em casos de anorexia nervosa.

    Os pesquisadores compararam as alterações com moléculas sanguíneas produzidas pelo microbioma intestinal, demonstrando associações entre mudanças específicas das bactérias intestinais, moléculas sanguíneas e vários traços de comportamento, como percepção da imagem corporal distorcida, impulso para a magreza e recusa em comer presentes nas voluntárias afetadas pela anorexia nervosa.

    “Também descobrimos que bactérias intestinais específicas em mulheres com anorexia nervosa produzem menos vitamina B1. A deficiência de B1 pode levar à perda de apetite, vários sintomas intestinais, ansiedade e comportamento social de isolamento”, detalha o professor-assistente Yong Fan, do Novo Nordisk Foundation Center for Basic Metabolic Research, um dos autores do estudo.

    O pesquisador afirma que a análise do microbioma intestinal revelou diferentes partículas virais capazes de decompor bactérias produtoras de ácido lático nos intestinos em casos de anorexia. “Ambas as descobertas podem formar a base de futuros ensaios clinicamente controlados com suplementos de vitamina B1 e alimentos fermentados ou probióticos contendo vários tipos de bactérias do ácido láctico”, explica.

    Os próximos passos da pesquisa incluem investigar se o tratamento atual para anorexia nervosa – envolvendo psicoterapia, aconselhamento familiar e tentativas de mudar os hábitos alimentares e de exercícios do paciente – pode se beneficiar de um tratamento adicional destinado a normalizar o microbioma intestinal.

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