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    CNN Sinais Vitais

    Método aumenta em até três vezes as chances de parar de fumar

    Acompanhamento médico com tratamento farmacológico e a terapia comportamental aumentam em 70% a chance de sucesso da cessação do tabagismo

    Lucas RochaAlexandre PetilloMaria Eugênia Castilhoda CNN Brasil Soft

    em São Paulo

    Cigarros, tabaco sem fumaça, dispositivos eletrônicos com diferentes essências e aromas. Com um leque variado de opções, o tabagismo se reinventa e continua a despertar o vício em pessoas em todo o mundo.

    De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, mais de 8 milhões de pessoas morrem devido aos impactos da indústria do tabaco.

    Para quem decide parar de fumar, os sintomas da abstinência da nicotina estão entre os principais desafios. No entanto, as reações, que podem incluir irritabilidade, dor de cabeça, e alterações do sono, são passageiras e tendem a desaparecer em algumas semanas.

    Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,5%, sendo 11,7% entre homens e 7,6 % entre mulheres. Os índices representam uma população de mais de 20 milhões. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo.

    Os custos dos danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde para a economia podem chegar a R$ 125 bilhões de reais. Além disso, mais de 160 mil mortes anuais poderiam ser evitadas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

    O CNN Sinais Vitais apresenta novos tratamentos para o combate ao fumo (veja a íntegra acima). “O cigarro é um ladrão de vidas”, alerta Jaqueline Scholz, cardiologista e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor. “A principal causa de morte dos fumantes, todo mundo acha que a parte respiratória, mas não, é a cardiovascular. Infarto e acidente vascular cerebral são os grandes matadores”, diz Jaqueline.

    A especialista é a criadora do Programa de Assistência ao Fumante (PAF), um projeto que une terapia comportamental e medicamentosa que aumenta em três vezes o sucesso no combate ao tabagismo.

    “São três coisas que você tem que avaliar nesse paciente: saúde mental, quanto que ele tem de depressão e ansiedade e nem sabe que tem. Isso é uma questão importante, que vai definir se ele vai conseguir ou não parar de fumar e até se ele vai ter vontade de parar de fumar. Segundo, o remédio mais eficaz para tirar aquele desejo incontrolável de fumar. E terceira parte, a técnica comportamental“, explica Jaqueline.

    De acordo com os especialistas, novas abordagens da medicina contribuem para reduzir o impacto do tabagismo no país.

    “O que mudou e ajudou muito no tratamento do tabagismo, primeiro foi o entendimento que tabagismo é uma doença, deixar de atender o tabagista de uma maneira crítica e moralista. Há 20 ou 30 anos, se culpava o fumante por essa doença. Ele precisa de acolhimento, precisa entender que ele tem uma doença porque a nicotina vai para o cérebro e ela modifica o centro do prazer. E o prazer é uma área fundamental para a vida”, destaca Ciro Kirchenchtein, pneumologista e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

    Doenças associadas ao fumo

    O tabagismo é considerado uma doença associada à dependência à nicotina. O agravo faz parte do grupo de transtornos mentais e de comportamento devido ao consumo de substâncias psicoativas. Segundo estimativas da OMS, o fumo é responsável por 71% das mortes por câncer de pulmão, 42% das doenças respiratórias crônicas e aproximadamente 10% das doenças cardiovasculares. O problema também é fator de risco para doenças transmissíveis, como a tuberculose e pode ser a causa para o desenvolvimento de aproximadamente mais 50 outras doenças incapacitantes e fatais, segundo o Ministério da Saúde.

    O tabagismo ativo provoca mais de 7 milhões de óbitos por ano no mundo e cerca de 1,2 milhão de mortes ocorrem devido à exposição de não fumantes ao fumo passivo, que consiste na inalação da fumaça de derivados do tabaco por indivíduos que convivem com fumantes em diferentes ambientes, respirando as mesmas substâncias tóxicas que o fumante inala.

    “Não necessariamente todos os fumantes vão desenvolver neoplasias ou cânceres relacionados ao cigarro. Alguns pacientes fumam e nunca apresentam uma doença relacionada ao tabaco. Mas é com certeza um fator de risco importante. Mais de 80% dos cânceres de pulmão estão relacionados ao cigarro, 70% dos cânceres de bexiga também estão relacionados ao cigarro, quem fuma tem 30 vezes mais chance de desenvolver uma doença relacionada ao cigarro do que não fumante”, explica Gustavo Melo Caboclo, médico e chefe do Centro de Combate ao Tabagismo do Inca.

    Os especialistas afirmam que recaídas são comuns na busca pelo abandono do cigarro, mas que esses momentos não devem desestimular os fumantes.

    “A recaída pode acontecer, principalmente nos primeiros meses após o abandono do cigarro. Mas também pode acontecer mais tarde, ao longo do processo, dependendo de algum estresse específico, uma questão da sua vida que conduz ao cigarro naquele momento”, afirma Caboclo. “Muitos estudos mostram que são necessárias, às vezes, mais de quatro tentativas até o paciente conseguir parar de fumar. A recaída é um obstáculo que a gente tem que superar também”, completa.

    Cresce o número de meninas fumantes nas escolas brasileiras

    Na última década, pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde indicam que o uso de tabaco ocupa o segundo lugar no ranking de drogas mais experimentadas no país e que a iniciação se dá em média aos 16 anos de idade. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense 2019), realizada em conjunto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com o apoio do Ministério da Educação, houve aumento na proporção total de fumantes na faixa etária de 13 a 17 anos (6,6% em 2015 para 6,8% em 2019) devido ao aumento na proporção de fumantes entre as meninas (6,0% em 2015 para 6,5% em 2019).

    O Ministério da Saúde alerta que a iniciação do tabagismo na adolescência se torna propícia quando há facilidades socioambientais e familiares, tais como imitação do comportamento do grupo, amigo próximo ou pais fumantes. O fácil acesso ao cigarro também contribui para que esse quadro seja mais frequente entre os jovens, apontado como um fator de iniciação e indução ao consumo.

    Segundo a OMS, o uso do narguilé é mais prejudicial que o uso de cigarro comum: uma sessão de 20 a 80 minutos de narguilé corresponde à exposição a todos os componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros. O uso coletivo e o ato de compartilhar o bocal entre outros usuários pode resultar ainda na exposição a doenças como herpes, hepatite C e tuberculose.

    Novidades apresentadas por produtos como o cigarro eletrônico e o narguilé, que contam com diferentes essências, podem chamar atenção principalmente do público jovem, contribuindo para a iniciação ao fumo.

    Riscos do cigarro eletrônico

    Com a tecnologia, a batalha de décadas contra o tabagismo encontrou um novo inimigo: o cigarro eletrônico. Apesar da comercialização desse produto estar proibida no Brasil desde 2009, uma pesquisa de 2020, conduzida pelo IPEC, estima que mais de 1 milhão de brasileiros já consumia dispositivos conhecidos como cigarros eletrônicos.

    Pesquisas recentes publicadas no PubMed Central, um repositório digital organizado pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, mostram o aparecimento do quadro de lesão pulmonar aguda, caracterizado por uma série de sinais e sintomas relacionados ao uso de cigarros eletrônicos, denominada EVALI (do inglês E-cigarette or Vaping use-Associated Lung Injury). As alterações provocadas pela doença ainda não estão claramente definidas, mas foram publicados diversos relatos de casos com diferentes características, desde sintomas respiratórios leves até complicações inflamatórias graves com necessidade de transplante.

    Os especialistas apontam que existe um lobby para liberação do produto. “Eu acho que a grande questão do cigarro eletrônico no mundo é uma febre no Brasil. A gente tem a legislação que proíbe a comercialização, que deve ser mantida. Porque nós temos muito a perder. Você imagina, 19 milhões de fumantes no país, em vez de querer parar de fumar e se livrar do malefício do cigarro, porque realmente a cessação vai proteger a saúde dessas pessoas, eles simplesmente resolverem migrar”, alerta Jaqueline.

    “Não há forma segura de se fumar. Não há quantidade segura de se fumar. Fumar um cigarro é menos prejudicial do que fumar 20 cigarros. Fumar cigarro eletrônico, narguilé, mascar o tabaco, fumar cigarro com filtro ou sem filtro está levando para o seu corpo de todas as formas uma droga que cria uma dependência, que rouba sua liberdade. Você é obrigado a gastar dinheiro todos os dias com uma coisa que você não precisaria”, diz Kirchenchtein.