Médico do Samu conta experiência de virar paciente e superar a Covid-19
Chamados relacionados a problemas respiratórios aumentaram cerca de 40% em São Paulo
Longas jornadas de trabalho e um inimigo invisível. A rotina dos profissionais que trabalham no serviço de atendimento móvel de urgência, o Samu, mudou completamente por causa da pandemia. Os chamados relacionados a problemas respiratórios aumentaram cerca de 40% em São Paulo, e na região metropolitana. Médicos e enfermeiros convivem de perto com o alto risco de contaminação.
Roberto Garcia Torrecillas tem 55 anos. Há 25, trabalha no resgate de desconhecidos, e um deles pode ter contaminado o médico com o novo coronavírus. Doutor Torres, como é chamado entre os amigos, ficou 16 dias internado, 5 deles na UTI. Ele conta que sabia que em algum momento ele poderia ser infectado, mas não imaginava que ficaria entre a vida e a morte.
“Depois de uma febre de mais de 39 graus, eu desmaiei. Fiquei, 15, 20 minutos apagado. Quando acordei, já estava com falta de ar”, conta.
O médico foi resgatado pelos próprios colegas de profissão, que presenciaram momentos dramáticos.
“Foi o caso mais difícil da minha vida. Se ver em um colega, saber que pode acontecer com você… você fica muito vulnerável”, disse Silene Pinto Oliveira, enfermeira que fez o atendimento.
O quadro do Dr. Torres evoluiu muito rápido. Quando ele achava que estava melhor, precisou ser internado na UTI. Ele conta que foi difícil contar para sua família. Só quando achou que poderia morrer decidiu contar aos pais. A família já viveu um grande trauma.
Há quase 20 anos o médico perdeu a única filha para um vírus. Uma doença rara que levou a menina de apenas cinco anos.
“Ela adoeceu no dia do aniversário e no dia seguinte morreu.”
Quando o médico foi diagnosticado com a Covid-19, ele diz que não teve como não lembrar da filha.
“Pensei, poxa outro vírus? Será que dessa vez vai ser comigo?”
Apesar do medo, não era a hora dele. O médico se recuperou e foi curado do coronavírus. Depois de um mês afastado decidiu que era hora de voltar ao trabalho e fazer o que sabe de melhor: salvar vidas.
Ele disse que nem via a hora de voltar, e que agora que tem imunidade ao vírus, vai trabalhar ainda mais.
“Eu só peço que as pessoas levem a sério, façam a quarentena, porque essa doença não é brincadeira”.