‘Lockdown de 3 dias não tem impacto. É preciso pelo menos 15 dias’, diz médica
Epidemiologista fala sobre a necessidade de uma coordenação, no mínimo estadual, para adoção de medidas drásticas de circulação de pessoas
Nesta semana, o Brasil atingiu a média de mortes mais alta de toda a pandemia de Covid-19 e é hoje o epicentro da doença no mundo. Por isso, estados e municípios estão adotando medidas mais severas para controlar a circulação de pessoas nas ruas. A epidemiologista e ex-coodenadora do Programa Nacional de Imunizações Carla Domingues reforça a necessidade de uma coordenação federal ou estadual das novas regras para que os resultados sejam efetivos.
“Não adianta ficar um município sozinho fazendo o enfrentamento, fechando tudo e adotando o lockdown, e outro município, que está na sua fronteira, deixar tudo aberto. É necessário que haja uma condução, no mínimo, estadual”, defende.
Para Domingues, alguns prefeitos estão adotando fechamentos que não são efetivos e embasados no que a ciência comprova que seja eficaz de se adotar em situações de pandemia.
“Fechar três dias não tem impacto. Para a gente diminuir a transmissão, há a necessidade de medidas drásticas por pelo menos quinze dias”, explica.
A epidemiologista afirma que o lockdown é uma medida que exige que um conjunto de fatores seja colocado em prática, principalmente para assegurar que as pessoas terão condições financeiras de permanecer em casa.
“Nós nunca vamos conseguir fazer um lockdown, mesmo regional no nosso país, se as medidas econômicas e sociais não forem adotadas. O lockdown não é uma medida por si só, ele tem que vir acompanhado de medidas sociais e econômicas”. A médica ressalta o papel das autoridades nesta gestão. “O governo federal tem mecanismos em suas mãos capazes de resolver a questão econômica, do apoio às indústrias e ao comércio”.
Domingues complementa dizendo que o auxílio emergencial é outra política que garante o distanciamento social e a proteção à vida. “Isso não poderia sequer ter sido interrompido”.
Em relação à superlotação das Unidades de Terapia Intensiva em hospitais de todo o Brasil e o aumento do número de mortes, a médica afirma que não é possível banalizar o cenário crítico que o país enfrenta.
“Três mil pessoas morrendo diariamente são quase oito aviões caindo todos os dias, mas parece que está tudo normal. A gente tem que acreditar que é uma situação grave. Nós nunca tivemos uma doença nos últimos 100 anos que lotou tanto os hospitais desta forma. Claro que nós temos outras doenças que ajudam neste processo, mas a gente tem que entender que hoje a maior causa de mortalidade do Brasil se chama Covid-19”.