Linfomas: mais de 14 mil pessoas devem desenvolver tipo de câncer no país em 2021
Diferentes tipos de câncer afetam o sistema linfático, conheça os sinais e sintomas, como é feito o diagnóstico e o tratamento, e as chances de cura
Mais de 14 mil pessoas devem desenvolver linfomas no Brasil em 2021, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O câncer que afeta o sistema linfático é classificado principalmente em dois grupos: linfomas de Hodgkin e não Hodgkin.
De acordo com o Inca, 12 mil brasileiros podem desenvolver linfomas não Hodgkin neste ano. Os dados mais atualizados de óbitos no país são de 2019, quando foram registradas 4.923 mortes pela doença. Em relação ao linfoma de Hodgkin, as estimativas do Inca apontam o surgimento de mais de 2.500 casos anuais no Brasil, tendo sido registrados 532 óbitos em 2019.
No Dia Mundial de Conscientização do Linfoma (15/09), especialistas alertam para a importância da detecção precoce da doença. “Dependendo do tipo do linfoma, a rápida identificação ajuda a iniciar o tratamento ainda em fases iniciais”, destaca o médico hematologista Ricardo Bigni, chefe da Seção de Hematologia do Hospital do Câncer I, do Inca, no Rio de Janeiro.
Entenda o que são os linfomas
O sistema linfático, composto por linfonodos (ou gânglios), vasos e tecidos, faz parte do sistema imunológico, sendo responsável pela produção das células que atuam na defesa do organismo. Quando um câncer tem origem nesse sistema, ele pode ser considerado um linfoma de Hodgkin ou linfoma não Hodgkin.
A diferença entre os dois tipos está na característica como o câncer se espalha: os linfomas de Hodgkin se disseminam de forma ordenada, a partir de um grupo de linfonodos para o outro, através dos vasos linfáticos. No caso dos linfomas não Hodgkin, o câncer se espalha de forma não ordenada.
Os tecidos do sistema linfático estão espalhados pelo corpo, o que permite que o câncer tenha origem em qualquer lugar. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), existem mais de 20 tipos diferentes de linfomas não Hodgkin.
Sinais e sintomas que podem indicar um linfoma
Os principais sintomas dos linfomas não Hodgkin são o aumento dos gânglios do pescoço, das axilas ou da virilha, suor noturno em excesso, febre, coceira na pele, cansaço e perda de peso superior a 10% sem motivo aparente.
Como o linfoma de Hodgkin pode surgir em qualquer parte do corpo, os sintomas dependem da localização. O câncer nos gânglios do pescoço, da axilas e da virilha pode apresentar ínguas ou inchaço nos linfonodos, que são indolores. Quando a doença atinge a região do tórax, é comum a presença de tosse, falta de ar e dor torácica. Na pelve ou no abdômen, os sintomas são desconforto e distensão abdominal.
O hematologista do Inca explica que os linfonodos ou gânglios linfáticos podem apresentar aumento por diferentes razões, incluindo infecções e doenças inflamatórias. Segundo o especialista, em geral, os gânglios aumentados por essas condições apresentam sensibilidade ao toque. Diferentemente dos linfonodos afetados pelo câncer, que tendem a ser indolores.
O médico ressalta que a correlação entre o sintoma e a possibilidade de linfomas deve ser feita pelos profissionais de saúde. “O aspecto dor não é comum nos linfomas, é mais comum ter o aumento daquela estrutura indolor. Se o aumento daquele gânglio se estende por um período de semanas, é menos provável que seja uma infecção. Então o médico entra na rotina de investigação que inclui os linfomas”, explica Ricardo.
Fatores de risco
Segundo o Inca, pessoas com o sistema imune comprometido têm uma maior chance de desenvolver qualquer tipo de linfoma. A lista inclui indivíduos que apresentam deficiência na imunidade devido a doenças genéticas, transplantados que fazem uso de medicamentos imunossupressores e pessoas vivendo com HIV.
No caso do linfoma de Hodgkin, a exposição a algumas substâncias químicas também está associada ao desenvolvimento do câncer, como agrotóxicos, benzeno, tetracloreto de carbono e solventes orgânicos, além da exposição a altas doses de radiação.
Segundo o Inca, trabalhadores rurais, do setor de transporte rodoviário e ferroviário, operadores de rádio e telégrafo, de laboratórios fotográficos e de diversos segmentos da indústria são mais expostos a fatores de risco para o surgimento desse tipo de linfoma.
Diagnóstico
A identificação dos linfomas pode ser feita por meio de exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, principalmente quando há sintomas sugestivos da doença. Segundo o Inca, exames periódicos podem ser realizados em pessoas que não apresentam sintomas e que fazem parte de grupos de risco.
O médico do Inca explica que um dos procedimentos indicados é a biópsia, cirurgia para a retirada de uma fração do tecido para análise. “O diagnóstico é feito com base nas suspeitas e a partir da biópsia da lesão, que é a cirurgia para retirada de um fragmento ou do linfonodo, que é enviado para um estudo de patologia. O exame patológico permite dizer se é um linfoma, já o teste de imunohistoquímica permite a confirmação e classificação adequada do tipo de linfoma”, afirma Ricardo.
Outros testes disponíveis são a punção lombar, que consiste na retirada do líquido da medula espinhal (líquor) para análise, que pode revelar se o sistema nervoso foi atingido, além de exames de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Tratamento
O tratamento para cada paciente é associado ao tipo específico de linfoma identificado e pode variar de acordo com a localização e o estágio da doença.
Em geral, os pacientes são submetidos ao processo de quimioterapia, ou à associação da quimioterapia, ou radioterapia, com a imunoterapia, que é um método de tratamento com base na indução do combate às células cancerosas pelo próprio sistema imunológico do paciente.
A terapia também pode ser realizada com a combinação de medicamentos administrados por via oral ou através das veias, chamada poliquimioterapia.
“Para definir qual será a melhor opção terapêutica, primeiro é preciso definir qual o tipo de linfoma e o estadiamento, que é o conhecimento da extensão do câncer”, diz Ricardo. “Em relação ao linfoma de Hodgkin, o tratamento inicial proporciona uma possibilidade de cura em torno de 70 a 75%. Os que não são curados ainda podem ser submetidos a outros tratamentos que podem levar à cura”, explica.
Segundo o especialista do Inca, entre os linfomas não Hodgkin, existem diferentes níveis de agressividade. “Em geral, aqueles que têm um comportamento agressivo têm um potencial curativo. Curiosamente, a doença mais agressiva é também mais sensível ao tratamento. Por outro lado, aqueles cujas manifestações vão surgindo ao longo de meses ou anos, e são mais insidiosos, têm potencial curativo menor. O objetivo não é tanto curar, mas controlar a doença por mais tempo”, afirma Ricardo.
Prevenção
Segundo o Inca, não há uma forma efetiva de prevenção para o linfoma de Hodgkin. Para os outros tipos de linfomas, a adoção de hábitos de vida saudáveis, como alimentação variada e dieta rica em frutas e verduras, atividade física e controle do estresse podem contribuir.
Evitar o contato ou reduzir os riscos de exposição às substâncias químicas com potencial cancerígeno é uma das principais formas de prevenção contra os linfomas não-Hodgkin.