Israel pretende imunizar o país inteiro até a metade do ano
Uma sólida campanha nacional de vacinação e um sistema de saúde comunitário e digitalizado são os principais catalisadores do avanço
Israel está vivendo o sonho de, literalmente, todo o mundo: vacinar todos a população contra o novo coronavírus. Mais de um milhão de pessoas no país já tomaram a dose da vacina Pfizer-BioNTech, que começou a ser aplicada no dia 20 de dezembro. Estão sendo vacinadas, todos os dias, 150 mil pessoas.
Considerando que a população de Israel tem quase 9 milhões de pessoas (o tamanho do estado do Rio de Janeiro, por exemplo) isso representa que mais de 10% dos habitantes já receberam a primeira dose.
A expectativa é de que profissionais da saúde, pessoas com mais de 60 anos e as que se encontram em grupos de maior risco possam receber a segunda dose até final de janeiro.
Segundo o ranking do Our World in Data, que, entre outros estudos, divulga o ranking do avanço da vacinação pelo mundo, Israel está muito à frente da segunda posição, o Reino do Bahrein (localizado na Ásia).
A expectativa do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu é de que, em março ou abril, metade da população já esteja vacinada e que, no meio do ano, todos os habitantes do país já tenham recebido, pelo menos, a primeira dose.
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Segundo órgãos de direitos humanos e direito internacional, a vacinação também terá de incluir palestinos residentes na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza.
No entanto, o governo israelita não começou a vacinação, nem a Autoridade Palestina solicitou o procedimento.
Mas por que Israel vacinou tanta gente em tão pouco tempo?
Se a primeira resposta que lhe veio à cabeça foi o número pequeno de habitantes, saiba que esse não é o único catalisador.
A adesão da população e a rapidez da aplicação da primeira dose da vacina se deu por conta de dois pontos importantes: uma sólida campanha nacional de vacinação e um sistema de saúde comunitário e digitalizado.
Assim como em todo mundo, Israel também luta contra as notícias falsas sobre vacinas. Para agravar a situação, o governo receava a resistência de grupos religiosos ortodoxos, que representam em torno de 10% da população.
Uma importante figura que aderiu à campanha de vacinação foi o rabino ultraortodoxo Yitzchok Zilberstein, que escreveu uma nota pública dizendo que os perigos da vacinação são “insignificantes” perto dos perigos do vírus.
Outras celebridades e autoridades religiosas também se deixaram fotografar sendo vacinadas, o que facilitou a adesão da população ortodoxa ou não.
Para dar conta da rapidez e da alta demanda, Israel conta com um sistema de saúde comunitário e totalmente digital.
O esquema é similar a uma PPP (Participação Público-Privada): todo cidadão precisa, obrigatoriamente, pagar um dos quatro planos de saúde licenciados – como se fosse um imposto – o que chama de lei Seguro de Saúde Nacional.
A diferença de preços está em alguns serviços “extras”, mas saúde básica e/ou que interfere no social já está inclusa. Ou seja, é, por lei, “gratuita”.
Brasil e a vacinação
Embora o imbróglio das vacinas aqui no Brasil esteja caminhando muito lentamente, o Programa Nacional de Imunização (PNI) já foi referência mundial.
O Brasil, inclusive, foi um dos primeiros países a incluir vacinas como a da febre amarela e do HPV no calendário da saúde pública (pelo Sistema Único de Saúde – SUS) de forma totalmente ampla e gratuita.
O bate-cabeça entre líderes políticos e a desinformação deixaram o Brasil para trás na corrida pela vacina.
Nesta semana, a Anvisa autorizou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a importar dois milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca.
A expectativa do Ministério da Saúde é iniciar a vacinação entre os dias 20 de janeiro e 10 de fevereiro.
Vale lembrar que a Fiocruz precisa fazer um pedido emergencial para a Anvisa validar a produção –o que ainda não foi feito. A previsão é de que esse pedido seja feito nesta quarta-feira (6).
Enquanto isso, o Brasil está perto de bater 200 mil mortes por conta do novo coronavírus.