Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Isolamento aumenta risco de obesidade em crianças: como mantê-las em movimento

    Crianças em todo o mundo ficaram presas em casa, recorrendo aos jogos de videogame, assistindo mais televisão e passando mais tempo sentadas

    A quarentena durante a pandemia levou a um aumento no consumo de junk food e de carne vermelha entre as crianças, de acordo com um novo estudo
    A quarentena durante a pandemia levou a um aumento no consumo de junk food e de carne vermelha entre as crianças, de acordo com um novo estudo Foto: kwanchai.c/Shutterstock

    Ryan Prior da CNN

    Com o mundo todo em isolamento para impedir a disseminação do novo coronavírus, os rituais normais da infância e adolescência congelaram no tempo.

    Crianças em todo o mundo ficaram presas em casa, recorrendo aos jogos de videogame, assistindo mais televisão e passando mais tempo sentadas. É uma tendência natural, especialmente quando não há muito o que fazer durante o lockwdown.

    De acordo com um estudo observacional recentemente publicado na revista “Obesity”, os lockdowns podem aumentar o risco de obesidade em crianças.

    O estudo analisou 41 crianças obesas vivendo em lockdown em Verona, Itália, durante março e abril, cujas atividades haviam sido monitoradas anteriormente no ano passado, antes da pandemia.

    Elas já estavam matriculadas em um programa de tratamento para obesidade, preenchendo regularmente questionários comportamentais projetados para mostrar como elas estavam se saindo em relação a fatores de risco conhecidos para obesidade.

    Em comparação com o ano passado, os participantes estavam comendo uma refeição adicional e dormindo meia hora a mais todos os dias, durante o lockdown. Seja com atividades escolares, seja em contato com os amigos, elas passavam cinco horas a mais do que o habitual na frente das telas e comiam significativamente mais junk food e carne vermelha. Por fim, as crianças do estudo passavam duas horas a menos por semana praticando atividade física.

    “A Covid-19 chegou inesperadamente e de fato mudou o estilo de vida de muitas famílias”, disse Myles Faith, professor de educação da Universidade de Buffalo e coautor do estudo.

    As mudanças comportamentais nas crianças com sobrepeso observadas neste estudo mostram os mesmos sinais de alerta que os pesquisadores da obesidade estudam há anos. Estudos anteriores mostraram, por exemplo, que a prevalência de obesidade cresce durante as férias de verão. Esse ganho de peso é mais comum nas populações hispânicas e afro-americanas e pode se acumular de um ano para outro.

    O professor mencionou um estudo perspectivo publicado recentemente na revista “Obesitiy”, explicando que os lockdowns da Covid-19 possuem as mesmas características de base que trazem o aumento da obesidade infantil nas férias de verão.

    De acordo com Faith, apostar nos esforços já conhecidos pela ciência pode ajudar sua família a restabelecer um estilo de vida saudável e permanecer ativo apesar da quarentena.

    Leia também:
    Obesidade gera risco porque corpo trabalha no limite, diz médico sobre COVID-19
    Entenda por que a obesidade é fator de risco para o novo coronavírus

    As dicas de especialistas para reduzir a obesidade infantil

    A forma mais importante pela qual as famílias podem se unir contra comportamentos menos saudáveis durante o isolamento é criar uma cultura de bons hábitos alimentares dentro da família.

    O professor apresentou algumas dicas que podem ser úteis na conversa com os filhos para manter hábitos que evitem a obesidade.

    Tenha alimentos mais saudáveis em casa: É importante limitar a quantidade de junk food e outras opções menos saudáveis dentro de casa para impedir que as crianças comam muitas porcarias.

    É possível indicar uma direção mais positiva para as crianças que gostam de doces ou salgados.

    Se seus filhos adoram molho pronto para salada, combine-o com alimentos mais nutritivos, como brócolis ou cenoura, para torná-los mais atraentes, aconselhou Alexis Wood, professora assistente de nutrição do Baylor College of Medicine e autora de uma nova declaração de hábitos alimentares das crianças, emitida pela American Heart Association.

    Seja um modelo: Parafraseando Gandhi, você pode ser a mudança que quer ver em sua família, começando com mais caminhadas e atividades físicas. “As crianças têm maior probabilidade de acompanhar” se virem você comendo alimentos saudáveis, opinou Faith.

    Limite o tempo da tela: Com os trabalhos escolares, as atividades e o tempo social regular mudando para os bate-papos por vídeo, o tempo passado diante das telas está aumentando. Especialistas recomendam que os pais tentem limitar o tempo que as crianças passam olhando para telefones, computadores e telas de TV. Mas lembre-se de que nem todo o tempo da tela tem o mesmo valor, especialmente se as crianças precisam delas para um escape social vital.

    O Royal College of Pediatrics and Health do Reino Unido divulgou diretrizes no ano passado, recomendando que os pais construam atividades familiares durante a comunicação digital, a fim de obter uma compreensão mais firme desse fenômeno.

    Faça as refeições em família: Sentar-se à mesa para comer sempre foi um forte reforço da dinâmica familiar, de acordo com especialistas em desenvolvimento infantil. Com mais pessoas trabalhando em casa durante a pandemia, isso pode ser mais fácil de fazer do que antes.

    Tenha uma rotina, mas seja flexível: “Uma palavra-chave é estrutura e reconhecer o quanto é difícil mantê-la”, afirmou o professor Faith. “Temos que ter empatia com o que as famílias estão passando”. No entanto, mesmo sabendo que as rotinas são vitais, dentro ou fora da quarentena, é hora de ser um pouco mais flexível e humano com sua programação.

    “Sabemos que as crianças hoje estão mais ansiosas do que nunca, e pelo menos uma das razões para isso é que não têm tempo ocioso suficiente”, explicou Elissa Strauss, colaboradora da CNN em temas de criação de filhos.

    “Sou a favor de manter uma rotina durante esse período, tanto para a sanidade das crianças quanto para a dos pais, mas acho que devemos equilibrar isso com algumas boas brincadeiras e bagunças à moda antiga”, acrescentou.

    Reforço positivo: Quando as crianças conseguem se exercitar ou comem frutas e legumes, não se esqueça de elogiá-las por isso. Segundo a professora de nutrição Alexis Wood, se você está comendo uma bela salada ou fazendo pilates em casa, garanta que as crianças o vejam “gostando muito” do que está fazendo.

    Monitoramento pessoal: Você só pode gerenciar aquilo que consegue medir. “Mantenha um pequeno diário sobre o que está dando certo”, aconselhou Faith. Continue preenchendo o diário religiosamente.

    Mexa-se apesar da pandemia

    Algumas das atividades habituais de férias podem ser menos agitadas neste ano ou terão horários limitados devido à pandemia.

    A CNN preparou uma lista de 100 coisas para fazer com os mais jovens (em inglês) no lugar das tarefas tradicionais. Algumas das ideias de nossa equipe sobre como se mexer incluem uma luta com bexigas cheias de água, plantar uma horta ou organizar um dia de jogos ao ar livre.

    Para motivar as crianças, combine as atividades mais saudáveis com aquelas de que mais gostam.
    “Sempre que você misturar algo de que as crianças gostam muito com algo de que não estão a fim, você terá um resultado positivo”, afirmou Nikki Murray, diretora de acampamento da YMCA em Youngstown, Ohio.

    Um dos métodos mais usados por Murray é a ioga Cosmic Kids, que torna a prática mais atraente, fundindo-a com temas de Star Wars. Você pode aprender novas posições enquanto explora a história de Rey Skywalker, por exemplo.

    É preciso um pouco de criatividade, mas há muitas maneiras de diminuir o tempo de tela das crianças, mantê-las em movimento e se divertir.

    “Nós criamos caçadas muito simples que qualquer um poderia fazer. Basta pensar em todas as coisas loucas que você tem em sua casa, como as ferramentas na garagem ou alguns objetos na cozinha”, disse Murray. “Só é preciso ser criativo, pedindo, por exemplo, para encontrar alguma coisa verde usada para proteger você na chuva. Um menino pegou um balde vazio debaixo do tanque e o colocou na cabeça, dizendo que era a proteção perfeita para a chuva.”

    A pandemia é uma oportunidade de pesquisa

    De acordo com o professor Faith, os bloqueios globais durante a pandemia criaram uma oportunidade científica única. O nítido contraste no estilo de vida de quase todos criou uma espécie de quase experimento.

    “Precisamos estudar isso de toda maneira que pudermos”, acrescentou.

    Por se tratar de um estudo observacional, observou ele, é difícil estabelecer relações de causa e efeito. Sabemos que os hábitos sedentários estão ligados a rotinas menos saudáveis durante a pandemia, mas ainda não é hora de dizer oficialmente que a quarentena causa obesidade. “Precisamos deixar que a ciência e a pesquisa nos guiem nisso”, ressalvou.

    Em todo caso, muitos dos fundamentos de nossa compreensão moderna da obesidade parecem permanecer úteis. O que quer que esteja acontecendo fora dos muros de nossa casa, ainda temos controle para gerir nossa própria pequena bolha.

    “A obesidade infantil é um assunto de família”, pontuou. “Os pais são realmente agentes críticos de mudança”.

    “Minha esperança é que haja muito mais pesquisas sobre isso, para que possamos orientar os pais não apenas sobre o que fazer em tempos normais, mas também durante a pandemia”, continuou. “Pais e famílias podem aprender muito sobre sua força e resistência.”

    Katia Hetter e David Allan, da CNN, contribuíram para esta reportagem.

    (Texto traduzido, clique aqui e leia o original em inglês).