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    Ingestão de bebida alcoólica durante a gravidez pode causar problemas ao feto

    No quadro Correspondente Médico, Fernando Gomes fala sobre riscos que bebida pode trazer ao desenvolvimento do cérebro de bebês

    Fabrizio Neitzkeda CNN , Em São Paulo

    Na edição desta segunda-feira (6) do quadro Correspondente Médico, no Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes avalia os riscos trazidos pelo consumo de bebidas alcoólicas por mulheres durante a gestação após a divulgação de estudo conduzido pela Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).

    A pesquisa foi feita através de ressonâncias magnéticas em 27 fetos, de 20 a 37 semanas, cujas mães haviam consumido alguma quantidade de álcool durante a gravidez. Os resultados foram comparados com ressonâncias de outros 36 fetos de mães que não consumiram nenhuma bebida alcoólica.

    Fernando Gomes explicou as conclusões do estudo, que indicam uma alteração na morfologia do cérebro do feto em casos de ingestão de álcool. Ao menos três áreas teriam sido afetadas: o hipocampo, que regula o comportamento e a produção da memória; o corpo caloso, que faz a conexão entre os hemisférios esquerdo e direito, e a região em volta dos ventrículos, onde há uma matriz germinativa que dá origem aos neurônios.

    “Isso prova o que a gente já sabe”, disse Gomes. “O cérebro de um bebê em desenvolvimento que acaba sendo bombardeado com essa substância pode sofrer alterações que vão implicar com o desenvolvimento dessa mente, do comportamento e da inteligência dessa criança.”

    “Imagina que você pega uma plantinha em desenvolvimento e atrapalha o processo de crescimento dela. Ela não vai se tornar uma árvore frondosa”, explicou.

    Segundo o médico, os efeitos podem gerar distúrbios de aprendizado, com um atraso do desenvolvimento neuropsicomotor – o processo em que a criança desenvolve habilidades físicas – além de atrapalhar no processo pedagógico, com maior dificuldade em relação a outras crianças. Em casos muito graves, há a possibilidade de retardo mental permanente.

    “São danos a longo prazo. Estes locais são muito importantes e, quando falamos desse ponto de impacto onde tem neurônio brotando e sendo comprometido, podemos imaginar que, lá na frente, este cérebro sairá em desvantagem. O cérebro normal tem cerca de 86 bilhões de neurônio, cada um faz cerca de 10 mil sinapses. É muita coisa. Mas é muita coisa que faz falta se você não tem principalmente no processo de desenvolvimento”, disse.

    O neurocirurgião avaliou que é impossível estabelecer uma “quantidade segura” para o consumo de álcool durante a gravidez, mas que, em caso eventual, isso não necessariamente representa dano à saúde do feto.

    “É lógico que o bom-senso é o que impera. Não é porque a pessoa tomou um drink um dia que isso trará um dano irreversível. Sabemos que o efeito prolongado da exposição da substância acaba passando para o bebê e interferindo no processo de desenvolvimento.”

    “Não é uma opinião de um especialista. Quando falamos de ciência e comprovação de alteração na morfologia do órgão, precisamos, muitas vezes, ficar quieto e prestar atenção no que a ciência está mostrando”, concluiu.

    Gomes também comparou os efeitos do álcool com o tabaco. De acordo com o médico, os impactos causados pelas duas substâncias são diferentes, mas igualmente prejudiciais.

    “O fumo atrapalha na chegada do sangue oxigenado para dentro do tecido cerebral e impõe um desenvolvimento em uma situação de desvantagem. O tabaco pode impactar no desenvolvimento do cérebro, não exatamente nas mesmas regiões. A gente sabe que o fumo acaba tendo um impacto muito mais generalizado, talvez não tão especializada em termos de locais, porque o álcool tem uma questão específica com neurotransmissores inibitórios.”

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