Fiocruz recomenda manter intervalo de 12 semanas entre doses da AstraZeneca
No entanto, epidemiologista da fundação reconhece dificuldade de recomendação nacional com diferentes cenários internos de vacinação
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou uma recomendação indicando que estados e municípios mantenham o intervalo de 12 semanas de aplicação da segunda dose da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19. A decisão acontece depois de estados e municípios decidirem antecipar a aplicação da segunda dose, impulsionados por um estudo divulgado pela revista científica “Nature”, segundo o qual a proteção completa é necessária para que a vacina seja eficaz contra a variante Delta, originária da Índia.
Já presente no Brasil, a Delta é uma das quatro linhagens consideradas de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e é associada à maior transmissibilidade do novo coronavírus. Segundo a Fiocruz, a manutenção do regime ocorre porque a fundação e o laboratório anglo-sueco AstraZeneca consideram “dados que demonstram uma proteção significativa já com a primeira dose e a produção de uma resposta imunológica ainda mais robusta quando aplicado o intervalo maior”.
O comunicado destaca ainda que o regime de 12 semanas “permite ainda acelerar a campanha de vacinação, garantindo a proteção de um número maior de pessoas”. A Fiocruz destacou ainda que uma pesquisa da agência de saúde do governo do Reino Unido, publicada em junho, mostrou que o imunizante apresentou 71% de efetividade após a primeira dose e 92% depois da segunda, para hospitalizações e casos graves.
A Fiocruz destaca ainda um estudo canadense que apontou efetividade de 88% contra hospitalização ou morte, em caso de aplicação de uma dose.
Epidemiologista, professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda destaca a dificuldade existente para se implementar uma orientação nacional em um país no qual estados e municípios apresentam níveis muito diferentes de vacinação.
“A bula indica um intervalo de quatro a 12 semanas. As realidades são muito locais. Se você avança na campanha por faixa etária e consegue vacinar um grande percentual até 18 anos, os municípios adiantam. Sabemos que a vacinação está muito desproporcional pelo país. O Reino Unido reduziu para oito semanas para pessoas até 50 anos. Alguns recomendam e não vejo contradição”, afirma.
Para Croda, o que não deve ser feito é antecipação do prazo por parte de municípios ou estados que estejam com a vacinação em fases iniciais. “Seria um absurdo adiantar nesses casos, sem ter coberto pelo menos a imunização da população mais idosa, que tem maior risco de internação e morte em caso de contágio pela doença”, conclui o pesquisador.