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    Fiocruz e Sabin estudam doses fracionadas de reforço das vacinas para Covid-19

    Pesquisadores vão avaliar se doses de reforço fracionadas podem oferecer a mesma resposta imunológica

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Pesquisadores vão avaliar se doses de reforço fracionadas das vacinas contra a Covid-19 podem oferecer a mesma resposta imunológica e menos reações adversas. O estudo é realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Mato Grosso do Sul) e pelo Instituto Sabin de Vacinas.

    A oferta de doses de reforço fracionadas possibilitaria multiplicar a oferta de vacinas, principalmente nos países mais pobres, além de orientar novas estratégias de imunização. Segundo o Instituto Sabin, apenas 17,4% da população dos países de baixa renda foram vacinados contra a Covid-19, enquanto nos países alta renda esse índice chega a 72%.

    A pesquisa será conduzida no Brasil e no Paquistão, com a participação de 1.440 voluntários em cada país, que vão receber as vacinas Pfizer (dose cheia, metade ou um terço), AstraZeneca (dose cheia ou meia) e Coronavac (dose cheia), sendo acompanhadas por seis meses.

    Para o estudo, o instituto recebeu US$ 6,3 milhões (R$ 32,7 milhões) da Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias (Cepi, a sigla em inglês), uma organização internacional que tem como objetivo financiar projetos de pesquisa para acelerar a produção de imunizantes.

    “No desenvolvimento das vacinas, a dose é determinada logo nos estágios iniciais, equilibrando-se a eficácia com os possíveis efeitos colaterais, até chegar a uma dose eficaz com mínimo possível de efeitos colaterais”, diz Denise Garrett, vice-presidente de Epidemiologia Aplicada do Instituto Sabin de Vacinas, em comunicado.

    “Com a pandemia, houve uma pressão muito grande por um imunizante que fosse eficaz. Estávamos numa situação em que não poderíamos correr o risco de falhar. Mas estamos num momento agora em que temos a oportunidade de otimizar essa dose”, completa.

    Voluntários

    A escolha do Brasil e do Paquistão considerou as vacinas aplicadas nos dois países, a disponibilidade de pacientes que ainda não tomaram a dose de reforço e parcerias no campo científico.

    Em Campo Grande, o estudo vai ser conduzido em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Secretaria Municipal de Saúde.

    O pesquisador da Fiocruz Mato Grosso Sul Julio Croda explica que, com o auxílio de agentes comunitários, será feita uma busca ativa de pessoas que ainda não tomaram a dose de reforço, especialmente nas áreas da cidade com menor cobertura vacinal.

    Com o objetivo de recrutar voluntários, as visitas domiciliares poderão ocorrer no final do dia ou nos finais de semana. “Se a gente consegue abordá-los no domicílio, pode conversar, explicar do que se trata o projeto, os benefícios da vacina”, disse o pesquisador.

    Serão quatro visitas: de inclusão (em que a pessoa recebe todas as informações, assina o termo de adesão e recebe o reforço vacinal), em 28 dias, três meses e seis meses, sempre com a coleta de sangue.

    Os voluntários diagnosticados com Covid-19 ou que apresentarem reação nesse período receberão atendimento médico. “É um estudo ‘cego’, em que a maioria da equipe não saberá qual a vacina aplicada. E haverá uma unidade móvel no bairro com médico, enfermeiro e farmacêutica que vai fazer a manipulação da vacina, para estar próximo do paciente se ele tiver qualquer necessidade”, disse Croda.

    Antecedentes com pólio e febre amarela

    Estudos para fracionamento de doses já foram realizados anteriormente. No passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomendou o fracionamento das vacinas para pólio e febre amarela, diante da escassez de imunizantes.

    A vice-presidente do Instituto Sabin para Vacinas destaca que uma dose fracionada de reforço pode ter menos efeitos colaterais e, por consequência, aumentar a aceitação da imunização.

    “Com as novas variantes, que trazem a necessidade de aplicar mais doses de reforço, é muito importante que se use a menor dose possível. Se a dose é menor, mais tolerância haverá e possivelmente mais reforços poderemos aplicar”, explicou.

    De acordo com Denise, caso o estudo mostre que doses fracionadas oferecem proteção semelhante à dose cheia, a quantidade de vacina disponível irá aumentar, levando a novas estratégias de vacinação e de alocação de imunizantes.

    “Esse é um projeto curto, de um ano no máximo, entre recrutamento e acompanhamento, justamente para poder gerar uma resposta rápida. E deve beneficiar mais outros países [que têm oferta menor de vacinas] do que o Brasil, especialmente os países mais pobres, no sentido de entender se a dose fracionada é viável”, afirmou Croda.

    Outro projeto

    A cidade de Viana, no Espírito Santo, sedia um estudo internacional que avalia a capacidade de imunização com meia dose da vacina da AstraZeneca.

    De acordo com a prefeitura, os testes em voluntários apontaram que a meia dose conseguiu induzir a produção de anticorpos neutralizantes em 99,8% dos participantes, resultado semelhante ao alcançado no esquema com dose padrão.

    O estudo já foi apresentado à OMS, à Fiocruz, à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), à Câmara Técnica de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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