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    Fiocruz capacita sete países para o diagnóstico da varíola dos macacos

    OMS recomenda que os países empenhem esforços para identificar todos os casos e contatos para controlar os surtos da doença

    Fiocruz realiza capacitação para o diagnóstico da varíola dos macacos
    Fiocruz realiza capacitação para o diagnóstico da varíola dos macacos André Az/Fiocruz

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    O aparecimento repentino e inesperado da varíola dos macacos em vários países não endêmicos sugere que pode ter havido transmissão não detectada por algum tempo, de acordo com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom. Mais de mil casos confirmados da doença foram relatados à OMS em 29 países que não são considerados endêmicos para o vírus. Até o momento, nenhuma morte foi registrada nesses países.

    “O risco da varíola dos macacos se estabelecer em países não endêmicos é real. A OMS está particularmente preocupada com os riscos desse vírus para grupos vulneráveis, incluindo crianças e mulheres grávidas”, disse Adhanom à imprensa na quarta-feira (8).

    A OMS alerta que o cenário pode ser evitado, desde que os países afetados empenhem esforços para identificar todos os casos e contatos para controlar os surtos.

    Com o objetivo de ampliar a capacidade de testagem, profissionais da saúde de sete países da América Latina participam da primeira capacitação para diagnóstico laboratorial do vírus da varíola dos macacos, promovida pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

    A iniciativa acontece nesta quinta-feira (9) e sexta-feira (10), no Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro.

    Com participação de técnicos de institutos nacionais de saúde da Bolívia, Equador, Colômbia, Peru, Paraguai, Uruguai e Venezuela, o treinamento vai discutir os procedimentos de detecção e diagnóstico do vírus no contexto de preparação e resposta a uma possível emergência sanitária.

    Os profissionais participarão de treinamento prático para realização do diagnóstico molecular, baseado na identificação do material genético do vírus, por meio da metodologia de PCR em tempo real (protocolo padrão adotado pela OMS). Os participantes também receberão o material necessário para implementação da metodologia em seus países.

    Aumento dos casos

    A atividade tem como objetivo preparar os países para a possível introdução do vírus que foi identificado pela primeira vez no Brasil na quarta-feira (8), na cidade de São Paulo.

    Diante do aumento de casos, a Opas recomenda que os países realizem a identificação precoce dos casos suspeitos, garantindo a coleta de amostras e a implementação de protocolos para detecção molecular em laboratórios nacionais de referência. Todos os casos suspeitos, considerando a avaliação clínica e epidemiológica, devem ser testados, segundo a Opas.

    Na sexta-feira, os profissionais realizarão atividades práticas de ensaio laboratorial e discutirão os resultados do treinamento.

    Ao final do treinamento, os países serão capazes de realizar a detecção em seus países e de identificar as linhagens virais (África Central e Ocidental) – ações consideradas fundamentais para subsidiar a resposta local em saúde pública.

    Sobre a varíola dos macacos

    A doença é causada por um vírus que pertence ao gênero ortopoxvírus da família Poxviridae. Existem dois grupos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central).

    O vírus da varíola dos macacos é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.

    Várias espécies animais foram identificadas como suscetíveis ao vírus da varíola dos macacos, incluindo esquilos, ratos, arganazes, primatas não humanos e outras espécies. De acordo com a OMS, são necessários mais estudos para identificar os reservatórios exatos e como a circulação do vírus é mantida na natureza. A ingestão de carne e outros produtos de origem animal mal cozidas de animais infectados é um possível fator de risco.

    As infecções humanas com o tipo de vírus da África Ocidental parecem causar doenças menos graves em comparação com o grupo viral da Bacia do Congo, com uma taxa de mortalidade de 3,6% em comparação com 10,6% para o da Bacia do Congo.

    Transmissão por contato sexual

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que alguns desses casos estão sendo identificados em pacientes gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens. Pessoas trans também podem estar mais vulneráveis no contexto do atual surto, segundo a OMS.

    A doença causada por um vírus pode ser transmitida pelo contato com a pele durante o sexo, incluindo beijos, toques, sexo oral e com penetração com alguém que tenha sintomas. Como medidas de proteção, a OMS recomenda evitar contato próximo com qualquer pessoa que tenha sintomas.

    Os sintomas da varíola dos macacos incluem erupção cutânea com bolhas no rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais, febre, linfonodos inchados, dores de cabeça e musculares e falta de energia.

    As medidas de prevenção incluem a busca por atendimento médico diante dos sintomas, seguido de isolamento em casa. Deve-se evitar o contato com a pele, rosto e contato sexual com qualquer pessoa que tenha sintomas. As mãos, objetos e superfícies que são tocados regularmente devem ser higienizados. A OMS recomenda, ainda, o uso de máscara se estiver em contato próximo com alguém com sintomas.

    “Com base nos relatos de casos até o momento, esse surto está sendo transmitido por meio de redes sociais conectadas principalmente por meio de atividade sexual, envolvendo principalmente homens que fazem sexo com homens. Muitos – mas não todos os casos – relatam parceiros sexuais casuais ou múltiplos, às vezes associados a grandes eventos ou festas”, disse Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS para a Europa.

    O diretor da OMS destacou que o vírus pode afetar qualquer pessoa, independente de orientação ou prática sexual. Em comunicado a OMS também afirmou “Estigmatizar as pessoas por causa de uma doença nunca é bom. Qualquer pessoa pode contrair ou transmitir a varíola dos macacos, independentemente de sua sexualidade”.

    “Devemos lembrar, no entanto, como vimos em surtos anteriores, que a varíola dos macacos é causada por um vírus que pode infectar qualquer pessoa e não está intrinsecamente associado a nenhum grupo específico de pessoas. As comunidades gays e bissexuais têm alta conscientização e comportamento rápido de busca de saúde quando se trata de sua saúde sexual e de suas comunidades. De fato, devemos aplaudi-los por sua apresentação precoce aos serviços de saúde”, reforçou.

    Segundo Kluge, a transmissão rápida e amplificada da varíola dos macacos também ocorre no contexto da recente flexibilização das restrições impostas como prevenção à Covid-19, como viagens e eventos internacionais.