Estudo aponta queda de vacinação de bebês e crianças nos últimos dois anos
Em 2019, houve a aplicação de apenas 102.469.969 doses de vacinas, o que representa queda de 13,6%
Um estudo financiado pelo Programa de Pesquisa Intramural da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado em Junho de 2020, no International Journal of Infectious Diseases, apontou expressiva queda na imunização brasileira, especialmente em bebês e crianças.
A pesquisa coletou dados do Departamento de Informática do Ministério da Saúde do Brasil (DATASUS) que incluem informações acerca da cobertura vacinal em todas as faixas etárias e regiões do país, entre os anos de 1994 e 2019. Além disso, foram colhidos recortes específicos para vacinas do banco de dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
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Parâmetro geral em números absolutos
De acordo com o levantamento, o maior número de pessoas imunizadas no período recente foi em 2014 (125.357.642 doses aplicadas), em 2001 (123.428.150) e em 2017 (118.590.603).
Nos últimos dois anos avaliados, houve expressiva diminuição da cobertura vacinal no país. Em 2019, houve a aplicação de apenas 102.469.969 doses de vacinas, o que representa queda de 13,6%.
Mesmo em queda, o estudo apontou que o país conseguiu disponibilizar maior variedade de vacinas oferecidas à população. Em 1994, a Saúde brasileira contava com 11 diferentes vacinas e pulou para 36 vacinas disponíveis no período atual (2019), segundo o PNI.
Diferentes regiões do país
A pesquisa mostrou que há relação direta entre a disponibilização das vacinas em todo o país e a queda da imunização. Nos últimos dois anos, apenas a região Sul apresentou ligeiro aumentou de sua cobertura vacinal.
As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste mostraram que, mesmo que a variedade de vacinas tenha aumentado em todo o país, menos pessoas foram vacinadas. O primeiro território foi o mais impactante: o número de vacinas aplicadas na região Nordeste de 2017 para 2018 caiu 1.162.122, representando -4,05%. Já comparando 2018 com 2019, a queda foi de 1.344.017, ou 4,68%.
As vacinas
Sete vacinas merecem especial atenção por terem apresentado maior redução de aplicação das doses, comparando os anos de 2018 e 2019 e as regiões do país. Curiosamente, são aquelas dedicadas a imunização de bebês e crianças:
– A vacina contra a paralisia infantil (poliomielite), no Sul;
– Vacina Tríplice Acelular (coqueluche, difteria e tétano); HIB (contra doença Haemophilus Influenzae do tipo B) e Pneumocócica 13-valente (VPC13), no Sudeste;
– Tetraviral MMR (sarampo, rubéola, caxumba e varicela) e sarampo/rubéola, no Nordeste
Explicação da queda
Um dos pontos levantados para a expressiva queda no número da cobertura vacinal no país, segundo o estudo, se relaciona com o aumento de grupos anti-vacinação em todo o mundo.
Os pesquisadores demonstraram bastante preocupação com a imunização de crianças, grupo de maior suscetibilidade a novas infecções. No grupo com idade inferior a 10 anos, em específico, é apontado que a cobertura vacinal caiu entre 10 à 20% nos últimos anos, associado à diminuição do financiamento do SUS (Sistema Único de Saúde) e ao aumento da desconfiança e hesitação de pais com as vacinas.
Outro aspecto sugere que pode conflitos políticos, colapsos socioeconômico e dificuldade de vacinar comunidades tradicionais, como quilombos e indígenas, podem ter apresentado certo impacto nos dados. “Tais aspectos combinados com o ativismo do grupo anti-vacinação nas mídias sociais e a desconfiança na ciência médica expuseram a complexidade de contestar a redução na cobertura da vacinação”
No entanto, é deixado claro que para correlacionar os grupos anti-vacinas com a baixa cobertura vacinal seria necessário um conjunto de pesquisas adicionais, com coleta de dados primários, por exemplo, dos movimentos anti-vacina.
A Fiocruz ainda coloca que o pico apresentado em 2017 foi motivado, principalmente, por conta de um surto de febre amarela entre o final de 2016 e início de 2017 registrado, principalmente, na região Sudeste do Brasil. “As pessoas tendem a evitar a vacinação quando consideram desnecessária devido à falta de percepção de uma ameaça de doença.”
Os pesquisadores alertam para que a comunidade científica e agentes de Saúde elaborem estratégias mais efetivas que evitem a hesitação de pais e responsáveis, além de melhorar a cobertura e a adoção de medidas preventivas para que doenças já erradicadas não retornem.