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    Estudo: Alta carga de coronavírus nos pulmões tem relação com mortes por Covid

    Carga viral elevada pode ter causado mais mortes por Covid no mundo do que a pneumonia bacteriana ou reação imunológica à doença

    Camila Neumamda CNN , São Paulo

    Um acúmulo de coronavírus nos pulmões provavelmente está por trás das altas taxas de mortalidade vistas na pandemia, segundo um novo estudo publicado nesta terça-feira (31) na revista Nature Microbiology. Os resultados contrastam com as suspeitas anteriores de que infecções simultâneas, como pneumonia bacteriana ou reação exagerada do sistema de defesa imunológica do corpo, desempenharam papéis importantes no aumento do risco de morte, dizem os pesquisadores.

    O novo estudo, liderado por cientistas da NYU Grossman School of Medicine, mostrou que pessoas que morreram de Covid-19 tinham em média 10 vezes a quantidade de vírus, ou carga viral, em suas vias aéreas inferiores do que pacientes graves que sobreviveram à doença.

    Enquanto isso, os pesquisadores não encontraram nenhuma evidência que implicasse uma infecção bacteriana secundária como a causa das mortes, embora tenham alertado que isso pode ser devido ao curso frequente de antibióticos administrados a pacientes que ficaram gravemente doentes.

    “Nossas descobertas sugerem que a falha do corpo em lidar com o grande número de vírus que infectam os pulmões é em grande parte responsável pelas mortes por Covid-19 na pandemia”, disse o principal autor do estudo, Imran Sulaiman, professor adjunto em Departamento de Medicina da universidade.

    Descobertas

    As diretrizes atuais dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, não encorajam o uso de antivirais como o remdesivir para pacientes com Covid grave sob ventilação mecânica, observa Sulaiman. Mas os resultados do estudo sugerem que esses medicamentos ainda podem ser uma ferramenta valiosa no tratamento desses pacientes.

    Apesar das preocupações anteriores de que o vírus pode levar o sistema imunológico a atacar o tecido pulmonar do próprio corpo e levar a níveis perigosos de inflamação, os pesquisadores não encontraram evidências de que este foi uma das principais causas para as mortes por Covid-19 no grupo estudado. Na verdade, Sulaiman observa que a força da resposta imune parecia proporcional à quantidade de vírus nos pulmões.

    Notavelmente, os especialistas atribuem a alta mortalidade observada em outras pandemias virais, como a gripe espanhola em 1918 e a gripe suína em 2009, a uma infecção bacteriana secundária. No entanto, não ficou claro se um problema semelhante afetava as pessoas com Covid-19, disseram.

    Possível novo tratamento

    O novo estudo foi projetado para esclarecer o papel das infecções secundárias, carga viral e populações de células imunes na mortalidade por Covid-19, de acordo com Sulaiman. E, segundo ele, o estudo fornece um levantamento mais detalhado do ambiente das vias aéreas inferiores em pacientes com coronavírus.

    Para a investigação, os pesquisadores coletaram amostras de bactérias e fungos dos pulmões de 589 homens e mulheres que foram hospitalizados nas instalações da NYU Langone, em Manhattan e em Long Island. Todos com o uso de ventilação mecânica.

    Para um subconjunto de 142 pacientes que também se submeteram à broncoscopia para limpar suas vias aéreas, os pesquisadores analisaram a quantidade de vírus nas vias aéreas inferiores. Os autores do estudo também pesquisaram o tipo de células e compostos imunológicos localizados na região.

    Entre as descobertas, o estudo revelou que aqueles que morreram tiveram em média 50% menos produção de um tipo de agente imunológico que visa neutralizar o coronavírus em comparação com os pacientes Covid-19 que sobreviveram à doença.

    Essas proteínas personalizadas são parte do sistema imunológico adaptativo do corpo, um subconjunto de células e substâncias químicas que “se lembram” de invadir vírus recém-encontrados, deixando o corpo mais bem preparado para futuras exposições.

    “Esses resultados sugerem que um problema com o sistema imunológico adaptativo está impedindo alguns pacientes de combater eficazmente o coronavírus”, disse o autor sênior do estudo, Leopoldo Segal. “Se pudermos identificar a origem desse problema, poderemos encontrar um tratamento eficaz que funcione reforçando as próprias defesas do corpo”, disse Segal, professor associado do Departamento de Medicina da NYU Langone.

    Ele adverte que os pesquisadores estudaram apenas pacientes com coronavírus que sobreviveram às duas primeiras semanas de hospitalização. É possível, diz ele, que infecções bacterianas ou reações autoimunes possam desempenhar um papel maior na mortalidade mais rápido por Covid-19.

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