“Estamos próximos do pico do coronavírus em São Paulo”, diz presidente do Incor
Médico faz uma ressalva dizendo que pacientes cardíacos devem procurar os hospitais em casos de sintomas e não podem abandonar seus tratamentos
O médico cardiologista, presidente do Incor de São Paulo e diretor de cardiologia do Sírio Libanês, Roberto Kalil Filho, conversou com a CNN neste sábado (25) em razão do rápido aumento do número de casos de infectados pela COVID-19. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil registra mais de 4 mil mortes em decorrência do coronavírus.
Kalil avalia que já era esperado um aumento no número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave, consequência principal do vírus, já que, segundo o médico, ainda não chegamos ao pico da doença. “Devemos atingir na próxima semana”, acredita.
O Ministério Público do estado criou um comitê de crise para reunir ideias que ajudem ao combate da pandemia. “Isso vai ter um pico e depois um platô, não vai ser eterno. Estamos próximos do pico em São Paulo. (…) Depois, automaticamente, você atinge o platô, e as coisas vão acalmando”.
De acordo com o médico, o isolamento social decretado pelo estado de São Paulo achatou, sim, a curva, ainda que os casos estejam crescendo. “Os casos mais graves necessitam de hospitais com UTI”, reforça o médico. Como a doença começou no Brasil pela classe alta sociedade, a rede privada de hospitais foi atingida em um primeiro momento, mas hoje o hospital Sírio Libanês, onde ele trabalha, já encara uma normalização.
Sobre o Incor, que pertence ao complexo do Hospital das Clínicas, o médico fala que a cada semana eles estão aumentando o leitos de UTI. E conta que foi organizado um hospital só de coronavírus. “O Incor, onde eu dirijo, que faz parte do complexo do Hospital das Clínicas, isolou o prédio central com 900 leitos e mais de 200 leitos de UTIs para atender pacientes do SUS com a COVID-19”. Além disso, o chefe de pneumologia do Instituto, o médico Carlos Carvalho, está preparando profissionais do Incor que já estão atuando in loco no HC. “Inclusive, já começamos uma UTI de cardiologia dentro do instituto central para atender casos de coronavírus com problema cardíaco”.
No entanto, o médico explica que o Incor não está atendendo casos específicos da doença, uma vez que todo os pacientes que chegam com a suspeita, são encaminhados para o prédio do Hospital das Clínicas, que fica logo à frente.
Relaxamento do isolamento social
Roberto Kalil Filho comenta que o afrouxamento do isolamento social, no estado de São Paulo, será baseado no número de casos registrados em cada cidade, e no número de leitos disponíveis. “As cidades que os leitos de UTI estão completamente lotados, e o número de casos vêm aumentando, vai ter que tomar muito mais cuidado para não haver esse relaxamento”, defende.
Sobre a capital paulista, o cardiologista diz que o governo e toda gestão de saúde estão unidos para evitar um colapso na rede pública, mas sem dúvida, este cenário não deve ser descartado. “Os casos estão aumentando, a mortalidade está aumentando e o número de casos mais graves está crescendo. Mas o serviço público, os hospitais de campanha, com vários leitos, tanto na capital, quanto no estado, além do comitê de crise e a central do governo estão atentos para tudo isso. Acompanhando o dia-a-dia”.
Kalil faz um alerta para o aumento de número de mortes súbitas que estão ocorrendo em casa porque pacientes cardíacos estão deixando de procurar o serviço médico, com receio de serem infectadas pela COVID-19. “O pronto socorro do Incor diminuiu o atendimento à incidência de infartos em quase 50%. Onde estão indo os infartos? As pessoas estão morrendo em casa”. O médico comenta que no mundo inteiro há essa preocupação. E ressalva: “Isolamento é uma coisa, deixar de ir a um hospital quando está passando mal é algo que não deve acontecer. As pessoas estão abandonando os tratamentos cardiológicos, não estão indo em consultas de rotina, passam mal em casa e não vão ao hospital”.
Pesquisas de novos antivirais
A vacina definitiva para solucionar a doença, possivelmente, só será descoberta em 2021, é o que acredita não só Kalil, mas vários cientistas que estão debruçados na busca pela fórmula.
“Nós ainda não temos um antiviral. São centenas de protocolos no mundo tentando descobrir e formular uma medicação ou vários antivirais. O que nós temos são tratamentos de suporte. Pacientes mais graves, com pneumonia tem vários tipos de tratamento. Não dá para saber qual é o melhor, qual é o pior, mas existem antibióticos, corticóides, anticoagulantes, oxigenoterapias, dependendo do caso, a intubação, e a hidroxicloroquina que faz parte desta gama”.