‘Estamos em operação de guerra e temos falta de tudo’, diz médica sobre COVID-19
Nesta semana, a especialista participou de uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro para discutir medidas de contenção ao novo coronavírus
A médica cardiologista Ludhmila Hajjar, diretora de Ciência, Tecnologia e Inovações da Sociedade Brasileira de Cardiologia, disse à CNN, neste domingo (5), que o coronavírus coloca o sistema de saúde brasileiro em uma operação de guerra.
“Nós temos falta de tudo. São anos e anos que a saúde vem sofrendo baixas e falta de investimento e estrutura. E agora, infelizmente, essa conta bateu na nossa porta”, afirma ela.
Nesta semana, a médica participou de uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para discutir medidas de contenção ao novo coronavírus e a questão do número de leitos de UTI para atender aos pacientes afetados pela COVID-19. “O Brasil tem cerca de 33 mil leitos de UTI, mas em uma distribuição muito desigual, pois muitos municípios nem têm”, avalia ela, que diz que a demanda para atender de forma adequada vai além.
“Não bastar ter o leito de UTI, nós temos que ter também capacitação humana e estrutura”, disse. “Uma grande discussão recente é sobre o número de respiradores, mas não é só isso. Nós precisaremos de muito mais do que respirador. Precisaremos de uma equipe devidamente protegida, antibióticos, recursos, fisioterapeutas, enfermeiros e médicos.”
Com esse cenário, a médica e pesquisadora, que está atuando ao lado da Fiocruz, afirma: “Nós estamos em uma operação de guerra. Por isso, quando nós recomendamos à população que fique em casa, é para dar tempo que o nosso sistema de saúde se estruture, porque, se nós tivermos seis meses para nos estruturar, a falta de leitos será menor”, disse.
“Mas se essa doença eclode e tem um pico, como vem mostrando nos últimos dias, se nós tivermos 1% da população infectada (em torno de 210 mil habitantes) em um mês, 95% das nossas UTIs estão lotadas. Por isso que agora essa guerra é da sociedade”, acrescentou.
A médica ainda ressaltou que é necessário usar a experiência prévia de China, Itália e outros países que tiveram de começar a luta contra a COVID-19. Com isso, ela diz que a saúde dos profissionais também deve ser preservada. “Eu sempre falo que temos que cuidar dos profissionais de saúde, porque senão quem cuidará de nós?”, questiona.
A especialista avalia que “só uma sociedade unida consegue minimizar” o impacto social causado pela doença. “Nós ainda temos um tempo para nos preparar. Por isso que a gente vem reforçando para que todas as pessoas falem uma única linguagem e cantem um único hino, porque agora é guerra pela vida”, concluiu.