Especialistas tiram dúvidas sobre vacinação de adolescentes contra a Covid-19
São Luís foi a primeira capital a começar a vacinar adolescentes, no dia 13 de julho. Outros calendários estaduais e municipais preveem imunização desse grupo
Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, estados e municípios planejam a imunização de adolescentes de 12 a 17 anos. São Luís, no Maranhão, foi a primeira capital a começar a vacinar esse público. Na terça-feira (13), teve início a vacinação dos jovens de 17 anos sem comorbidades. Na quarta-feira (14), foi a vez dos jovens de 16 anos.
O Governo de São Paulo anunciou que a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos terá início no dia 23 de agosto. Outros estados e municípios também planejam ou deram início à imunização deste grupo.
Até o momento, a Pfizer é a única vacina contra a Covid-19 autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicação em crianças e adolescentes acima de 12 anos no Brasil. Segundo a Anvisa, o uso foi aprovado após análise dos estudos desenvolvidos pelo laboratório que indicam segurança e eficácia para esse grupo.
Especialistas consultados pela CNN explicam que o imunizante da Pfizer é o único que concluiu a fase de estudos com o público entre 12 e 17 anos e que outras vacinas estão em testes no mundo.
Entenda os riscos de reações adversas
Segundo a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – Regional do Espírito Santo, Ana Paula Burian, o risco de reações adversas à vacinação por adolescentes é semelhante ao de adultos. Os efeitos mais comuns são sensibilidade, dor e inchaço no local da aplicação, dor no corpo e febre baixa. Algumas pessoas também podem apresentar fadiga e calafrios. Os sintomas podem aparecer logo após a aplicação, ou entre 24 e 48 horas, e cessam em poucos dias.
“Pensando na vacina da Pfizer, o que vemos de reação é dor no local da aplicação, inchaço, febre e dor no corpo, o mesmo que vemos de maneira geral em todas as vacinas”, explica.
No dia 9 de julho, a Anvisa fez um alerta sobre casos raros de duas condições clínicas relacionadas à vacina da Pfizer identificados nos Estados Unidos: miocardite, inflamação do músculo cardíaco, e pericardite, inflamação do tecido que envolve o coração.
De acordo com a Anvisa, até o momento não há relato das complicações no Brasil, e o risco de ocorrência é baixo. A agência reforçou que mantém a recomendação de continuidade da vacinação com o imunizante, dentro das indicações descritas em bula.
De acordo com o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, o organismo dos adolescentes reage positivamente à vacinação contra a Covid-19. “Estudos mostram uma resposta imune mais robusta em adolescentes do que em adultos. O sistema imunológico responde bem às vacinas de forma geral”.
Para o infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), a vacinação dos adolescentes, quando disponível, não deve ser alvo de preocupação entre os pais. “Se as vacinas que forem introduzidas no calendário já tiverem sido estudadas na pediatria, como a vacina da Pfizer, que foi analisada em adolescentes e mostrou segurança, não há motivo para preocupação”, afirmou.
Pesquisadores defendem vacinação com as duas doses antes da ampliação dos públicos
Segundo os pesquisadores, antes de avançar o calendário de imunização para faixas etárias mais jovens, é preciso garantir a vacinação da população com as duas doses das vacinas.
“Antes de ampliar público-alvo para a vacina precisamos garantir o esquema completo do público que está em aberto. Ter um número gigantesco de pessoas com uma dose não gera proteção contra a Covid-19. Precisamos garantir que as pessoas completem o esquema com as duas doses”, reforçou Ana.
A pesquisadora defende que a ampliação da vacinação para o público adolescente seja definida em acordo com o Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A vacinação não é uma análise individual. A vacina para a Covid-19 é uma análise de dados epidemiológicos e de saúde coletiva. Isso tem que ser uma estratégia do PNI e não uma estratégia política”, afirmou.
Segundo Ana, a falta de coordenação na vacinação pode comprometer a proteção coletiva e dividir estratégias públicas para a vacinação. “Não adianta uma cidade ou estado começar a vacinar adolescentes, isso tem que ser um planejamento nacional. Assim, a gente amplia o número de pacientes com uma única dose, não completa o esquema de um grande público, dividindo estratégias públicas de vacinação”, ponderou.
Os pesquisadores ressaltam que a vacinação do público adolescente é importante, mas não é uma prioridade neste momento. “Quem está de fato tendo formas graves ou morrendo de Covid-19, de maneira geral, não é o público adolescente. Obviamente, temos exceções como os adolescentes que têm doenças crônicas com gravidade e baixa imunidade, um grupo que tem maior risco”, afirma Ana.
“As chances de um adolescente ou criança evoluir para formas graves de Covid-19 são muito pequenas, diferentemente do que vemos em outros grupos populacionais, como adultos e pessoas com comorbidades”, complementou Álvaro.
Ana destaca a importância da imunização dos adolescentes de acordo com o calendário de vacinação de rotina desse grupo, que inclui vacinas contra a gripe, HPV (infecção sexualmente transmissível causada pelo papilomavírus humano), meningite, hepatite B, além da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e antitetânica.