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    Entidades alertam para consumo de água imprópria em Gaza; veja doenças associadas

    Segundo informações do Unicef, citando a Autoridade Palestina da Água, a capacidade atual de produção de água é de 5% da produção diária normal

    Palestinos tentam pegar água no centro da Faixa de Gaza
    Palestinos tentam pegar água no centro da Faixa de Gaza Mohammed Fayq Abu Mostafa/Reuters (27.out.2023)

    Renata Souzada CNN

    em São Paulo

    Desde que o Hamas atacou Israel e o premiê Benjamin Netanyahu declarou estar em guerra, diversas organizações chamaram atenção para a situação humanitária na Faixa de Gaza — que desde então convive com bombardeios e incursões militares terrestres israelenses.

    Um dos alertas feitos por diferentes organizações é a questão do acesso à água potável. Segundo informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), citando a Autoridade Palestina da Água (PWA), sigla em inglês), a capacidade atual de produção de água é de 5% da produção diária normal.

    Autoridades israelenses informaram à PWA no domingo (29) que iriam retomar o fornecimento do segundo dos três gasodutos de Israel que abastecem a Faixa de Gaza, de acordo com um comunicado divulgado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

    O primeiro gasoduto foi reativado no último dia 15, pouco mais de uma semana após os ato terroristas praticados pelo Hamas.

    Ainda no domingo (29), o brasileiro Hasan Rabee relatou a dificuldade para conseguir água no território. Segundo ele, no último período foram três dias de falta.

    Com a restrição do acesso, as pessoas estão recorrendo à água imprópria para o consumo, como aquelas advindas de poços agrícolas.

    “A água é um dos veículos mais importantes para carregar algumas doenças, como hepatite, as parasitoses intestinais, as leptospiras, a cólera, entre outras”, explica a infectologista e professora titular da Universidade Federal de Pernambuco Sylvia Lemos.

    De acordo com a médica, a água também “pode ser veículo de algumas doenças causadas por substâncias químicas, como magnésio e cloro”.

    Embora qualquer pessoa esteja suscetível a se infectar, o infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime, ressalta que alguns grupos são mais vulneráveis.

    “As crianças abaixo de cinco anos, principalmente abaixo de dois anos, e os idosos acima de 65 anos, por conta do comprometimento do sistema imunológico. Além de pessoas que já estejam doentes por outros motivos. Nessa crise humanitária tem excesso de pessoas com fraturas, internações por diversos motivos, o que deixa as pessoas ainda mais vulneráveis”, esclarece.

    Confira algumas das doenças associadas à ausência de água potável:

    • Hepatite A

    A hepatite A é uma infecção causada pelo vírus A (HAV) e está diretamente relacionada a alimentos ou água inseguros, baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Os sintomas podem incluir fadiga, mal-estar, febre e dores musculares. Ainda pode haver enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia. Urina escura, pele e olhos amarelados (icterícia) também estão relacionados.

    As manifestações clínicas costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção e duram menos de dois meses.

    • Hepatite E

    Causada pelo vírus E (HEV), a hepatite E costuma estar associada aos sintomas decorrentes da hepatite A.

    Em geral, a fase aguda da doença é curta duração e autolimitada (de 2 a 6 semanas) em adultos jovens. Nas crianças é comum não haver sintomas ou apenas uma doença leve sem icterícia.

    O quadro é especialmente grave para gestantes. Segundo informações do Ministério da Saúde, até 20-25% das mulheres grávidas podem morrer se tiverem hepatite E no terceiro trimestre.

    • Giardíase

    Provocada por um protozoário conhecido como Giardia lamblia, a maior parte dos casos de giardíase são assintomáticos. Nas infecções sintomáticas pode haver diarreia e dor abdominal. Como consequência, pode ocorrer perda de peso e anemia.

    O tratamento é feito utilizando medicamentos.

    • Amebíase

    É causada pelo protozoário Entamoeba hystolytica. Os sintomas da amebíase incluem diarreia fulminante, acompanhada de febre e calafrios. Em formas brandas é caracterizada por desconforto abdominal leve ou moderado, com sangue e/ou muco nas fezes.

    Em casos graves, pode haver abcesso no fígado, nos pulmões ou no cérebro. Quando não diagnosticada a tempo, podem levar a óbito.

    A doença é tratada utilizando os medicamentos adequados.

    • Leptospirose

    A contaminação ocorre quando há contato direto com urina de animais, principalmente ratos, infectados pela bactéria Leptospira.

    Na fase inicial da leptospirose, os sintomas incluem febre, dor de cabeça, dor muscular, falta de apetite, náuseas e vômitos. Os casos que evoluem para a fase tarde podem estar associados à síndrome de Weil, síndrome de hemorragia pulmonar, comprometimento pulmonar, síndrome de angústia respiratória aguda (Sara) e manifestações hemorrágicas (pulmonar, pele, mucosas, órgãos e sistema nervoso central.

    Nos casos graves, o índice de letalidade é de 40%. O tratamento é feito com antibióticos desde o momento da suspeita médica.

    • Cólera

    A cólera é causada pela bactéria Vibrio cholerae e, quando não tratada, pode evoluir para casos graves, incluindo morte.

    Frequentemente, a infecção é assintomática ou causa diarreia leve. Quando grave, pode haver diarreia aquosa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras.

    O tratamento costuma ser feito através da rápida reidratação do paciente, além do uso de antibióticos se houver desidratação grave.

    • Ascaridíase (lombriga)

    É provocada pelo Ascaris lumbricoides, popularmente conhecido como lombriga. Na maioria dos casos, a ascaridíase é assintomática, mas pode estar associada à dor abdominal, diarreia, náuseas e anorexia.

    Sem o tratamento adequado, o verme se mantém transmissível por tempo indeterminado no corpo do paciente.

    • Febre tifoide

    Provocada pela bactéria Salmonella enterica, a febre tifoide pode levar à morte quando não tratada da maneira adequada.

    Os sintomas incluem febre alta, dores de cabeça, mal-estar geral, falta de apetite, retardamento do ritmo cardíaco, aumento do volume do baço, manchas rosadas no tronco, prisão de ventre ou diarreia e tosse seca.

    O tratamento costuma envolver reidratação, repouso e uso de antibióticos.

    *Com informações do Ministério da Saúde